Valor Econômico (2020-07-16)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 2 da edição"16/07/20201a CADB" ---- Impressa por rcalheirosàs 15/07/2020@19:52:53


B2|Valor| Quinta-feira, 16 de julhode 2020


Empresas|Carreira


Algoritmos confusos pedem a ajuda de humanos


Rumocerto


ClaudioGarcia


O


recenteanúnciode


ElonMuskquea


Tesladeverá,ainda


esseano,tercarros


comnível5de


automação—quepodemser


completamenteautônomosem


qualquersituação—veiono


momentoemquepoucosetem


ouvidosobreavançosnaárea


deinteligênciaartificial(IA).


Portrásdessequasesilêncio,


existeofatoquenuncaseteve


tantotrabalhohumanono


setor.Masemvezdenovas


aplicaçõesefantásticos


avanços,ofocotemsidoem


retreinarosalgoritmosque


ficaramconfusoscomarápida


mudançadecomportamento


provocadapelacovid-19.


AIAprecisadeumagrande
quantidadededados,que
usualmentesãorotulados
manualmenteparatreinaros
algoritmos.Sãoanosde
investimento,depessoas
dedicadasacompreenderum
contextoparaseaplicara
tecnologia,incluindotodasas
variáveisecondiçõespossíveis
quepossamfazersentidoparase
replicarumadinâmica.
Decertaforma,ascondições
paradesenvolvimentode
algoritmosparacarros
autônomosnãomudampor
causadovírus.Asruasnão
ficarammenores,osobstáculos
nãosedeformarameossensores
nãoficaramdoentes.Masnãose
podefalaromesmodossistemas

quesãodesenvolvidospara
interpretareinfluenciaro
comportamentodehumanos.
SistemasqueutilizamIApara
marketing,planejamentode
produção,armazenamento,
fraude,recomendaçãode
conteúdoouanálisede
sentimentodeclientesforam
treinadosparaumanormalidade
queempoucassemanas
desapareceu.Nãoadiantao
algoritmotentarganharocliente
compreçopromocionalparaum
produtoquesópodeserentregue
emtrêsmeses,quandoelequer
pagarmais,mastê-loamanhã.
Mesmonocombateàcovid-19,
acontribuiçãodeIAtemsido
menordoqueeraesperado.A
ONUeaOMS,emmarço,
lançaramumrelatóriosobreo
usodeIAemtomografiaspara
identificardeformações
causadaspelovírus.Os
resultadosficaramaquémdo
prometido.Amaioriadasações
maisprecisasnacovid-19vieram
detécnicasdeestatísticae

pesquisasmédicastradicionais.
SemdúvidaaIAtem
progredido,nãosóna
automaçãodeveículos,comono
campodamedicinaqueviu
avançosnocombateavários
tiposdecâncer.Mastemosque
estaralertasao‘hy pe’portrásda
realidade.SistemasdeIAainda
estãodistantesdeserem
eficientesperanteoinusitado.
Dadostraduzemoque
aconteceunopassadoe,baseado
neles,tentampreveroquepode,
nãooqueiráocorrernofuturo.
Alémdisso,aIAmodificanossos
comportamentos(video
impactodasredesociaisnas
conversaspolíticas).E,nossos
novoscomportamentosgerama
necessidadedosalgoritmosse
atualizarem(eliminarodiscurso
deódio).Sóqueessesnãose
atualizamsozinhos.Nãoàtoa,
empresasquedependemdeIA,
possuemumadependência
enormedeumgrandenúmero
decientistasdedadospara
interpretaranomaliaseretreinar

algoritmosquandoocontexto
muda.Muitasqueinvestiram
pesadoemIAestão,neste
momento,lamentandoafaltade
profissionaisparamanteresses
sistemas.Maisdelicadaéa
imprevisibilidadedainfluência
daIAemnós.Équaseimpossível
prevercomocomportamentosse
ajustamquandoinfluenciados.
Nofim,grandespossibilidades
tecnológicascaminhamem
realidadesbemhumanas,seja
quandoprecisamosdesenvolver
pessoasparaumarelação
convolutacomalgoritmosou
quandoprecisamoslidarcomas
consequênciasimprevisíveis
dessarelação.Esseéoparadoxo
queempresastemmuita
dificuldadedecompreendere
gerenciar.Apartetecnológicaé
observável,testável,mas
ilusoriamenteprevisível,jáque
dependem,deumnãotão
precisoserhumano.

ClaudioGarciaé professor adjunto de
gestãoglobal na Universidadede Nova York

Vaivém


Stela Campos


Iguá Saneamento
CarlosBrandão éonovoCEO
daIguáSaneamento.Oexecutivo
atuava no IG4 Capitaleantes foi
CFOdaOi,ondeliderouoproces-
sodereestruturaçãodedívida.

