DOSSIÊ SUPER 13
O primeiro mapeamento da mente
descrito por Freud dividiu-a em
consciente, pré-consciente e —
o todo-poderoso — inconsciente.
SANTÍSSIMA
TRINDADE
PSÍQUICA
Freud foi mexendo bastante nas próprias teorias,
acrescentando assuntos e corrigindo o que lhe
parecia ultrapassado – ou errado mesmo.
Voltando às divisões da primeira tópica, uma
analogia razoável dessa geometria mental pode
ser a televisão. Isso mesmo. Comece pensando
o seguinte: quando o aparelho está desligado, não
quer dizer que não haja atividade acontecendo
no universo televisivo. Você sabe que há toda
uma galáxia de programas sendo exibidos, mas
há um portal mágico chamado controle remoto
entre você e esses conteúdos ocultos. Já com ela
ligada, você só vê um bocadinho do que as em-
presas de TV prepararam – mas, claro, não vê
como é feita essa preparação.
Bem por trás dos pixels que chegam à sua sala
de estar, há bastidores de filmes, telejornais, no-
velas e séries, onde esse material está sendo pro-
duzido, escrito, editado, discutido... É o tal do
making of. Tudo isso é inacessível à sua percepção.
Além disso, enquanto você vê um jogo de futebol,
há uma penca de outros programas passando ao
mesmo tempo, mas que também não estão aces-
síveis nesse momento, porque você – por algum
motivo claro ou obscuro – decidiu pousar o con-
trole remoto no bendito Guarani x Botafogo de
Ribeirão Preto. (Talvez tenha a ver com um dese-
jo inconsciente de aproximação com seu pai, que
sempre foi boleiro; talvez seja a afirmação de uma
heterossexualidade contra impulsos internos que
você prefere rejeitar.)
Pois bem, todo esse universo que acontece nos
bastidores da TV, ao qual você não tem acesso,
seria o inconsciente; a programação dos outros
canais, à qual você pode ter acesso dependendo
de algumas circunstâncias – no caso, um clique
no controle remoto –, seria o pré-consciente; e
aquilo que você está mesmo assistindo (o jogo do
Guarani) seria a parte mais conhecida dessa his-
tória toda: a consciência.
O consciente
Apesar de a psicanálise ser uma teoria do in-
consciente, isso não quer dizer que Freud não
desse bola para a consciência. Pelo contrário, os
psicanalistas partem justamente do que chega
à consciência de seus pacientes para acessar os
processos ocultos que levam a pessoa a buscar
terapia. Mas essa parte da mente – Freud explica,
e a ciência atual concorda – é só a pontinha do
Para Sigmund Freud, o que chamamos de consci-
ência – a parte operacional da mente, que nos dá uma
compreensão direta das coisas ao longo das experiências
do dia a dia – é só a ponta de um imenso iceberg.
Toda a parte do iceberg que está “abaixo do nível do
mar” é o inconsciente.
Aliás, numa primeira etapa, Freud disse que a mente
tem dois tipos de inconsciente: o inconsciente propria-
mente dito, formado por pensamentos inacessíveis, e,
no meio de campo, um pré-consciente, cujas excitações
podem, sim, chegar à nossa compreensão.
Esse conceito da mente dividida em três instâncias
- consciente, pré-consciente e inconsciente – ficou co-
nhecido como a “primeira tópica freudiana”.
Então vamos lá. Quando você ouvir falar de “tópica”,
no sentido da psicanálise, é isto: cada uma das elabo-
rações teóricas de Freud sobre a divisão da mente. O
termo vem do grego topos (lugar), e por isso tem a ver
com a tal topologia da mente. A primeira, Freud apre-
sentou no finzinho de 1899, com a publicação do livro
A Interpretação dos Sonhos. Ele se apegou a essa divi-
são até que, nos anos 1920, lançou uma segunda tópi-
ca, quando a mente ganhou uma nova repartição: id,
ego e superego (que também vão render assunto mais
para a frente neste dossiê).
Para não se embaralhar muito com as ideias freudia-
nas, tente guardar uma coisa: durante toda a sua vida,
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