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de sintomas. Os défices que caracterizam a pertur-
bação, como os atrasos na linguagem, as dificulda-
des de interacção social e os comportamentos re-
petitivos, não costumam aparecer antes dos 2 anos,
idade em que a maior parte das crianças é diagnos-
ticada. “Estamos a falar na detecção dessas carac-
terísticas numa fase em que as crianças têm apenas
alguns marcadores de risco”, diz Joseph Piven.
As crianças com autismo são submetidas a in-
tervenções destinadas a ajudá-las a socializar e a
comunicar, atenuando a severidade das suas al-
terações. Com uma detecção mais precoce, argu-
mentam Piven e os colegas, acabará por ser possível
tomar medidas preventivas, através de estratégias
comportamentais ou de medicação, “capazes de
influenciar o desenvolvimento do cérebro”.
Em 2018, um grupo de investigação chefiado
pelo neurocientista Charles Nelson publicou os
resultados de um estudo demonstrativo da viabi-
lidade da detecção do risco de autismo em bebés
com 3 meses, ao mapear a actividade eléctrica
dos seus cérebros por meio de um electroence-
falograma (EEG). Os investigadores examinaram
crianças entre os 3 meses e os 3 anos de idade e
descobriram que a actividade cerebral dos bebés
mais tarde diagnosticados com autismo se di-
ferenciava da dos restantes. “Logo aos 3 meses,
observamos padrões no EEG capazes de nos dizer
qual o subconjunto de crianças que desenvolverá
autismo”, afirma o líder da equipa.
Estes estudos revelam-nos algo sobre a natureza
atípica do desenvolvimento cerebral, ao longo do
processo conducente ao autismo, e isso parece ser
compatível com as conclusões comportamentais
alcançadas por Klin e colegas. Juntamente com
Warren Jones, neurocientista na Universidade de
Emory, Klin e outros observaram o movimento dos
olhos dos bebés, enquanto estes assistiam a vídeos.
Os bebés com 2 a 6 meses de idade que passavam
menos tempo a olhar as outras pessoas nos olhos,
comparados com os bebés com um desenvolvi-
mento típico, tinham maiores probabilidades de
ser diagnosticados com autismo ao atingirem cerca
Os cientistas sabem que o autismo pode ser
causado por vários genes herdados ou alterados,
juntamente com outros factores, como a idade
avançada de um dos progenitores. Um estudo
fraudulento atribuiu-o à vacina administrada na
infância contra o sarampo, a papeira e a rubéola
- conclusões entretanto desmentidas categorica-
mente. Esta perturbação tem-se tornado cada vez
mais prevalente desde finais da década de 1990.
Segundo os investigadores, isso deve-se em par-
te aos avanços dos diagnósticos, embora exista a
possibilidade de a incidência estar a aumentar,
por factores biológicos ou ambientais.
As origens do autismo não foram ainda deter-
minadas com rigor, mas os investigadores estão a
compreender melhor a forma como evolui. O psi-
quiatra Joseph Piven, da Universidade da Carolina
do Norte, e outros colegas estudaram 106 bebés
com um irmão mais velho autista. Essa circunstân-
cia significa que existia maior probabilidade de de-
senvolvimento da perturbação nos bebés. Ao reali-
zarem exames ao cérebro dessas crianças, aos 6, 12
e 24 meses de idade, recorrendo a imagiologia por
ressonância magnética, os investigadores desco-
briram diferenças significativas entre os bebés que
posteriormente desenvolveram autismo e aqueles
que não o desenvolveram. Em 2017, a equipa apre-
sentou um relatório segundo o qual os cérebros dos
bebés mais tarde diagnosticados com a perturba-
ção cresceram mais depressa do que os de outras
crianças logo a partir dos 6 meses, ocupando uma
maior área de superfície até aos 12 meses e tornan-
do-se mais volumosos no segundo ano de vida.
A ligação entre o crescimento cerebral excessi-
vo e o subsequente diagnóstico de autismo era tão
forte que os investigadores conseguiram basear-se
nos exames feitos ao cérebro aos 6 e aos 12 meses
e preverem, com precisão, um diagnóstico de au-
tismo para 8 em cada 10 bebés nos quais a pertur-
bação foi mais tarde diagnosticada. Os exames que
detectam alterações no normal desenvolvimento
do cérebro têm potencial para ajudar os pediatras a
identificar o autismo muito antes da manifestação
A investigação mais recente levanta a possibilidade
de os bebés com risco de desenvolver autismo
poderem ser conduzidos para uma via reparadora.