Crusoé - Edição 112 (2020-06-19)

(Antfer) #1

por adversários do governo. “Mais
uma peça foi movimentada no
tabuleiro para atacar Bolsonaro. Em
16 anos como deputado no Rio,
nunca houve uma vírgula contra mim.
Bastou o presidente Bolsonaro se
eleger para mudar tudo. O jogo é
bruto”, afirmou Flávio.


Irritado, Bolsonaro contrariou um
hábito conhecido por todos: de
manhã, deixou o Palácio da Alvorada
sem falar com apoiadores. Para uma
reunião de emergência no Palácio do
Planalto, convocou o ministro da
Justiça, André Mendonça, o ministro
Jorge Oliveira, da Secretaria-Geral
da Presidência e subchefe de
Assuntos Jurídicos, e assessores do
gabinete. Na conversa, reconheceu
que há uma espada dependurada
sobre sua cabeça. Uma das grandes
preocupações manifestadas pelo
presidente era que, enquanto as
demais frentes contra ele poderiam
até ser administradas politicamente,
por meio de seus emissários, a
operação encabeçada pelo
Ministério Público do Rio e
executada pela Polícia de São Paulo
seria, em sua visão, quase impossível
de controlar.


O problema é que os outros fios
que podem fritá-lo estão mais do que
desencapados. Durante a semana,
Bolsonaro sofreu uma série de
reveses. Na segunda-feira, 15, Sara
Winter, líder do grupo “300 do
Brasil”, que se pretende guarda
pretoriana do governo apesar de seus
integrantes não passarem de três
dezenas, foi presa no âmbito do
inquérito que apura a realização e o
financiamento dos atos
antidemocráticos. Bolsonaro


refugiou-se no silêncio, entendendo
ali que poderia estar estendendo uma
bandeira branca ao STF, a despeito
de a ordem de prisão da militante
bolsonarista ter partido do ministro
Alexandre de Moraes, a pedido da
Procuradoria-Geral da República.

A cabeça de Sara seria entregue
sem qualquer pronunciamento de
Bolsonaro não fosse a deflagração de
uma operação no dia seguinte, que
se aproximou ainda mais de
deputados e empresários
responsáveis pela ponte entre os
manifestantes e o núcleo de poder do
presidente. “Uma linha de apuração
é que os investigados teriam agido
articuladamente com agentes
públicos que detêm prerrogativa de
foro no STF para financiar e
promover atos que se enquadram em
práticas tipificadas como crime pela
Lei de Segurança Nacional”, afirmou
a PGR, que determinou a ação. Por
solicitação dos procuradores, 10
deputados e um senador
bolsonaristas tiveram o sigilo bancário
quebrado. Além de integrarem a
tropa de choque do presidente, alguns

dos alvos fazem a articulação das
relações políticas dessa turma com
Bolsonaro. Os inquéritos também
chegaram aos articuladores da
Aliança pelo Brasil. Entre os alvos,
o empresário Luís Felipe Belmonte,
um dos principais financiadores da
legenda em gestação. Contrastando
com o comportamento do início da
semana, Bolsonaro estrilou: “Está
chegando a hora de tudo ser
colocado no seu devido lugar”,
ameaçou. Outra derrota para o
governo na arena do STF foi a
validação do “inquérito do fim do
mundo”, que apura as ameaças a
ministros da corte por 10 votos a 1


  • a exemplo da investigação sobre
    os atos antidemocráticos, ele pode
    desaguar na ação que analisa a
    cassação da chapa Bolsonaro-
    Mourão no Tribunal Superior
    Eleitoral.


A consequência política do
tsunami que engolfa o Planalto é ficar
cada vez mais refém do Centrão, ao
qual o presidente já escancarou as
portas do governo. Só que, agora,
a um preço ainda mais caro. Com o
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