42 | Sabor. club [ ed.41 ]
que dá movimento para faca (e pica impecavelmente em formas variadas),
das mãos que balançam para trazer a fumaça perfumada que sai das panelas
ao encontro do nariz.” E revela: “Aprendi a cozinhar observando o gestual.
Ele me ensinou tanto quantos os livros”. Que, aliás, ela tem consumido
intensamente. Não raro tem um comportamento interessante: quando lê algo
que realmente lhe toca ou causa uma reflexão inconclusiva, ela dá um jeito
de falar com o autor (quando está vivo, naturalmente).
No papo, Ana revela que, recentemente, entrou em contato com a
americana Gabrielle Hamilton, chef e dona do Prune, em Nova York, e autora
do ótimo Sangue, Ossos e Manteiga.
“A cozinha nos ajuda a exercitar a humildade, algo que anda em falta na
humanidade... Talvez esteja aqui a gênese de todos os nossos problemas.
Que bom que todos nós estamos cozinhando mais...”
O processo, defende, ajuda também a sermos menos preconceituosos
com determinadas coisas, como as latas de conserva. “Outro dia fiz uma
salada niçoise deliciosa, com uma lata de atum comum. Fiz com tudo morno:
as batatas, as vagens... Para ficar mais confortável. Adorei o resultado.”
Num outro dia, tomates em temperatura ambiente com muçarela de búfala,
ganharam uma laranja seleta espremida por cima, sal e azeite. “Ficou
deliciosa, embora eu esteja num momento de comidas mais quentinhas.”
Afinal, estamos precisando de carinho, não é, Ana? “E tempo.
Fechamos as portas e abrimos as janelas. No final, vai dar tudo certo.”
“A cozinha nos ajuda a exercitar a humildade, algo que anda em
falta na humanidade... Que bom que estamos cozinhando mais”
Tiramisú de pote: colheradas de perdição, pode apostar