Valor Econômico (2020-06-20, 21 e 22)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 2 da edição"22/06/20201a CADC" ---- Impressa por LGerardiàs 21/06/2020@19:15:13


C2|Valor|Sábado,domingoe segunda-feira, 20, 21 e 22 de junhode 2020

Finanças


PolíticamonetáriaInvestidorapoia


medidasdeBCs,maspós-criseédúvida


Emergentes


se preparam


para ‘dia do


juízo final’


Colby Smith
FinancialTimes

A pandemiada covid-19e a
profunda agitação financeira
queveioemsuaesteiraficarãona
memória por um longotempo
pelasmedidaseconômicas sem
precedentes arrancadas dos ban-
coscentraispelomundo.NosEs-
tados Unidos,investidores com-
pararam a resposta do banco
central aações de “choquee pa-
vor”(atáticamilitardeataque
avassalador), não apenas pela
promessahistórica de comprar
uma quantiailimitadade bônus
governamentais, mas também
pela decisãode dar sustentação
até a títulosde empresascom ra-
tingdealtorisco.
Omesmo vale parapaíses emer-
gentes. Pela primeira vez, mais de
dez bancoscentrais no mundoem
desenvolvimentocomeçaram a se-
guir as autoridades monetárias
das economias avançadasna com-
pra de bônuse outros ativos, em
suas próprias versões do “afrouxa-
mento monetário quantitativo”
(QE,nasiglaeminglês).
Atéagora,emtermosgerais,os
investidoresdos mercadosde tí-
tulosde dívidade paísesemer-
gentestêm aderidoao experi-
mento, emboramuitosalertem
parapossíveisefeitos adversos
caso algunspaísesacabemindo
longedemaisnessasmedidas.
“Estamos numanova era na po-

líticamonetária dos mercados
emergentes”, disse Pramol
Dhawan, chefeda equipede ges-
tãodecarteirasdeinvestimentode
paísesemergentesno grupoame-
ricano de investimentos Pimco, de
Newport Beach.“Sobmuitosas-
pectos, os mercados emergentes
vêm convergindo rumoaos desen-
volvidos em sua novacaixa de fer-
ramentas de políticas [econômi-
cas] extraordinárias”. [Mas] eles
nunca se afastammuito [...] de es-
corregarladeiraabaixo.”
O uso generalizado de medidas
deQEousimilaresporemergentes
representaum contraste gritante
em relação a crises anteriores. No
augeda crise financeira mundial
de maisde dezanos atrás, apenas
dois bancos centrais de países
emergentes promoveramcom-
pras de ativos: o Banco da Coreia
comprou bônus de empresas eno-
tas de curtoprazo eoBancode Is-
rael,bônusgovernamentais.
Coreiado Sul e Israelretoma-
ram suas comprasde bônusem
reaçãoà pandemia,masdesta
vez foram acompanhados por
uma série de outrospaíses,como
Polônia,Hungria,Malásia,Filipi-
nas e Indonésia. Turquiae África
do Sul estãoentreaqueles de
maiorriscoque tambémsegui-
ramessespassos.
Os programasvariammuito
em relação aos aplicadospelo
BancoCentralEuropeu(BCE)e
FederalReserve(Fed, bancocen-

Giacomelli, chefe de análisede emergentes do Deutsche:coma crisese desenrolando, é cedopara avaliarapropriadamenteos riscos de longoprazo dos programasde QE

CAROLCARQUEJEIRO/ VALOR

tral dos EUA). As comprassão
bem menores, os programas
muitas vezescarecemde metas
nominaisde quantias a comprar
e em muitosdos paísesas taxas
dejurosaindanãoestãoemzero.
Os objetivostambémdiferem.
Nos mercadosdesenvolvidos,o
propósito tem sido, em grande
medida, afrouxaras condições
monetárias para estimular o
crescimento da economia. Nos
países emergentes, porsua vez, o
focoéproteger os mercadosde
bônusdomésticos.
“A essa altura, não vemos ne-
nhummotivo parapreocupação,
dadaa naturezalimitada desses
programas”,disse Shamaila Khan,
chefede estratégias de bônus de
países emergentes na Alliance-
Bersntein.Seriamaispreocupante,
porém,se houvesse umaamplia-
ção das compras de ativos por par-
te de paísescom baixas classifica-
ções de créditoque tenham dese-
quilíbrios fiscais maisacentuados,
comograndes déficits fiscaisou