Schroders
Oexecutivo ViniciusBuenoLi-
ma éonovoheadof institutional
salesda SchrodersBrasil. Ele pas-
sou pelo Itaú AssetManagement
epelaBlackRock.

ePharma
Eduardo Mangione é novo
presidenteexecutivoda health
tech ePharma.Ele já passoupela
Raia Drogasil,Procter &Gamble
(P&G)eDrogariaOnofre.
E-mail:[email protected]

valor.com.br
Acompanhea movimentaçãode
executivos tambémno site
http://www.valor.com.br/carreira

RacismoEmumasaladeaulanoleste


deLondres,arealidadevemàtona


“O que meus


alunos me


ensinaram


sobre raça”


ALAMY/ FOTOARENA

A professora LucyKellaway, ex-colunistadoFT, contacomoestáeducandoe sendoeducada pelosalunos

LucyKellaway
Do FinancialTimes

A foto à minha frente foi tirada
em um dia de sol,em 1968,no pá-
tioderecreiodaescolaprimáriade
GospelOak, norte de Londres. Es-
tou sentada de pernascruzadas na
primeirafileira,vestindoummini-
vestido floreado, rosa elaranja. Há
35denóse,comexceçãodagarota
sentada algumas fileiras atrás, que
tinhaumpaiasiático,somostodos
brancos. De GospelOak fui para a
Camden School para garotas, uma
escola pública a cercade1,5 quilô-
metros de onde morava. Acabode
desenrolarumafotoescolarde
1976.Estou ao fundo,agoracur-
sando o sexto período (últimos
doisanosantesdauniversidadeno
ReinoUnido). Entre700 estudan-
tes,vejodoisrostosnegros.
Depois, na LadyMargaret Hall,
da Universidadede Oxford, a his-
tória é amesma, a não ser por es-
tarmos maiselegantes. Na foto da
matrícula possome ver,com meu
chapéu pretosubfosco inclinado
em um ângulo ridiculamente ex-
travagante, tentando(sem suces-
so) me diferenciar das mulheres
que me cercavam, em sua maioria
brancas evindas de escolas parti-
culares.Não há foto de grupoem
meuano no J.P.Morgan, obanco
de investimento ao qual me juntei
logodepois.Mas não preciso de
uma.Em meu programa de treina-
mento, éramos nove: todos bran-
cos e de “Ox bridge” (ou de Oxford
ou de Cambridge). Eu era adife-
rente, não pela raça ou classe so-
cial,masporseraúnicamulher.
Quando entreipara o“Financial
Times”poucos anosdepois, soube
que o jornalismo era apenasum
pouco maisfeminino do que a
área bancária, mas nem um pouco
mais diverso racialmente. Quando
deixeio“FT”, tinhapassadoseisdé-
cadasassociada quaseexclusiva-
mente apessoas que estudaram
nas principais universidades, ti-
nhamempregosde prestígioe
eramtodosbrancos. Algumasve-
zes, mesentia semgraça, mas nun-
ca pensei que fosseculpaminha.
Eu era um produtoda classe, gera-
ção,educaçãoeprofissão.
Amorte de George Floydpor
policiais eos protestos que vieram
na sequência fizeram comque to-
dos nós parássemos parapensar
sobrea questão racial. Fizeram li-
berais brancospor todoomundo

começar a examinar o próprio
comportamento embusca de tra-
ços de racismo. No meu caso, essa
auditoria começou, nãocom a
mortedo homem negro em Min-
nesota, mas três anos antes, quan-
do comecei a lecionar em uma es-
cola em Hackney. Aos 58 anos, fui
tiradadeummundoemquetodos
eramcomoeu e levada aoutro, no
qual eu, brancabritânica, era mi-
noria. As famílias de meus alunos
eramimigrantes da primeira, se-
gunda e, às vezes,terceira geração
da Nigéria eGana, do Caribe, Tur-
quia,BangladesheVietnã.
Minha ignorância sobre essas
comunidadesficouóbviajánapri-
meira vez em que tentei fazer a
chamada. Havia 32 nomes na tela
de computadorà minhafrente,
dosquaissóconseguiapronunciar
dez.Não conseguia ir muito além
de Yusuf. Mas e quanto a Kujoe, Ig-
beyokiouDjimon?Nomeapósno-
me, fui errando a pronúncia. Senti
comose tivesse uma grande placa
em cimade minhacabeça dizen-
do: estamulher éuma completa
idiota. E ela, quase certamente,
tambéméracista.

