LEOPARDOS-DAS-NEVES 77
feitos diante de toda a aldeia”, contou Thinley.
“Quando viram isto, os anciãos aderiram todos.”
A partir de então, o programa de seguros (gerido
por uma comissão de moradores locais e apoiado
pela Nature Conservation Foundation (NCF) da
Índia e pelo Snow Leopard Trust foi alargado a
outras aldeias do vale de Spiti. Estes esforços re-
sultaram num maior número de avistamentos
de leopardos-das-neves em redor de Kibber e na
chegada dos primeiros turistas em 2015. No ano
passado, a aldeia recebeu a visita de mais de 200
turistas, que lá gastaram 88 mil euros. Charu, ac-
tual director do Snow Leopard Trust, tem o cuida-
do de atribuir o mérito aos moradores locais, com
os quais mantém contacto próximo. “Fiz algumas
sugestões e a NCF deu financiamento”, disse-me.
“Mas são as pessoas de Kibber e do vale que me-
recem o crédito pelos sucessos de conservação
alcançados.”
lhes ameaçavam os animais. Eles recusaram edu-
cadamente, disse Thinley. “Todos respeitavam
Charu, mas os leopardos-das-neves eram uma
maldição. Ninguém sentia compaixão por eles.”
Charu voltou-se para os jovens de Kibber e su-
geriu-lhes a ideia de um programa de seguros
para o gado. “Nós não sabíamos o que eram segu-
ros”, disse Thinley. Charu explicou que os partici-
pantes pagariam 4 euros por ano para segurar os
seus jovens iaques (que valem cerca de 300 euros
na idade adulta) contra perdas causadas por leo-
pardos-das-neves. Para impedir fraudes, o dono
teria de jurar sobre a fotografia do Dalai Lama que
a morte fora infligida por um leopardo-das-neves.
“Não sabíamos se isto iria resultar”, disse Thin-
ley. No final do primeiro ano, porém, foram pagos
quatro pedidos de seguro. “Os pagamentos foram
O número de leopardos-
-das-neves existentes no
vale de Spiti continua
a ser desconhecido.
Com efeito, apesar dos
esforços determinados
de Schaller e de muitos
outros cientistas, é pra-
ticamente impossível
contá-los.
O seu território estende-se por
doze países da Ásia Central,
abrangendo cerca de dois mi-
lhões de quilómetros quadrados de alguns dos
ambientes mais inóspitos para os seres humanos.
Nos últimos anos, na Mongólia, uma equipa
de investigação conseguiu pôr coleiras de mo-
nitorização por satélite em 32 animais e desco-
briu muito acerca do movimento dos felinos nas
montanhas Tost, no deserto de Gobi. Por exem-
plo, um macho adulto local precisa de cerca de
220 quilómetros quadrados de território (mais do
dobro da área de Lisboa) e uma fêmea precisa de
cerca de 120 quilómetros quadrados.
No entanto, estes números não podem ser apli-
cados a todo o vasto e diversificado território do
leopardo-das-neves. A quantidade de território
de que um felino precisa num deserto de grande
altitude é provavelmente diferente da que preci-
sa na Sibéria, por exemplo.