Crusoé - Edição 112 (2020-06-19)

(Antfer) #1

opinião pessoal, o fato de Trump ter
pressionado a Ucrânia para abrir uma
investigação contra o rival democrata
Joe Biden seria algo passível de
impeachment. Mas apenas um
senador republicano voltou-se contra
o presidente na votação do
impeachment em Washington. A razão
por trás disso é que a popularidade de
Trump entre sua base de apoio é
extremamente alta. O mesmo
raciocínio vale para o Brasil.


A popularidade de Bolsonaro
tem diminuído com a pandemia.
Essa aprovação poderá cair para
menos de 15%?
Isso é possível, mas
provavelmente não é o que vai
acontecer. Com Trump, a chance de
ele ser condenado no Senado era
zero. Com Bolsonaro, a probabilidade
é muito mais expressiva que isso, em
torno de 25%, mas a chance de um
impeachment não acontecer é maior.


Trump será reeleito em
novembro?
O presidente não tem
administrado muito bem a pandemia,
o desemprego, a economia e os
protestos. Mas fará tudo o que puder
para garantir que as regras da eleição
possam beneficiá-lo. Ele pode
desestimular as pessoas a votar contra
ele e dificultar o voto pelo correio. Com
isso, a chance de ele vencer o pleito é
levemente maior.


Ele tem criticado fortemente a
China. Isso o ajuda na campanha
eleitoral?
Uma das coisas que todo
americano concorda é que os Estados
Unidos deveriam adotar uma posição
mais dura com a China. A atitude
chinesa de esconder os primeiros


casos de coronavírus e a falta de
transparência na Organização Mundial
de Saúde fizeram com que a pandemia
ficasse pior do que seria
normalmente. Ninguém está apoiando
a China nos Estados Unidos. Os
americanos não concordam com uma
nova lei de segurança nacional em
Hong Kong. Há também muita
preocupação com a competição
injusta das empresas chinesas,
acusadas de roubar informações e
dados de concorrentes com apoio do
governo. Se Trump esboçasse uma
relação mais amistosa com a China,
ele provavelmente seria criticado por
Joe Biden e outros democratas.

Autoridades americanas têm
dito que organizações multilaterais
como a OMS, a ONU e o Tribunal
Penal Internacional são dominados
pela China ou pela Rússia. Isso faz
sentido?
Não acredito nisso. A OMS
sempre foi uma organização fraca.
Não é capaz de criticar seus doadores,
seja a China ou os Estados Unidos. A
OMS foi feita para ser assim pelos
Estados Unidos, que não gostam de
dar a essas organizações multilaterais
muita autoridade. Em geral, essas
instituições são muito débeis e já não
estão alinhadas com a atual ordem
global. A Organização do Tratado do
Atlântico Norte (Otan) é um exemplo.
Os europeus não gastam muito
dinheiro com ela. Então, é claro que
os americanos passaram a pensar que
a Otan não tem o mesmo valor de
antes. Isso vale para muitas outras
organizações.

As governantes mulheres se
saíram melhor no combate à
pandemia?
Muitos países administraram a

crise muito bem. Quando olhamos
essa lista, podemos constatar que há
uma concentração de mulheres
governantes. Taiwan, Nova Zelândia,
Noruega e Alemanha são alguns
exemplos. Minha impressão é a de
que, quando ocorre uma crise
profunda, é preciso agir como um bom
time, ouvindo especialistas de várias
áreas. Foi o que fez a chanceler
alemã Angela Merkel, que hoje é
aprovada por 80% da população.
Merkel deu respostas eficientes na
área de saúde e da economia. É de
longe a mais importante líder da
Europa. Um presidente ou primeiro-
ministro não pode tomar decisões
pensando em si mesmo. Uma coisa
que muitos governantes homens,
populistas e inseguros, fizeram foi
achar que a crise estava ligada ao
próprio ego. No meu entender, nós
estaríamos melhor se tivéssemos uma
porcentagem de mulheres como
líderes globais semelhante ao que
temos na população.

Como o resto do mundo está
olhando para o Brasil?
O Brasil se destacou de uma
maneira negativa na pandemia. Muita
fake news, cloroquina, pessoas sem
máscara em público, brigas entre
autoridades. Tudo isso é Bolsonaro.
Ele é provavelmente o líder menos
eficiente entre os governos
democráticos. O Brasil poderia estar
lidando muito melhor com a pandemia,
mas se tornou o epicentro da América
Latina e em breve pode ser o do
mundo. Bolsonaro tem muita
responsabilidade por isso.

O sr. vê alguma esperança nesse
quadro brasileiro?
Com certeza. Abri dois escritórios
da Eurasia no país. É o primeiro
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