O Estado de São Paulo (2020-06-24)

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B6 Economia QUARTA-FEIRA, 24 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


plataforma


Sociedade entre BB e


Votorantim, grupo se


transforma para oferecer


serviços a novatas; banco


já fez mais de 25 aportes


Bruno Capelas


Quinto maior banco privado
do País, o BV (ex-Banco Voto-
rantim) passou as suas três
primeiras décadas conhecido
por um produto: crédito para
a compra de automóveis. Mas
isso está mudando: fundada
em 1988, a instituição está
passando por um processo de
transformação digital profun-
do e se tornando “o parceiro
favorito das startups”, soman-
do mais de 100 parcerias e 25
aportes em empresas como
Neon, Weel e Olivia.
“O mundo digital é bastante
fragmentado e será de vencedo-
res dos nichos. Será difícil para
qualquer banco competir com
quem conhece bem um nicho,
mas podemos entrar nesse uni-
verso com parcerias”, explica
Guilherme Horn, diretor de ino-
vação do banco, que é, desde
2009, uma sociedade entre a fa-
mília Ermírio de Moraes e o Ban-
co do Brasil. Após a crise de 2008,
em má situação financeira, o en-
tão Banco Votorantim foi socor-
rido pelo BB. Esses tempos fica-
ram para trás: em 2019, a institui-
ção teve lucro de R$ 1,37 bilhão.


No cargo há seis meses, Horn
é o responsável por executar a
estratégia de inovação da em-
presa, criada pelo presidente
executivo Gabriel Ferreira,
quando este ainda era diretor
de varejo da instituição. Vetera-
no do mercado de fintechs, ten-
do criado as corretoras Ágora e
Órama, além de ser investidor-
anjo de startups como Magne-
tis, GuiaBolso e Volanty, Horn
define o plano do BV em uma
palavra: plataforma. “Usamos a
nossa infraestrutura e licença
bancária para ‘fazer a parte da
cozinha’, enquanto as startups
se dedicam ao que elas sabem
fazer de melhor, como atender
os clientes”, explica.
Segundo Horn, o plano mes-
cla uma necessidade de sobrevi-
vência com os pontos fortes do
BV. “Cerca de 70% da nossa re-
ceita vem do financiamento de
veículos e não é bom concentrar
tudo numa linha só de produ-
tos”, explica. “Por outro lado, te-
mos experiência em crédito, um
balanço forte e mais agilidade
que os bancos grandes, por não
termos o legado das agências.
Com as parcerias, conseguimos
criar diversos produtos, do fi-
nanciamento de energia solar
ao crédito estudantil, com ajuda
da expertise das startups.”
Para Renato Mendes, profes-
sor do Insper, a estratégia é uma
“tacada de mestre”. “Se o BV não
tivesse mudado seus planos, ele
estaria fadado a desaparecer.

Ao se unir às startups, eles se-
guem competitivos, sem bater de
frente com os grandes bancos.”

Agnóstico. Uma parte dessas
parcerias pode ser feita com em-
presas ligadas a outros grandes
bancos. No fim de 2019, por
exemplo, o BV estendeu por
uma década acordo para forne-
cer crédito à startup de financia-
mento estudantil Pravaler, que
tem o Itaú como um de seus prin-
cipais acionistas. Iniciado em
2016, o acordo já distribuiu mais
de R$ 100 milhões em emprésti-
mos a estudantes, conta a o
CEO da Pravaler, Carlos Furlan.
“Mesmo tendo o Itaú como
acionista, buscamos os melho-
res acordos para a Pravaler.
Não há nenhum tipo de exclusi-
vidade”, afirma Furlan, que vê
no BV um parceiro confiável e
aberto às mudanças do mundo
digital. Quem também utiliza
os serviços da instituição é o Nu-
bank: a fintech levantou recur-
sos com uma debênture emiti-
da pelo BV e faz a liquidação da
bandeira Mastercard no banco.
Quando a parceria começa a
se tornar estratégica para o BV,
é possível que ela acabe virando
um investimento numa star-
tup. “Normalmente, investi-
mos em quem está em estágio
de crescimento e precisa de fi-
nanciamento pra ir além. A tese
é de sinergia, não necessaria-
mente de ter participa-
ções em empresas”, ex-

