matias

(Zelinux#) #1
MAT1AS AIRES RAMOS DA SILVA DE EÇA

fôlha que cai o atemoriza; o ruído que o vento faz, o
altera; tudo lhe parece uma emboscada; na mesma
sombra de um carvalho, se lhe figura um esquadrão
armado: esta é a diferença que vai de um homem com
vaidade, ao mesmo homem quando está sem ela; na
campanha domina o espírito de vaidade, no bosque
não; por isso o valor sobra na campanha, e no bosque
falta; e com efeito naquela parte adqui-re-se a fama, e
nesta só se salva a vida; naquela consegue-se o
aplauso, nesta só se busca a liberdade do caminho;
naquela há muitos que vejam, que digam, e que
escrevam, nesta não há mais do que troncos mudos;
naquela fazem Côrte os soberanos, nesta só se
alvergam foragidos; naquela todos se mostram, nesta
todos se escondem; aquela é um teatro de ações
ilustres, esta é um reduto de ações abomináveis:
finalmente ali nasce a nobreza, aqui extingue-se; ali
perde-se a vida com honra, aqui conserva-se a mesma
com ignomínia. Que notáveis diferenças! Em um lugar
tantos motivos de vaidade, e nenhuns em outro: por
isso o valor é próprio na campanha, e no ermo é
natural a covardia. O valor falta-lhe à alma, se lhe falta
a vaidade, o braço logo fica sem vigor, e sem alento o
peito: no perigo em que não há vaidade, a natureza só
se lembra do horror da sua ruína.

(72) A fugida traz consigo o vitupério, por isso
muitos não fogem, porque os vêem; e fugiriam, se os
não vissem; muitos se retiram enquanto os não
conhecem, mas não depois de conhecidos; como se a
desonra não estivesse na retirada, mas na notícia dela:
ninguém se quer expor, se a vaidade o não expõe; e
ainda que a vaidade não tira o mêdo, con-

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