VOCÊ S/A wMAIO DE 2019 w 49
Trocando em miúdos, o sistema trans-
fere ao cidadão a responsabilidade de
poupar para ter rendimentos na apo-
sentadoria. Cada trabalhador passa a
ter uma conta individual em um fundo,
no qual é depositado mensalmente
uma quantia para garantir sua apo-
sentadoria no futuro. O financiamento
é feito com base em um percentual
sobre o salário — porcentagem que
será definida futuramente por meio de
uma lei complementar. “A vantagem é
que esse modelo não cria um proble-
ma fiscal para o Estado, porque cada
um cuida de sua conta de ‘poupança’ ”,
O QUE É A
CAPITALIZAÇÃO?
QUANDO O MODELO
ENTRARÁ EM VIGOR?
afirma Hélio. “Quando chega a hora
de se aposentar, a pessoa tem um
benefício que reflete o período e o valor
que poupou. Há vantagens fiscais,
macroeconômicas e de cidadania.”
Tudo vai depender, portanto, da
capacidade de economia de cada traba-
lhador — algo que, num país defici-
tário em educação financeira, como o
Brasil, representa um grande desafio.
“Capitalização exige conhecimento
sobre planejamento e investimento.
É muito difícil colocar a capitalização
para a população que recebe salários
menores, porque as pessoas têm muita
dificuldade em entender os conceitos e
realmente utilizar os benefícios desse
sistema”, diz Felipe Bruno, líder da área
de Previdência da consultoria Mercer.
Ainda não há previsão, pois isso vai
depender de aprovação do Congresso
da lei complementar sobre o assun-
to, já que a reforma da Previdência
apenas cria o sistema e estabelece
princípios gerais. A expectativa de
Leonardo Rolim, secretário da Previ-
dência, é de que a lei seja discutida e
aprovada no próximo ano. Do ponto
de vista do trabalhador, seria afetado
pela capitalização quem entrasse no
mercado após a aprovação do projeto.
Para a implantação desse modelo,
no entanto, o governo precisará en-
frentar um problema: o custo da tran-
sição. “Isso ocorre porque as
pessoas deixam de contribuir
para o regime geral quando
passam a contribuir para
suas poupanças. Então,
como o governo vai financiar
oregime geral?”, diz o pro-
fessor Eduardo, da Unicamp.
Essa é uma pergunta à
qual a equipe econômica
ainda não consegue respon-
der. Segundo Rolim, em uma
entrevista ao portal UOL,
“não foi feito o cálculo porque
depende do modelo que for
implementado”. Ele está se
referindo ao fato de que a
reforma tal como foi apre-
sentada pelo governo poderá
sofrer ajustes na tramitação
no Congresso e perder alguns
pontos. Isso faria com que
não fosse economizado o 1
trilhão de reais prometido
por Paulo Guedes. O ministro
chegou a afirmar que não
é possível implementar o
regime com uma economia
em menor patamar, pois
esse dinheiro seria neces-
sário para o governo arcar
com o custo da transição.