plica Horn. Segundo ele, hoje o
fundo de corporate venture do
banco tem e R$ 400 milhões,
com 70% disso já investido. Um
quinto do valor está alocado em
fundos de gestoras como Mo-
nashees e BR Startups, enquan-
to os outros 80% são aplicados
pela própria empresa.
Criada em Israel por dois bra-
sileiros e um americano, a finte-
ch Weel recebeu um dos maio-
res cheques já feitos pelo BV.
Em fevereiro deste ano, a star-
tup, que antecipa pagamentos e
empresta dinheiro a pequenas e
médias empresas, recebeu uma
rodada de R$ 80 milhões lidera-
da pela instituição, que tam-
bém lhe fornece capital para em-
préstimos. “Tem quem diga
que o BV carrega o piano para
nós, mas não é o caso: estamos
construindo juntos um novo
modelo de piano, com o conhe-
cimento e ferramenta das duas
empresas”, afirma o vice-presi-
dente da Weel, Nathan Yoles.
Os investimentos do BV, po-
rém, não se restringem só às fin-
techs – em 2019, o banco com-
prou, por valores não revela-
dos, 20% do Portal Solar, um si-
te que conecta pessoas físicas a
empresas de equipamentos e
instalação de energia solar.
“Quem entra no nosso site po-
de financiar o pacote de energia
solar em casa com base no valor
da conta de luz que a pessoa pa-
ga. O investimento se paga em al-
guns anos”, diz Rodolfo Meyer,

presidente executivo da empre-
sa, que tem uma rede de 1,3 mil
parceiros credenciados no País.

Futuro. Neste 2020, o BV ti-
nha planos de abrir capital, em
um processo que ampliaria sua
modernização, afirma Horn. A
pandemia fez o projeto ser adia-
do. Para o executivo, porém, o
período de isolamento social
ajudou a afirmar algumas teses
da estratégia do banco, como a
digitalização acelerada dos ser-
viços financeiros. “Hoje, crédi-
to 100% digital é uma realida-
de, mas tínhamos parceiros
que faziam isso há algum tem-
po”, afirma.
Para o executivo, em 5 anos o
BV será um banco com linhas
de receitas pulverizadas e capaz
de fornecer empréstimos às pes-
soas em todas as etapas da vida,
por meio dos parceiros. “As fin-
techs estão fazendo o chamado
unbundling, um movimento de
focar em serviços específicos
com qualidade. Nós fazemos a
consolidação desses serviços,
dessa fragmentação”, diz.
Para Mendes, do Insper, a estra-
tégia faz bastante sentido, mas o
BV precisa ter cuidado para não
ser deixado para trás pelos parcei-
ros no futuro. “De certa forma,
eles podem acabar fomentando
os próprios competidores”, afir-
ma. “É preciso também desenvol-
ver produtos internos, porque
ninguém sabe como o mercado
vai se desdobrar amanhã.”

é o valor que o BV tem
destinado para fazer aportes
em startups em seu fundo de
corporate venture; cerca de
70% desses valores já foram
aportados em empresas

R$ 400 mi


dessas startups estão na
região Sudeste do País; ao
todo, essas empresas
empregam 11 mil pessoas

R$ 80 mi


camilafarani


M


uitos negócios estão passando por mu-
danças drásticas em seus processos pa-
ra poder seguir no mercado com o im-
pacto da pandemia. E o CEO tem um papel funda-
mental nesse processo. Existem quatro itens fun-
damentais para qualquer líder conduzir sua equi-
pe durante esse período.



