O Estado de São Paulo (2020-04-23)

(Antfer) #1

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H6 Especial QUINTA-FEIRA, 23 DE ABRIL DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Luiz Carlos Merten


Esqueça o Rubinho traficante,
de arma na mão, da novela A
Força do Querer
, de Glória Pe-
rez, de 2017. O Emílio Dantas
que poderá ser visto na Globo,
nesta quinta, 23, é outra coisa.
Mudou o visual para fazer o Pau-
lo, arquiteto com alma de poe-
ta, de Todas as Mulheres do Mun-
do
. A emissora franqueia, na TV
aberta, o primeiro dos 12 capítu-
los da minissérie escrita por Jor-
ge Furtado a partir do filme fa-
moso de Domingos Oliveira,
nos anos 1960. Para continuar
vendo as aventuras/desventu-
ras amorosas de Paulo, o teles-
pectador terá de ir ao Globo-
play, onde os demais episódios
estarão disponíveis.
Todas as Mulheres fez história
como o filme que revelou Leila
Diniz. Ela era ex-mulher de Do-
mingos, que estreava na dire-
ção e fez o longa como um poe-
ma de amor para ela. Para a ex?
Não é todo mundo que se sepa-
ra e continua ligado pelo afeto.
Em tempos de pandemia, em
que o isolamento social tem
mantido as pessoas em casa e a


violência doméstica aumentou,
Dantas está cheio de expectati-
va. “O trabalho é muito bonito,
foi feito com carinho e compro-
metimento da equipe toda. É so-
bre o amor e a delicadeza como
antídotos contra essa cultura
do ódio que, nos últimos anos,
tomou conta do Brasil.”
Emílio está confinado em casa
com a mulher, a atriz Fabiula Nas-
cimento, que faz Olenca na nove-
la Avenida Brasil , de João Ema-
nuel Carneiro, que termina na
sexta, 24 no Vale a Pena Ver de
Novo. Eles têm revisto a novela,
vão ver juntos a minissérie. Em
outra entrevista ao Estado ,
Dantas disse que Fabiula amava
o mar, mas ele preferia o mato.
Agora, admite que está louco de
vontade de encarar aquela imen-
sidão de água. “Um banho de sal
grosso, para purificar.” Paulo é
um homem doce, e Emílio se
vestiu para o papel. Deu uma en-
crespada no cabelo, colocou
óculos, modelito intelectual.
“O Paulo é o alter ego do Domin-
gos, e eu fui me aconselhar com
Paulo José, que fez o papel no
filme. Ele me disse para me en-
tregar ao amor. Foi o que fiz.”
Um homem que ama as mu-
lheres, Paulo se envolve com
uma diferente em cada um dos

12 episódios. Mas isso é porque
ele espera a mulher ideal. Cria
poemas para ela. A Maria Alice
da TV é Sophie Charlotte, no ci-
nema foi Leila.
Domingos morreu em mar-
ço do ano passado, aos 82 anos.
Chegou a trocar ideias sobre a
minissérie com Furtado, mas
ela foi feita depois. Embora es-
crita por um homem e refletin-
do o olhar masculino sobre as
mulheres, a minissérie tem
uma equipe pre-
dominantemen-
te feminina. “Foi
muito bom traba-
lhar com todas
essas mulheres.
É o mundo real
das mulheres po-
derosas, que con-
quistaram seu espaço e têm
consciência do próprio valor.”
No ano passado, o repórter
visitou o set, no estúdio da Glo-
bo. A casa de Paulo parecia de
verdade, não uma construção
cenográfica. Tudo no lugar, to-
dos os detalhes.
“Foi decisivo. Quando crio
um personagem, me coloco sem-
pre no cotidiano dele. E a casa
era muito importante. O Paulo
desenha, e eu me arrisco a dese-
nhar também. A produção colo-

cou desenhos meus nas pare-
des, então o Paulo era persona-
gem, mas tinha coisas minhas,
pessoais. Era 50/50”, brinca.
Na minissérie, são dois alter
egos de Domingos, Paulo e o ou-
tro, o Cabral. Matheus Nachter-
gaele havia emendado filmes
com a série Cine Holliúdy , dirigi-
da por Patrícia Pedrosa, que assi-
na Todas as Mulheres. “Estava
cansado, querendo descansar,
mas ela me contagiou com seu
entusiasmo.” Ele
conta que fez o de-
ver de casa. “Li tu-
do do Domingos.
As peças, a biogra-
fia, vi os filmes.”
Domingos era
frasista, um filó-
sofo popular do
amor e o Cabral, que é a sua ver-
são mais madura, é o cara que
diz as grandes frases dele. “Ado-
rei fazer. Cabral é homem de
um só amor, um grande amor.
Essa mulher está longe.” E ela
volta? “Ah, não vou dizer. Você
vai ter de ver. E me ouvir. ‘O
amor é a vocação humana, o ei-
xo de tudo, o efeito colateral é o
sexo.’ ‘As escolas deveriam ensi-
nar que a fidelidade conjugal é
uma imposição absurda’ ‘Mi-
nha mãe sempre diz – não há

