acirramento do cerco sobre o
governo, a rendição à velha política,
até então discreta e envergonhada,
terá que ser ainda mais explícita para
conseguir sustentar as estruturas de
uma gestão enfraquecida e instável.
Foi a necessidade de tentar aparar
as arestas com o establishment
político – e com o próprio STF –
que Bolsonaro entregou a cabeça do
ministro da Educação, Abraham
Weintraub, e nomeou Fábio Faria,
um bem articulado deputado do
Centrão, para o Ministério das
Comunicações. Não é certo que a
estratégia irá dar os frutos esperados.
Representante legítimo do
Centrão, o genro do apresentador
Silvio Santos é amigo de Rodrigo
Maia e personifica a antítese do
bolsonarismo. Boa-praça,
diplomático, bem relacionado nos
três Poderes e munido de jogo de
cintura, Faria aproveitou a cerimônia
de sua posse para tentar distender o
ambiente. Em uma concorrida
cerimônia de posse, tendo como
palco do Palácio do Planalto, o
deputado alçado ao cargo de
ministro fez acenos até então
inimagináveis, como elogios à
imprensa e ao presidente da Câmara,
Rodrigo Maia, a quem chamou de
“amigo”. Evitou confrontos com um
rebaixado Fábio Wajngarten, ex-
chefe da Secom que virou secretário-
executivo, e prometeu um trabalho
cooperativo. Encheu a bola de
Gilberto Kassab, presidente do
PSD, e de donos de emissoras de
televisão presentes na cerimônia. “Se
é tempo de levantarmos a guarda
contra o coronavírus, é hora também
de um armistício patriótico e de
deixarmos a arena eleitoral para
2022”, disse. “É preciso, sobretudo,
respeito e que deixemos as nossas
diferenças político-ideológicas de
lado. É hora de pacificar o país”,
concluiu. As palavras e o tom
conciliador do discurso tiveram ares
de ineditismo no Palácio do Planalto.
O trabalho de Faria, entretanto,
não será apenas o de professar o
congraçamento de forças e correntes
para ajudar salvar o governo. À
frente da pasta, o parlamentar vai
comandar o debate sobre temas
espinhosos, como a chegada da
tecnologia 5G ao Brasil, sua
compatibilização com os interesses
das tevês e todas as questões
diplomáticas envolvidas. Acelerar a
privatização de grandes empresas
públicas sob a responsabilidade da
pasta, como a Empresa Brasil de
Comunicação, a Telebrás e os
Correios, será outra missão do ex-
deputado federal. Um dos
calcanhares de aquiles do governo,
entretanto, é a relação com a
imprensa. Jair Bolsonaro acumula um
histórico de agressões verbais contra
jornalistas e veículos de comunicação
- retórica sempre seguida à risca por
Wajngarten e aplaudida de pé pela
militância bolsonarista. Na posse,
Faria desfraldou a bandeira branca.
Afirmou que os jornais “ajudam a
aprofundar as reflexões da
sociedade” e prometeu defender a
liberdade de expressão. Há pouco
tempo, qualquer iniciativa semelhante
despertaria automaticamente o fogo
amigo proveniente do gabinete do
ódio – leia-se, do filho 02, Carlos
Bolsonaro.
A solução mais pragmática,
movida pelo instinto de
sobrevivência, porém, tem gerado
novos infortúnios ao Planalto. Com
o avanço de inquéritos do Supremo
sobre seus aliados, Bolsonaro tem