instituiçõesmenossólidas.
“[Seria]muitodifícil paraal-
gunspaísesemergentesse saí-
rembemcom isso”, alertou.“Não
há sentidoem usarumaferra-
menta paramanteraestabilida-
de financeirase ela colocarem
riscoaestabilidadefinanceira.”
De acordocom PadhraicGar-
vey,chefe de estratégiamundial
de bônusejuros no ING, amaio-
ria das compras de QE até agora
representaapenas1% a 2% ou
menosdo ProdutoInternoBru-
to (PIB)dos países.Na Polônia,
as comprassão maiores,equiva-
lentesa 4,3% do PIB.
“Se subissempara5% ou 10%
do PIB [em paísescomoÁfricado
Sul, Indonésiaou Turquia],então
se estariaentrandonumazona
de perigo”, disse,alertando para
opossívelriscodegrandesdesva-
lorizaçõescambiaisnessecaso.
Quanto ao impacto inflacioná-
rio resultante de uma moedamais
fraca, há menospreocupaçãoen-
tre os investidores, em vista da for-

te queda na demandano pós-pan-
demia. Em termosmaisamplos,
no entanto, há temores quantoà
rapidez com que a situação pode-
ria desmantelar-se, em particular
nos paísesemergentesmais vulne-
ráveis, que têm grandes volumes
de títulos de dívida em moeda es-
trangeira e cujos déficits deverão
aumentar ainda maisà medida
que gastospúblicos se acumulem
porcausadacovid-19.
“Há riscode que,em algum
momentoindeterminado,de vi-
radana tendência,umacombi-
naçãode temoresquantoà in-
disciplina fiscal,àinflaçãoe à
saídade capital venhaa predo-
minar”, destacaramanalistasdo
J.P. Morgan.“Umapossível situa-
ção final”poderiaincluircon-
troles sobreos fluxosde capital,
acrescentaram.
Países com bancoscentraisin-
dependentes que gozamde mais
credibilidade,comoalgunsno
LesteEuropeu e odo Chile,esta-
riamem melhorsituaçãopara li-

dar com essaspressões,segundo
Sergi Lanau, economista-chefe
adjuntodo InstitutoInternacio-
naldeFinanças(IIF),umavezque
há menosreceiosde que bancos
centrais, por si sós, permitam
gastos excessivos einsustentá-
veisdosgovernos.
DrausioGiacomelli,chefede
análises de países emergentes
no Deutsche Bank, em Nova
York, consideracedodemaispa-
ra que se possaavaliar apropria-
damenteos riscosde longopra-
zo,tendoem vistaque acrise
aindaestá se desdobrandoe os
bancoscentrais continuamajus-
tando a sintonia fina de seus
programas de QE ou similares.
“O dia do juízofinal não éago-
ra, quandoademandadesmoro-
nou. Será quandoasituaçãoesti-
ver se normalizado”, disse.“Será
que os bancoscentraisestarão
dispostosaapertarapolíticamo-
netária[paracontera economia]
ou interrompersuas com-
prasdeativos?”

CVC convocadebenturistas e


Iochpe recebe contraoferta


AnaPaula Ragazzi
De São Paulo

A operadorade turismoCVC
iniciou conversas com debenturis-
tas para evitarovencimento ante-
cipadodospapéis.Oprimeiropas-
so é obter operdão (“waiver”, no
jargão de mercado) dos investido-
res por não ter divulgado o balan-
ço de 2019e também do primeiro
trimestredo ano dentro do prazo
legal.A empresa foi diretamente
afetada pela pandemia, mas seus
problemassãoanterioresàcrise.
Em março, aempresa anunciou
investigação referente a erros con-
tábeise esperaconcluir o processo
em julho.ACVC também prepara
um aumento de capital, quedeve
chegar a R$ 1 bilhão. Essa injeção
de recursos deixouoscredores
mais tranquilos, pois aliviaria a es-
trutura de capital da empresa —
conformeo último resultado, a dí-
vidalíquidaeradeR$1,5bilhão.
Depoisdo primeiro waiver,a
CVC precisará de um segundo, pe-
lo descumprimentode compro-
misso financeiro (“covenant”) que
estabelecequearelaçãoentredívi-
da líquida e Ebitda deve ser igual
ou inferior a 3 vezes.Praticamente
paralisada nos últimos meses,ela
nãodeveatingiresseíndice.
As reuniões comdebenturistas