dor que dure para sempre.’ E a
que sintetiza tudo: ‘Se tiver de
sorrir, sorria hoje; se tiver de
amar, ame hoje’. É o que precisa-
mos fazer para enfrentar esses
tempos difíceis que vivemos.”
Como ator, Matheus tem ti-
do grandes parcerias, e a maior
de todas é com Cláudio Assis.
Como é ser dirigido por uma
mulher? “A maioria dos direto-
res, quando escolhe o ator, acha
que já está tudo pronto. Entre-
ga pra gente. A Patrícia, não. Ela
é muito focada. Ouve a gente,
mas tem o conceito dela e não
abre mão.” Patrícia talvez seja a
única que, trabalhando com um
ator tão bom, tão grande como
Matheus, não se vexa de inter-
romper a cena e corrigi-lo, se
for necessário. Ele aprova:
“Ôxe, pois se ela tem a coisa na
cabeça e é para melhorar a cena,
como não vou gostar?”.
Em tempos de isolamento, Ma-
theus está louco para voltar ao
palco. “O teatro é a minha forma
de oração.” Mas, quando isso ( a
pandemia ) terminar, ele acha que
não volta logo ao teatro. “Tenho
uns filmes para fazer.” Patrícia,
no confinamento, prepara a nova
temporada de Cine Holliúdy. “Es-
tou louco para trabalhar de novo
com ela”, diz Matheus.

Caderno 2


UMA ODE AO


Inspirada em filme de Domingos Oliveira dos anos 1960,


estreia hoje a minissérie ‘Todas as Mulheres do Mundo’


AMOR


Sem intervalo


Série*


Luiz Carlos Merten


Nesta quinta-feira, 23, chega
às plataformas digitais o do-
cumentário Adoniran – Meu
Nome É João Rubinato
, de Pe-
dro Serrano. Distribuído pe-
la Pandora, estreou em janei-
ro no Belas Artes e agora esta-
rá disponível no Now, Vivo
Play e Oi Play. Serrano é jo-
vem e chegou ao compositor
que sempre teve a cara de
São Paulo justamente por
seu desejo de retratar, no ci-
nema, os desvalidos da me-
trópole desumana.
Antes do longa documentá-
rio, ele fez, em 2015, o curta
de ficção Dá Licença de Con-
tar
, que foi premiado no Fes-
tival de Gramado, com mag-
níficas interpretações de
Paulo Miklos, Gero Camilo e
Gustavo Machado como Ado-


niran, Matogrosso e o Joca.
Você não precisa ser paulista-
no de certidão, apenas viver
nesse mundo para identifi-
car os personagens da imor-
tal Saudosa Maloca.
O documentário dá voz ao
compositor, que foi ator.
Costura depoimentos com
material de arquivo. Um dos
momentos mais belos é o pas-
seio de Adoniran e Elis Regi-
na pela cidade que ele amava
e em processo de marginali-
zação dos pobres que cantou
como ninguém.
Ou então a fala de Elifas
Andreato, lembrando como
criou aquela capa retratando
Adoniran como o palhaço
triste que ele era.

‘SE TIVER DE SORRIR,
SORRIA HOJE;

SE TIVER DE AMAR,
AME HOJE’

‘Domingos


tinha uma


alma feminina’


Praia do
Futuro
(Brasil, 2014.) Dir. e roteiro (com Felipe
Bragança) de Karim Aïnouz, música de
Volker Bertelmann, com Wagner Moura,
Clemens Schick, Jesuíta Barbosa.

Luiz Carlos Merten

Apesar dos prêmios que rece-
beu por A Vida Invisível , o me-
lhor filme de Aïnouz segue
sendo esse. A história do sal-
va-vidas na praia cearense,
que se envolve com turista
alemão, sai do armário e se-
gue o amante na Alemanha.
O irmão vai atrás, quando ele
para de dar notícias. Cenas
ousadas, trilha poderosa e a
força da atuação de Moura.
TEL. CULT, 20H05. COL., 106 MIN.

Um Tio
Quase Perfeito
(Brasil, 2017.) Dir. de Pedro Antônio, rotei-
ro de Leandro Muniz e Rodrigo Goulart,
com Marcus Majella, Letícia Isnard, Ana
Lúcia Torre, Júlia Svacinna, João Barreto.

Marcus Majella dá um tempo no
Ferdinando de Vai Que Cola e inva-
de a seara de Robin Williams, com
uma versão nacional de Uma Ba-
bá Quase Perfeita. Tio Tony fracas-
sa em tudo na vida, mas é um su-
cesso como babá dos filhos da
irmã. Divertido, humano.
GLOBO, 14H56. COLORIDO, 95 MIN.

