(prazer sexual em exibir a própria nudez), voyeu-
rismo (praticamente o contrário da última: prazer
em ver nudez ou imagens eróticas), incesto (de-
sejar pai e mãe, ou irmãos), travestismo (prazer
em se vestir seguindo o padrão do sexo oposto) e
até homossexualidade, que na época era vista co-
mo desvio sexual.
Sigmund Freud constatou que não conseguiria
elaborar uma teoria completa da sexualidade hu-
mana se não tratasse da perversão – na termino-
logia psiquiátrica, essa palavra ainda pode ser
substituída por “parafilia”. Mas, diferentemente de
seus antecessores e contemporâneos, o mestre de
Viena não dá a esses desvios uma conotação pe-
jorativa nem os aborda com preconceito. Para ele,
são apenas outras facetas da mente humana se
manifestando no âmbito da sexualidade. Embora
mantenha a ideia de que são desvios, no entendi-
mento de que não se destinam à reprodução, Freud
rejeita a noção de que essas práticas sejam coisa
de gente degenerada.
Para ele, a má fama dos pervertidos vem do fato
de que a experiência médica lida com casos extre-
mos, o que propicia a confusão entre “o desvio
sexual” do indivíduo e um sintoma patológico. É
pelos doentes que os médicos são procurados, não
pelas pessoas que vivem bem com uma ou outra
perversãozinha. Daí a impressão equivocada de
que todos os perversos seriam doentes mentais
- um erro que não sobrevive na psicanálise freu-
diana. Freud acredita que as exceções, que não têm
como deixar de ser consideradas patológicas, são
“aquelas em que a pulsão sexual realiza coisas as-
sombrosas (lamber excrementos, abusar de cadá-
veres) na superação das resistências (nojo, vergo-
nha, dor, horror)”.
A perversão acabou ganhando tal importância
nas investigações de Freud que ele a insere numa
estrutura tripartite, ao lado da neurose e da psi-
cose: enquanto a neurose é o resultado de um
conflito interno entre os desejos e a adequação à
realidade, e a psicose é a reconstrução de uma re-
alidade alucinatória, a perversão surge como uma
fixação na sexualidade infantil.
Objetos e metas sexuais
Para a análise das perversões, Freud recorre a dois
termos que vão ajudar você a diferenciar cada tipo.
Objeto sexual é a pessoa da qual vem a atração,
enquanto meta sexual é a ação, o objetivo da coisa.
Perversos têm desvios em relação ao objeto ou à
meta. Ou aos dois.
Uma meta sexual normal, segundo a visão freu-
diana, é “a união dos genitais no ato denomina-
do copulação, que leva à resolução da tensão
sexual e temporário arrefecimento da pulsão
sexual (satisfação análoga a saciar a fome)”. Enfim,
é a cópula, o coito por excelência: pênis introdu-
zido numa vagina.
A vidA privAdA de Sigmund Freud sempre seguiu
um estilo conservador. Em casa, tinha faxineira, go-
vernanta, uma criada para abrir a porta aos pacientes e
também uma cozinheira. Era rígido quanto ao horário
das refeições, não admitia palavrão, oferecia flores
às mulheres – especialmente gardênias – e jogava
xadrez. Tolerou como um mal necessário uma das
novidades do fim do século 19: o telefone. Mas preferia
mesmo se corresponder por carta – atividade a que
se dedicava todos os dias e que deixou para a poste-
ridade muito do que sabemos sobre o pensamento
freudiano. Sua esposa era a típica dona de casa faz-
tudo, responsável por gerenciar todos os assuntos do
lar enquanto o marido bancava o Sherlock Holmes
da mente – trabalho em que ele se empenhava como
um operário chinês, só encerrando o expediente após
16 horas de labuta.
Ninguém que o visse saindo do barbeiro – aonde
ia todos os dias, religiosamente, para manter a barba
impecável – poderia imaginar que aquele senhor era
o grande teórico revolucionário da sexualidade, vis-
to por muitos de seus colegas como libertino – para
usar o termo mais educado. E é justamente por esse
perfil conservador no dia a dia que é de se admirar
a perspectiva libertária com que Freud tratou as ques-
tões do sexo na mente das pessoas. Além de tratar o
desenvolvimento psicossexual das crianças com frie-
za clínica, isenta, Freud debruçou-se de mente aber-
ta em outra questão suscetível ao julgamento pre-
conceituoso da sociedade: as perversões sexuais.
Foi em meados do século 19 que a psiquiatria for-
mou um leque de práticas sexuais consideradas des-
vios dos padrões normais na época: zoofilia (desejo
sexual por animais), pedofilia (por crianças), fetichis-
mo (interesse sexual focado em algum objeto ou
parte específica do corpo do parceiro), sadomaso-
quismo (associação dos prazeres sexuais ao sentir e
infligir dor física), coprofilia (prazer com aquilo que
as pessoas costumam depositar na privada), necro-
filia (desejo de transar com cadáveres), exibicionismo
DOUTOR EM
TaRas
Freud criou um tratado sobre
podolatria, voyeurismo, sadismo...
E chegou à conclusão que, sem
exagero, não fazem mal a ninguém.
DOSSIÊ SUPER 43
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