da segunda,terceira e quarta emis-
sõesforamagendadaspara3deju-
lho. Quandoforam vendidos, esses
papéissaíramataxasmuitofavorá-
veis à empresaconsiderando o ní-
velatualdaSelic:entre108%e111%
doCDI.Hoje,nomercado,segundo
dadosdaAnbima,elessãonegocia-
dosaoredorde300%doCDI.
A Iochpe-Maxion é outraem ne-
gociaçãocomcredores.Aproduto-
ra de rodas para a indústria auto-
mobilísticatentaobterdos credo-
res um perdãopréviopara o caso
de não conseguir cumprir o com-
promissodemanteroíndicefinan-
ceiro inferior a 3,5 vezes. Nos últi-
mosdias,os debenturistas apre-
sentaramumacontraproposta.
Assessoradapor bancos, aem-
presa sugeriu pagarumprêmio
aos debenturistas atrelado ao es-
touro do covenant. Ele varia de
0,5%se oestouroficarentre 3,5 e5
vezesaté 1,5%, se ele superar 8 ve-
zes.Essa tabela seria válida para
cincomediçõessemestrais—feitas
emjunhoedezembrode2020ede
2021eemjunhode2022.
Os debenturistas, apurouoVa-
lor, não ficaramcontentes nem
com os prêmios nem com o prazo
parao perdão, de dois anos. Na
contraoferta, eles falamem prê-
miosmais alinhados às taxasde
mercado e numa negociação por

apenas um semestre. As conversas
envolvemséries de três emissões
de papéis. A nona émuito pulveri-
zadaentre gestorasde créditoin-
dependente, que estariam mais
alinhadas nessacontraproposta. A
oitava eadécimaestãomais con-
centradas em bancos esuas assets.
Aexpectativaéquesechegueaum
acordonomeiodocaminho.
Já os debenturistasda varejista
de moda Inbrands decidiram
suspenderpela décimavez aas-
sembleiaque tratada renegocia-
ção de condições dos papéispara
evitarvencimentoantecipado. A
reuniãoseráretomadadia25.
Na pauta do novo encontro,foi
incluídaa discussão de possível
suspensãodeeventosdeamortiza-
ção e remuneraçãoprevistos para
12dejulho. Entreosdonosdospa-
péis, conformeaata das reuniões,
estãoagestora Quatáe os bancos
Itaú, Votorantim, BradescoeABC
Brasil. A empresa negousemana
passada queesteja preparando
umarecuperaçãojudicial.
Outraempresa que busca rene-
gociar covenants, a rede de acade-
miasSmartfit não conseguiu quó-
rumem primeira convocaçãoe
chamou nova assembleiapara dia


  1. De uma presença mínima exi-
    gida de 50% dos debenturistas,só
    18%compareceram.


Rafael Walendorff
De Brasília

OdiretordeOrganizaçãodoSis-
temaFinanceiroe Resolução do
Banco Central (BC), João Manoel
Pinho de Mello, avalia que avanta-
gemcompetitivadoopenbanking
não estará na escala ou capital,
mas em entendereantecipar ade-
mandado cliente, que mudaaum
ritmo significativo, segundo a
apresentação feita no eventoRadi-
calxChange sobre“Openbanking
e Sistemas de Pagamento, Finte-
chs,eBlockchain”,nosábado.
Mello pontuou que oopen ban-
kingajudaráoBCatiraromáximo
de proveito de estratégias como:
aumentar o fornecimento e a qua-
lidade das garantias, facilitaro
acesso anovas iniciativas, como
PIX e Sandbox, aprimorarouso de
informações de créditoepermitir
ainteroperabilidade de serviços
digitaiscominfraestruturafísica.
A primeira fase do sistema no
Brasil está prevista paranovembro
deste ano, com acesso público aos
dadosdas instituições. As transa-
ções pelosclientes eregistro das
informaçõesdevem começar em
maiode 2021. Em agosto, iniciam
os serviços de pagamento e, em
outubro, a expansão do escopo de
dadosparaincluir investimentos,
seguros,câmbio,entreoutros.