Filmes na TV


Cabral. Matheus Nachtergaele como alter ego de Domingos

lComo foi fazer a minissérie que
vê o amor e as mulheres pelo
filtro do olhar de um homem?
Conhecia o filme, claro, mas,
quando o Jorge (Furtado)
me chamou para a direção,
fui rever. Li e revi todas as
coisas do Domingos (Olivei-
ra) e ele tinha uma alma fe-
minina. O Jorge tem essa
sensibilidade, o Emílio (Dan-
tas) é um homem doce. Reu-
nimos uma equipe predomi-
nantemente feminina e o re-
sultado, eu acho, está muito
equilibrado.

lO visual é muito bonito, e na
visitas ao set, eu me impressio-
nei com a casa, que me pareceu
muito real. Emílio disse que foi
essencial para ele, esse cotidia-
no do personagem. Como foi?
Queria fazer em preto e bran-
co, como o filme, mas não ti-
nha como. Tive então a ideia
de fazer preto e branco em
cores, com uma paleta limita-
da, nos mesmos tons. Tive
uma equipe fantástica. Foto-
grafia, direção de arte, todo
mundo entendeu e deu o me-
lhor de si.

lE a Sophie Charlotte como Ma-
ria Alice?
Ela era ligada ao Domingos
Oliveira. Foi musa do último
filme dele. E é um encanto. Só
podia ser, não? / L.C.M.

Patricia Pedrosa
DIRETORA

ENTREVISTA

FOTOS JOÃO MIGUEL JUNIOR/GLOBO

Sophie Charlotte e Emílio Dantas. Eles são Maria Alice e Paulo, personagens que, no filme de 1966, foram vividos por Leila Diniz e Paulo José: aventuras e desventuras amorosas


Doc sobre


Adoniran


chega às


plataformas


Bate-papo musical
O Dia Nacional do Choro é come-
morado em 23 de abril, data do
nascimento do arranjador, instru-
mentista e compositor Pixingui-
nha. Para homenagear a efeméri-
de, a Casa Natura Musical reali-
za três lives que reverenciam o
gênero, em conversas com no-
mes relacionados ao tema. E
começa, às 15h, com o bandoli-
nista Hamilton de Holanda, segui-
do, às 17h, pelo jornalista e pes-
quisador musical Zuza Homem
de Mello, encerrando, às 18h,
com a cantora e bandolinista
Nilze Carvalho. As conversas
serão mediadas pelo pesquisa-
dor Lucas Nobile e poderão ser
conferidas no Instagram da ca-
sa – @casanaturamusical).

Rodinhas pelo mundo
Estreia nesta quinta, 23, às
21h30, no Off, a segunda tempo-
rada de Luan Oliveira: Além de
Skate. Nos dez episódios, acom-
panhamos um dos principais no-
mes do skate street mundial em
locais como São Paulo, Los An-
geles, Tampa, Paris e Londres.
Das ruas de Porto Alegre para o
mundo, Luan tornou-se líder de
uma geração na modalidade.

Série ganha reapresentações na
sexta, às 23h, no sábado, às
14h30, e na segunda, às 19h.

Vida em casa
Os convidados do próximo Que
História É Essa, Vovó? , que será
no domingo, 26, são o ator Ary
Fontoura e o músico Tom Zé.
Apresentada por Fábio Porchat,
a live vai ao ar às 15h, no Insta-
gram do Porta dos Fundos
(@portadosfundos).

Letras na tela
No Dia do Livro, que é comemo-
rado em 23 de abril, o Telecine
preparou programação com fil-
mes baseados em alguma obra
literária. No Telecine Action, às
16h, Jogos Vorazes: Em Cha-
mas , com direção de Francis
Lawrence e protagonizado por
Jennifer Lawrence; às 18h, Men-
tes Sombrias , direção de Jenni-
fer Yuh Nelson, com Amandla
Stenberg; às 20h, Maze Runner:
Correr Ou Morrer , direção e Wes
Ball, com Dylan O'brien; às 22h,
Divergente , direção de Neil Bur-
ger, com Shailene Woodley; e à
0h, O Hobbit: A Batalha Dos Cin-
co Exércitos , de Peter Jackson,
com Martin Freeman.

DESTAQUE
CALIFORNIA FILMES

A Última Estação/
The Last Station
(Inglaterra/Alemanha, 2009.) Dir. e roteiro
de Michael Hoffman, com Christopher Plum-
mer, Helen Mirren, James McAvoy, Paul
Giamatti, Kerry Condon.

O último ano da vida de Leon Tols-
toi, que se isolou em sua dacha e
repudia a propriedade privada e a
religião. O embate entre seu discí-
pulo Chekhov e a mulher do escri-
tor, que quer manter o controle
sobre seu dinheiro. Plummer e He-
len foram indicados para o Oscar.
GLOBO, 2H. COLORIDO, 112 MIN.

Canal Unico PDF - Acesse: t.me/jornaiserevistas
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