Apesar de conservador, Freud ganhou fama de
libertino por suas teorias da sexualidade.
Para ele, crianças têm seus próprios
jogos eróticos (às vezes envolvendo cocô)
e fases de desenvolvimento psicossexual.
E os adultos? Somos todos pervertidos.
“Moleque abusado pela babá vira guru
do sexo” – essa seria uma manchete possível
caso algum jornal sensacionalista publicasse
a história. O próprio Freud foi a fonte dessa
“versão romântica” sobre o despertar do seu
interesse sobre a sexualidade. Referindo-se
à mulher contratada para cuidar dele quan-
do menino – uma senhora feiosa, mas bem
saidinha, segundo o próprio –, ele disse: “Foi
minha professora de sexualidade. Ela me
dava banho com uma água avermelhada na
qual ela mesma se lavara antes”. Cruzes! Mas
a hipótese de que o comportamento da babá
poderia dar cadeia vem de outra afirmação
sua, uma que fez estudiosos de diversas
épocas suspeitarem da velhinha como musa
das teorias mais picantes da psicanálise: “A
satisfação sexual é o melhor sonífero. É sa-
bido que babás pouco escrupulosas fazem
adormecer crianças que choram acariciando
seus genitais”.
A afirmação está na obra mais polêmica
de Sigmund Freud, considerada na época
como obscena e pornográfica, e que deu a
seu autor o estigma de velho tarado: Trê s
Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade, de
- No livro, Freud trata das manifesta-
ções psíquicas ligadas a essa sexualidade,
das perversões sexuais e de toda uma teo-
ria da libido. Mas o que escandalizou o
mundo foi mais especificamente o segun-
do ensaio, A Sexualidade Infantil, que teve
como base a observação dos seus filhos no
dia a dia – e olha que ele teve seis –, além
de estudos anteriores aos seus, os relatos
de seus pacientes e o que Freud lembrava
da própria infância. Nessa parte da obra, o
autor revela que a criança tem atividades
sexuais, brinca com suas zonas erógenas,
direciona sua libido para a mãe ou o pai e
(segure-se na cadeira) até prende o cocô
por puro prazer anal.
Uau! Era demais para a sociedade do sé-
culo 19. É demais até para os pais modernos
de hoje em dia. Principalmente os que não
buscam compreender o que Freud estava
querendo dizer com sexualidade. Ele nunca
falou ou escreveu que as crianças passam a
infância num eterno filme pornô, e sim bus-
cando sensações de prazer. Fazem isso por
meio de pensamentos e atitudes que um
olhar menos perscrutador dificilmente as-
sociaria a atividades sexuais – como a tal
retenção das fezes.
M
Getty Images DOSSIÊ SUPER 39
Canal Unico PDF - Acesse: t.me/ojornaleiro