National Geographic - Portugal – Edição 217 (2019-04)

(Antfer) #1
UMANOVACIDADE 59

Umdiscjockeydifunde
músicaa partirde
umcamião.Festivais,
desfilesdemoda
e atéumconcursode
belezadeMissBidibidi
jáforamorganizados
nestecampo.“Ainda
melembrodequando
istocomeçou:nãohavia
estradas,escolasou
furosdeágua”,dizo
supervisordocampo,
RobertBaryamwesiga.
Eleimaginaumacidade
denívelmundial
a emergirdafloresta.
“Achoqueo céu
é o limite.”

Modelos concebidos por várias organizações
humanitárias mostram a maneira como o desen-
volvimento económico pode chegar a Bidibidi:
zonas de wi-fi, mini-redes eléctricas, instalações
produtivas de grande escala. Por enquanto, os ne-
gócios são de pequena escala e as empresas priva-
das ainda ponderam como aproveitar a força de
trabalho ociosa que existe em Bidibidi.
Numa oficina coberta com um oleado, dois re-
fugiados amassam uma mistura pastosa, trans-
formando-a em pequenos bolos e põem-nos a se-
car numa estufa. Todas as manhãs, trabalhadores
com batas transportam uma carga de bolos até às
casas vizinhas. Em pequenas cozinhas instaladas
em palhotas, os clientes acendem um forno espe-
cial e introduzem briquetes, uma solução amiga
do ambiente para diminuir a procura de lenha
que alimenta os fogões de cozinha.
Pamela Komuhendo enumera os desafios en-
frentados pela Raising Gabdho, a empresa de
briquetes que fundou há três anos, em Campala.
Bidibidi apresenta outro obstáculo: as infra-estru-
turas são escassas para alicerçar novos negócios.
Apesar disso, a Raising Gabdho decidiu construir
uma fábrica e uma pequena central solar capaz de


contribuir para o lançamento de 40 a 50 novas em-
presas. “Muitos pensam em fixar-se aqui”, diz Pa-
mela. “Mesmo se a paz voltar ao Sudão do Sul, per-
manecerão aqui se estiverem a ganhar dinheiro.”
Numa rua agitada do mercado, onde as pessoas
vêm cortar o cabelo, beber cerveja morna ou as-
sistir a um jogo de futebol, Patrick Aleko aplica
logótipos de igrejas e nomes de equipas em ca-
misolas com um ferro de engomar na sua loja de
design gráfico alimentada a energia solar. Tinha
um negócio semelhante no Sudão do Sul. Quando
construiu um edifício de betão, os vizinhos fize-
ram troça. Imaginavam que regressariam um ano
depois ao Sudão do Sul. Agora, já rasgam os seus
oleados e compram tijolos também. “Vou ser a
última pessoa a sair daqui”, diz. “Despedir-me-ei
de Bidibidi quando não encontrar mais clientes.”
O que acontecerá ao campo, interroga-se ele,
se o Sudão do Sul alcançar a paz? Será que o go-
verno ugandês conseguirá manter aquilo que foi
construído ou deixará que milhões de euros em
infra-estruturas apodreçam na floresta? Ele acha
que sabe a resposta. “Bidibidi vai transformar-se
num modelo”, exclama. “Deixem que se transfor-
me numa cidade permanente.” j

COMO AJUDAR?
Veja a lista das
organizações que
trabalham com refugiados
em Bidibidi, em
ngm.com/apr2019.
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