BC esperamais


competiçãocom


openbanking


Cadeapurapráticas


anticoncorrenciais no


setorde pagamentos


Flávia Furlan
De São Paulo

O ConselhoAdministrativo de
Defesa Econômica (Cade)instau-
rou procedimento preparatório
para um inquérito administrativo
que deve apurar possíveis práticas
anticoncorrenciais no mercado de
pagamentos brasileiro. A decisão
baseou-seem notícias recentesso-
bre possíveis imposições feitas por
bandeiras ecredenciadoras aos
demais participantesdo mercado,
comosubcredenciadorese mar-
ketplaces—essasempresasusamo
sistema das credenciadoras para
oferecerserviçosde pagamento,
pagandoumataxaportransação.
No início de maio,reportagem
doValormostrou que essas em-
presas haviam aberto reclamação
formal no BancoCentralcontra
práticas adotadas pela líder Cielo,
comoa suspensão de antecipação
de recebíveis, a exigênciade apre-
sentação de informações sensíveis
dosclientesepedidodegarantias.
Amanifestação foi encaminha-
da pela Associação Brasileira Onli-
ne to Offline, mas acabou sendo
tratada peloMinistério da Econo-
mia, que tentounegociação entre
as partes, sem sucesso. O Ministé-
rio da Justiça,então, encaminhou

ofíciosao BC e ao Cadeparaque
práticas anticoncorrenciaisfos-
sem suspensas, bemcomo exigin-
doexplicaçõesparaaCielo.
Na justificativapara instaurar o
procedimento preparatório, o Cade
diz que as práticas de bandeirase
credenciadoras podemconfigurar
infraçõesquelimitamalivreconcor-
rência, permitem dominaromerca-
do,aumentar arbitrariamente os lu-
cros ou exercerde formaabusiva a
posição dominante, conforme o ar-
tigo36daLei12.259/2011.
Ofícios do Cadeforam encami-
nhadosa bandeiras e credencia-
doras, especialmenteas perten-
centesa bancos, entre elas Cielo
(BancodoBrasileBradesco),Rede
(ItaúUnibanco)eGetnet(Santan-
der).Consultada,aCielodisseque
se manifestará quandotiver aces-
so ao conteúdo integral do pro-
cesso. ARede afirmouque vaise
posicionarapósseracionadapelo
Cade e aGetnet disse que ainda
não teve acesso ao procedimento,
porissonãoiriacomentar.
Subcredenciadoras, marketpla-
ces eassociações do setor também
receberam ofícios. O Cadedeu 30
dias, a partir do recebimento do
ofício, para que as empresas ratifi-
quemounãoasimposiçõesrelata-
dasemostremsuasjustificativas.

Juros
DI-Overfuturo- % ao ano
Jan/2021 Jan/2022

Ibovespa
Índiceem pontos

9/Jun
2020

19/Jun
2020

29/Mai
2020

9/Jun
2020

19/Jun
2020

29/Mai
2020

9/Jun
2020

19/Jun
2020

29/Mai
2020

9/Jun
2020

19/Jun
2020

29/Mai
2020

Bolsasinternacionais
Variaçõesno dia 19/jun/20- em %

Ibovespa
fecha
pregãocom
altade

-0,80

Fontes:B3 e ValorPRO.Elaboração:ValorData

Dow
Jones

S&P-
500

Euronext
100

DAX-
30

CAC-
40

Nikkei-
225

Xangai
SE

2,02

2,17
-0,56

0,45

3,01

96.746 0,96

2,29

3,13 3,14^3144

0,46%


96.572

0,40 0,42 0,55

87.402

Dólarcomercial
Cotaçãode venda- R$/US$

em relação
ao real

0,97%


Dólar
comercial
encerra
o dia em
quedade

5,3364

4,8882 488

ÍndicesdeaçõesValor/Coppead
Em pontos
CoppeadMV CoppeadIP 20
97.81497.81497 814 7711

72.971
70.811

101.8 54

73.877 78

5,3175 (^537) 94.938
By_Lu*Ch@Qu£

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