tor, sem mudar nada”, diz. Um ano e
meio depois de reforçar sua rede de
contatos, veio o resultado: Roger foi
chamado por um desses líderes para
assumir uma nova operação. Aí tudo
mudou. Ele ficou dois anos na nova
área até ir para o Peixe Urbano. “Hoje
me identifico muito com o modelo de
gestão da empresa e estou feliz”, diz.
A atitude de Roger é recomendada
pelos especialistas, que acreditam
ser importante assumir a gestão da
própria carreira e começar a se mo-
vimentar, descobrindo caminhos e
possibilidades para se livrar da lide-
rança tóxica. “Se ficar preso nessa
bolha e não fizer relacionamento, a
probabilidade da situação mudar é
muito baixa”, afirma Rafael. Além
disso, dependendo da cultura geral
da empresa e do perfil do RH, uma
conversa franca pode valer a pena.
Hoje em dia, há muitos profissionais
de gestão de pessoas preparados para
esse diálogo. Mas, se a opção for fa-
lar diretamente com o gestor, seja
cuidadoso. “Explique, com respeito,
como se sente com algumas atitu-
des e de que forma isso influencia
em sua produtividade”, diz a coach
Eliana Dutra, CEO da ProFitCoach.
Segundo ela, é importante também
perguntar como ele prefere que a co-
municação seja feita e em quais pon-
tos você pode melhorar. Nesse caso,
humildade é a palavra de ordem.
O segredo é saber se colocar e não
deixar que as palavras desmotiva-
doras e o perfil do líder o abalem.
Afinal, se ele age assim com todo
mundo, o problema certamente não é
seu. “A confiança vem com o tempo.
Hoje, com a bagagem profissional que
adquiri, teria me posicionado mais
naquela época, não teria me calado”,
diz Jordana. Pense se não está na
hora de botar a boca no trombone —
seja para solucionar a situação dire-
tamente com o chefe, seja para falar
ao mundo que você está disponível
para uma mudança de rota.
empregado não estar num bom mo-
mento e se abalar com uma gestão
mais agressiva, por exemplo.
Por isso, o primeiro passo é con-
versar com os colegas. Se todos ob-
servam e sentem o mesmo que você,
provavelmente a gestão é realmente
ruim. “A liderança nefasta, que pode
envolver todos os tipos de assédio, é
recorrente e afeta mais de uma pes-
soa da equipe”, diz Maria Candida.
Segundo ela, os tóxicos não podem
ser confundidos com líderes mais as-
sertivos que, vez ou outra, são mais
duros em um feedback. Ao contrário:
os nocivos agem sempre assim.
Rota de fuga
Lutar contra essa cultura não é fácil,
pois, se o gestor age dessa forma, pro-
vavelmente tem o aval da alta direção
por entregar bons resultados. Além
disso, a maioria não reconhece sua to-
xicidade. Acha que entrega resultados
e as pessoas é que estão de “mimimi”.
Mas há algumas formas de se blindar
enquanto precisa do trabalho e, aos
poucos, se movimentar no mercado —
ou na própria empresa. Foi exatamen-
te isso que Roger Carrara, de 34 anos,
fez. Atualmente no Peixe Urbano, ele
teve de lidar com uma chefe tóxica em
outra companhia em que trabalhava.
Ao perceber o problema, Roger come-
çou a reforçar o networking interno.
“Mantinha conversas recorrentes
com as outras áreas, mas sem falar
da gestora. O objetivo era trocar ideias
de projetos e da operação em geral”,
diz. Aquele era, para ele, um momento
muito desgastante, no qual tinha a
sensação de que a ascensão profis-
sional demoraria. Na época, todos os
créditos das boas ideias ficavam com
a chefe. “Fazíamos muitas reu niões
de brainstorming para resolução
de problemas e precisávamos levar
as soluções à gerência. Em várias
situações, ouvíamos que a ideia era
ruim, mas, no dia seguinte, ela estava
apresentando a mesma ideia ao dire-
VOCÊ S/A wMAIO DE 2019 w 43
1.AUTORITÁRIO
A ÚNICA FORMA CERTA DE REALIZAR UM
TRABALHO É A DO GESTOR, QUE EVITA
DELEGAR TAREFAS E, QUANDO O FAZ,
CONTROLA TODOS OS PASSOS E NUNCA
FICA SATISFEITO COM O RESULTADO. ALÉM
DISSO, TEM O HÁBITO DA AMEAÇA, POIS
ACREDITA QUE AS PESSOAS FUNCIONAM
MELHOR QUANDO ESTÃO COM MEDO.
- IMPREVISÍVEL
VOCÊ NUNCA SABE COMO ELE VAI CHEGAR
À EMPRESA: DE BOM HUMOR OU GRITANDO.
A TENSÃO COSTUMA SER DIÁRIA.
3.ARROGANTE
ELE TEM CERTEZA QUE É INCRÍVEL COMO
PROFISSIONAL E VOCÊ É QUE TEM SORTE DE
TRABALHAR SOB SUA SUPERVISÃO. ASSIM,
SEGUE A LINHA “FAÇA DA MANEIRA QUE EU FALEI
E AGRADEÇA POR ESTAR EM MINHA EQUIPE”.
4.AGRESSIVO
NÃO OUVE E APENAS DÁ ORDENS. QUANDO
ALGO NÃO SAI DA MANEIRA QUE ELE QUERIA
(OU FARIA), É CAPAZ DE GRITAR E HUMILHAR
AS PESSOAS. RESPEITO E EMPATIA SÃO
PALAVRAS QUE ELE NÃO CONHECE.
5.NARCISISTA
OS MÉRITOS DO SUCESSO SÃO SEMPRE DELE.
ALIÁS, VEZ OU OUTRA, ELE SE APROPRIA
DE IDEIAS DE OUTRAS PESSOAS E, SE ALGO
DER ERRADO, A CULPA É SEMPRE DO TIME.
GERALMENTE TEM UMA VISÃO POUCO REALISTA
DE SI MESMO E É INCAPAZ DE AUTOCRÍTICA.
6.EXIGENTE AO EXTREMO
PARA ELE, NUNCA NADA ESTÁ BOM
O SUFICIENTE. COSTUMA, TAMBÉM,
SOBRECARREGAR A EQUIPE DE TRABALHO,
POIS DESCONHECE O LIMITE ENTRE PRESSÃO
POR RESULTADOS E FALTA DE RESPEITO.
Traços
nada sutis
Seis sinais
de que seu chefe
pode ser tóxico
FONTES: ESPECIALISTAS OUVIDOS NESTA REPORTAGEM