Você SA - Edição 252 (2019-05)

(Antfer) #1
FOTO: EDUARDO MARQUES/TEMPO EDITORIAL ILUSTRAÇÃO: GETTY IMAGES

pedidos de demissão dos melhores
talentos. Isso sem falar no absentismo:
com tanta pressão, os funcionários
começam a ficar doentes e faltam
mais. “Dificilmente, as pes soas tole-
ram uma liderança assim quando
têm mais oportunidade”, diz Maria
Candida Baumer de Azevedo, sócia
da People & Results, especializada
em carreira e cultura empresarial. É
oque mostram, mesmo, os números.
Uma pesquisa da consultoria ameri-
cana BambooHR revela que 44% dos
profissionais pediram demissão por
causa de um chefe tóxico. Entre as
causas, o estudo aponta o roubo de
crédito pelo trabalho sem reconhecer
oempregado. Em seguida, outros mo-
tivos são: não manifestar confiança,
ignorar o excesso de trabalho, con-
tratar ou promover pessoas erradas,
não permitir autonomia e ressaltar
as fraquezas da equipe. “Na primeira
oportunidade que tive, pedi demis-
são. Não dava mais para viver naquela
cultura de medo”, diz a advogada Jor-
dana. De acordo com ela, apesar de
saber que a situação não era normal,
aguentou em razão do aprendizado.
“Tinha pouca bagagem profissional
e sabia que a experiência contaria
muito em meu currículo. Além disso,
oescritório possuía uma carteira de
clientes que me interessava”, afirma.
Ela lembra que, por lá, elogios não
existiam. “Podia ter feito melhor” e
“da próxima vez estude mais” eram
os estímulos dados à equipe.
A advogada saiu da empresa antes
de pagar uma conta mais cara, que é


tões psíquicas graves, como crises de
ansiedade e estresse decorrentes de
chefes difíceis. “É preciso estar atento
aos sinais do corpo. Se começar a ficar
doente com frequência, e sofrer de
insônia e irritabilidade frequentes, é
hora de pedir ajuda”, diz. Nem sem-
pre é necessário recorrer à terapia,
mas é essencial observar esses sinais
para não chegar ao limite e adoecer.
No entanto, segundo Claudia, deve-
-se ter cuidado ao rotular um chefe
como tóxico, pois a questão pode estar
no âmbito pessoal, como o fato de o

Roger Carrara, coordenador
de experiência do consumidor
do Peixe Urbano: no emprego
antigo, o networking interno o
ajudou a fugir da chefe tóxica

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LIDERANÇA

Conhece o “efeito Lúcifer”?
Talvez seu chefe não fosse cruel antes de alcançar o poder

O PSICÓLOGO AMERICANO PHILIP ZIMBARDO ESTUDOU O COMPORTAMENTO HUMANO PARA ENTENDER POR QUE,
EM DETERMINADAS SITUAÇÕES, ALGUMAS PESSOAS CONSIDERADAS BOAS SÃO CAPAZES DE COMETER CRUELDADES.
PARA ISSO, UM GRUPO DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS VOLUNTÁRIOS FOI DIVIDIDO ALEATORIAMENTE EM GUARDAS
E PRISIONEIROS EM UM AMBIENTE DE PRISÃO SIMULADO. APÓS UMA SEMANA, OS ESTUDANTES TRANSFORMARAM-
SE EM GUARDAS VIOLENTOS E SÁDICOS OU EM PRISIONEIROS EMOCIONALMENTE ABALADOS. ESSA TENDÊNCIA
DE UMA PESSOA PRODUZIR O “MAL” QUANDO LHE É CONFERIDO PODER FOI CHAMADO DE “EFEITO LÚCIFER”.


a da saúde. “O profissional passa a du-
vidar do próprio talento e perde toda a
motivação, o que, no longo prazo, pode
desencadear uma crise emocional”,
diz Fabrício César Bastos, fundador
da Flowan, consultoria de desenvol-
vimento humano. Em alguns casos,
até a vida pessoal é prejudicada, pois
ele não consegue mais ficar bem nem
mesmo com a família e os amigos.
A psicanalista Claudia Cavallini,
consultora e professora na HSM Edu-
cação Executiva, conta que muitos
já chegam ao consultório com ques-
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