  1. Transmita o significado da mudança: É um
    dos passos mais importantes. Cabe ao CEO comu-
    nicar a todos o real significado da mudança – da
    gerência até a equipe operacional. Contar notí-


cias nem tão agradáveis pode ser difícil, mas exis-
tem formas de fazer isso com mais tranquilidade
e eficiência. Histórias, por exemplo, têm elemen-
tos emocionais e lúdicos que podem gerar grande
conexão com os ouvintes, os funcionários da em-
presa. Assim, é possível ter uma abordagem mais
pessoal e horizontal, já que a identificação com o
objetivo é melhor do que só um comunicado.
2) Seja o exemplo para o seu time: quando se é
um líder, a equipe é seu reflexo. Muitos não gos-
tam deste tipo de afirmação, mas a verdade é que
você é a referência para grande parte das pessoas
que trabalham contigo – pelos mais diversos mo-
tivos. A imagem que eles têm de você pode ser
determinante para o sucesso ou fracasso da mu-
dança que precisa ser realizada no negócio.
Gandhi dizia que “você deve ser a mudança que

quer no mundo”. Isso vai de encontro com o que
precisa ser feito para que as pessoas se engajem.
É óbvio que cada pessoa tem seu tempo, mas cabe
ao CEO criar um ambiente onde todos possam
discutir sobre seus desafios e como eles estão
ligados ao processo que a empresa está passando.
3) Forme uma equipe forte: Sem ter uma equipe
preparada, é quase impossível ter sucesso em qual-
quer tipo de ação – ainda mais se elas forem vitais
para o negócio. Para entender a força do time, po-
rém, é preciso fazer uma análise de cada um dos
membros, identificando se eles são as pessoas cer-
tas para estarem ao seu lado durante esse processo.
Nesse momento, é normal que alguns se mos-
trem pouco preparados para enfrentar a mudan-
ça. Serão necessárias decisões difíceis para for-
mar o time ideal. Mas antes delas, é preciso anali-

sar se você fez tudo o que deveria para extrair o
máximo de cada um. Após formar o time, é preci-
so também dar tempo a eles para se acostuma-
rem com os novos desafios.
4) Coloque a mão na massa: Se você quer que as
coisas funcionem, terá de partir par a ação – e a
operação. Esse tipo de comportamento mostra a
todos que você está comprometido em fazer o
que for preciso para alcançar os objetivos. É im-
portante dar responsabilidades aos líderes da em-
presa, para que eles tenham foco no processo. São
desafios grandes, claro, mas se você quer ter um
negócio mais forte no futuro, será preciso mudar.

]
É INVESTIDORA ANJO E PRESIDENTE DA BOUTIQUE DE
INVESTIMENTOS G2 CAPITAL

números


Como o CEO lidera


uma transformação


LÁ FORA
OvermediaCast fará
aceleração nos EUA
A OvermediaCast, especiali-
zada em vídeos automatiza-
dos, foi selecionada para parti-
cipar do programa americano
de aceleração MassChallenge
Boston. A empresa foi escolhi-
da com o projeto “video.bot”,
uma evolução do chatbot (ro-
bô de conversa) de atendi-
mento ao consumidor.

[email protected]

CHEQUE
BizCapital recebe
aporte de R$ 65 mi
A fintech de crédito BizCapital,
de Francisco Ferreira (foto),
levantou um aporte de R$
milhões, liderada pelo DEG,
braço de investimento interna-
cional do banco de desenvolvi-
mento alemão KfW. Nos pla-
nos da empresa, o investimen-
to será usado para apoiar micro
e pequenas empresas.

373
é o número de
startups do País em
Recursos Humanos,
diz estudo da Distrito

73,3%


TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

‘Cozinha’. Em
parcerias, BV
cuida de
infraestrutura e
startups, do
cliente, diz Horn

A estratégia do BV para


ser o parceiro favorito


das startups


foi o valor da rodada de
aportes recebida pela fintech
Weel, de antecipação de
recebíveis; realizado em
fevereiro, o investimento foi
liderado pelo BV

BIZCAPITAL
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