Crusoé - Edição 112 (2020-06-19)

(Antfer) #1

o início dos anos 80, quando
serviram juntos ao Exército – mais
precisamente, na Brigada de
Infantaria Paraquedista no Rio de
Janeiro. Enquanto Bolsonaro seguiu
a carreira política, virou vereador,
deputado federal e, mais adiante,
candidato ao Planalto, Queiroz foi
para a Polícia Militar, onde chegou a
suboficial. Depois de se tornar uma
espécie de faz-tudo de Bolsonaro,
até companheiro de pescaria,
Queiroz foi indicado para o gabinete
do filho 01 do presidente, onde foi
acusado de comandar o esquema de
“rachid”, como é conhecida a
devolução de parte dos salários dos
funcionários. A suspeita é que o
dinheiro arrecadado financiou
práticas nada republicanas do clã.


Em junho do ano passado,
quando a investigação do esquema
avançava sobre 01, o presidente
disse que Queiroz tinha que “se
explicar”, mas reconheceu sua
relação pretérita com o alvo das
apurações. “Fabrício Queiroz é um
ex-subtenente da Polícia Militar que
eu conheço desde 1984. Foi um
soldado da Brigada Paraquedista,
meu soldado”, comentou. Já Flávio
Bolsonaro tem adotado uma postura


dúbia desde a erupção da crise: ora
defende fervorosamente o ex-
assessor, ora tenta se desvincular
completamente de seus atos. Em
maio, após a operação contra o
governador do Rio de Janeiro,
Wilson Witzel, o senador disse que
Queiroz era “um cara correto,
trabalhador, dando o sangue por
aquilo em que ele acredita”. Em
dezembro de 2018, quando surgiram
as primeiras denúncias sobre as
movimentações bancárias suspeitas
de deputados estaduais e servidores
da Alerj, o senador também o
elogiou. “Fabrício Queiroz trabalhou
comigo por mais de dez anos e
sempre foi da minha confiança.
Nunca soube de algo que
desabonasse sua conduta”, afirmou.
Em outra ocasião, entretanto, Flávio
tentou escapar da responsabilidade
sobre as transações de Queiroz, que
somaram 7 milhões de reais em três
anos. “Não sei o que as pessoas do
meu gabinete fazem da porta para
fora”, declarou.

A relação entre as duas famílias
não se resume à parceria profissional
e pessoal com o ex-policial militar.
Familiares de Fabrício Queiroz
também trabalharam tanto para

Flávio, na Assembleia Legislativa do
Rio, como para Jair Bolsonaro, na
Câmara dos Deputados. A personal
trainer Nathalia, por exemplo, filha
de Queiroz, passou oficialmente
pelos gabinetes dos dois políticos.
Márcia Aguiar, mulher do PM da
reserva e alvo da Operação Anjo,
também foi empregada de Flávio na
Alerj, bem como como seu ex-
marido, sua enteada e sua filha.

Hoje, o maior temor no governo
é que Queiroz proponha um acordo
de delação premiada. O “pacto“ que
os une quase que fraternalmente
pode ser quebrado, sobretudo se a
mulher de Queiroz, contra quem há
um mandado de prisão – ela estava
foragida até o fechamento desta
edição –, vier se juntar a ele na
cadeia. Quando estourou o
escândalo do rachid, em 2018,
Queiroz costumava repetir a quem
quisesse ouvir: “Podem me prender,
mas não podem prender minha
mulher nem milha filha”. O recado era
claro: o ex-assessor poderia aguentar
a prisão em silêncio obsequioso. O
mesmo não aconteceria se a sua
família fosse para a linha de tiro.

Segundo assessores, Bolsonaro
passou a quinta-feira, 18, irascível.
Regurgitando todos os palavrões
possíveis. O léxico era o de sempre:
o de vítima e consequente ataque aos
que supostamente conspirariam
contra ele. Poucas horas após a
prisão do faz-tudo da família, o
senador Flávio Bolsonaro deu a
primeira pista sobre como seria a
reação do grupo político. Pelas redes
sociais, o parlamentar e ex-chefe de
Queiroz atribuiu a Operação Anjo a
uma suposta sabotagem perpetrada
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