NATIONALGEOGRAPHIC
GRANDE ANGULAR | BIODIVERSIDADE
A centopeia fotografada numa das grutas de Loulé
“não existe” para a ciência. Está actualmente em
processo de descrição, razão pela qual ainda não
tem nome. Não existe ainda nenhuma espécie
de centopeia cavernícola em Portugal.
colecções. São infindáveis corredores escuros envol-
vidos num silêncio sepulcral, com milhares de exem-
plares conservados em frascos de todos os tamanhos
e feitios, protegidos por uma assustadora guarda de
honra de avestruzes, lobos ou javalis embalsamados,
capaz de pôr os cabelos em pé ao mais batido investi-
gador de campo! Ali está conservada a maioria dos
espécimes recolhidos por Ana Sofia Reboleira.
São mais de setenta novas espécies descritas para a
ciência, 37 das quais em Portugal, incluindo quatro
novos géneros, que abarcam pseudo-escorpiões,
milípedes, bichos-de-conta, insectos e fungos ectopa-
rasíticos de artrópodes. Em Setembro de 2009, a edição
portuguesa da National Geographic noticiou a desco-
berta das primeiras novas espécies de escaravelhos
cavernícolas, Trechus gamae e Trechus lunai, no
maciço estremenho. Na década seguinte, Ana Sofia
Reboleira e os colegas conduziram o conhecimento
para outro patamar.
Entretanto, uma nova geração de biólogos vai sur-
gindo. Andrea Castaño, investigadora espanhola a
desenvolver o doutoramento na Universidade de Cope-
nhaga, conduz um estudo sobre os efeitos de contami-
nantes em organismos subterrâneos. Nos laboratórios
ALGUMAS CENTENAS DE QUILÓMETROS a norte, em
pleno Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros,
no Algar do Pena (que, com 125.000m^3 , é a maior sala
subterrânea conhecida do país), procura-se envolver
a sociedade civil com a comunidade científica. Um
“troglobiário” (laboratório subterrâneo) proporciona
apoio à investigação com experimentação em animais
vivos no seu habitat, mas constitui também uma opor-
tunidade única de educação ambiental, ao permitir a
observação de animais cavernícolas in situ.
Ao abrigo do projecto pedagógico “Citizens &
Science”, alunos do ensino secundário local são res-
ponsáveis por tarefas de manutenção (limpeza de
aquários, alimentação, preparação de terrários), com-
preendendo em primeira mão a importância da con-
servação dos organismos subterrâneos.
Aliás, à superfície, as ameaças são bastante palpáveis,
pois o cenário é preocupante: centenas de pedreiras,
muitas das quais especializadas na produção de pedra
de calçada, ameaçam o mundo subterrâneo: apesar de
visualmente este tipo de extracção de inertes parecer
menos grave do que as grandes unidades de profundi-
dade, elas ocupam vastas áreas, afectando os ecossiste-
mas cavernícolas e alterando os padrões de infltração de
água, bem como as suas características físico-químicas.
NUM DIA ANORMALMENTE QUENTE no Inverno escan-
dinavo, a porta da garagem do Museu Zoológico de
Copenhaga abre-se. Passando por sofisticados sistemas
de segurança electrónica, chegamos finalmente às