Naquela noite, ligueipara um ve-
lho amigojornalista e conteisobre
minha gafe e comome senti estúpi-
da. “Que ridículo”, exclamou ele.
“Mais brancoque obranco não é ra-
cista.Vem de um anúncio de sabão.
Estou surpreso ao ver você, que cos-
tumava ser a pessoamais destemida
contra o politicamente correto, ce-
der aisso.” Não houvenadade “ce-
der”, disse. Não era uma questãode
ser “politicamente correto”. A ques-
tãoerasimples:seeudigoalgoqueé
ofensivo, tenhoque aprendera não
dizermais.Deimediato.
Porbaixo de tudo isso há uma
grandequestão,paraaqualnãote-
nho resposta. Quando leciono,ca-
be a mimpensar constantemente
sobreaquestãoracialoununca
pensar a respeito? Atérecente-
mente,euteriaoptadopelasegun-
da resposta. Sou pagapara ensinar
economia epara fazer os estudan-
tes acreditarem que uma externa-
lidadepositivaéalgofantástico.Se
fizer isso bem,estou ajudando to-
dos meus estudantes —tanto o ga-
roto que divide um apartamento
de dois quartos comsua mãe de
Bangladesh emais cincoirmãos,
quantoagarotaquemoraemuma
grande casa no VictoriaPark cujo
paiéumaltoexecutivodaBBC.
Em meu primeiro ano como
professora estagiária, me volunta-
rieiparaajudarnoclubededebate
depois das aulas. Penseique podia
aindanãoterdescobertocomoen-
sinar, mas sabia comoargumen-
tar. O clube era comandado por
um jovemprofessorinspirador,
quegostavadetemasincendiários.
Certodia, ele escolheu:“Estacasa
defende que deveriahaver cotas
para professores de minorias étni-
cas”—estudantesnegros,asiáticos
e de minorias étnicas formavam
cerca de 75% do total, enquanto a
maioria dos professoresera bran-
ca. Fuiencarregada de orientar o
ladoque defendiaaproposição,

mas fui de poucaajuda.Sem in-
fluência minha,a equipe levantou
trêsfortes argumentos. Um: pro-
fessores negros são melhores mo-
delos de inspiração para estudan-
tesnegros.Dois:estudantesnegros
se sentem maisconfortáveis em
pedir ajudaa professoresnegros,
que têm maischance de compre-
enderalguns de seus problemas.
Três:aúnicaformadetermaispro-
fessores negros é por meiode co-
tas; sem elas, eles são restringidos
peloracismo.
Ouvi o debate (vencido facil-
mentepormeulado),mesentindo
cada vez maisincomodada.Passei
ameperguntarsepodiasertãoútil
nesta escola quanto esperava. De-
pois, perguntei a dois amigosne-
gros,quesãoprofessores.Ambos
disseram que o racismo, seja sutil
ounão,osrestringira,eambosdis-
seram que estudantes negros fre-
quentemente reclamavam que
erammaispunidos com retenção
apósasaulasdoqueosbrancos.
Isso me deixou duplamente des-
confortável. Primeiro,comonunca
estivenapontaqueévítimadoracis-
mo, minhatendência éminimizar a
importância dos relatosdos outros.
Segundo, ocorreu-me que os alunos
que ficamem minhasretenções
após as aulassão principalmentedo
sexomasculinoenegros.Tenhocon-
fiançade que qualquergarotoque
eu tenha punidofoi por ter infringi-
do alguma regrada escola. Mas será
quehouvegarotosbrancosquetam-
bém as violaram eque, de alguma
forma,oslivrei?Esperoquenão,mas
comoposso ter certeza? Esse é outro
problemaquemepreocupa.Suspei-
to que, assim comotodos os demais
na Terra, tenho vários viesesincons-
cientes. Sei que meu coraçãoestá no
lugar certo quanto a questões ra-
ciais,mastambémseiquemeucora-
çãoéumórgãoirrelevanteparaatra-
vessaresse campominado.Preciso
deorientação.

Tomei consciência maisprecisa-
mentesobre até que ponto asitua-
ção égrave há poucos meses,quan-
do fui juíza em uma competição de
oratória.CadaescoladeHackneyen-
viou dois alunos de 15 anos que ha-
viam feito os melhoresdiscursos so-
brequalquerassuntoquequisessem
falar. Na noite do evento, estava sen-
tadanamesadosjuízesemumaudi-
tórioeouvimaisde20alunosproje-
taremsuas vozesefalaremoque
sentiam no coração,sem anotações.
Deveria ter sido animador, mas saí
me sentindo maisamargurada do
que quando cheguei.Entre os fina-
listas, oitoeram garotasnegras, sen-
do que a primeira fezum discurso
impactantede comose sentiamar-
ginalizada como jovem mulherne-
gra.Agarotaseguintefezumdiscur-
sosobrecomoosideaisdebelezafe-
mininanãoincluíamanegra.Osou-
tros seisdiscursos seguiramlinhas
parecidas.Todos os desempenhos
foramde médios a eletrizantes, mas
oassuntofoimesmo.

“Aos 58anos,fuitiradade
ummundoemquetodos
eramcomoeue levadaa
outro, noqualeu,branca
britânica,era minoria”

Como passar do tempo, fiquei
melhorcomos nomes (e agora
nemsei por que os achavatão
complicados), mas cometioutros
erros piores. Em meu segundo
ano,estava dandouma aula de ad-
ministração arespeitode ética. “As
empresas”, expliqueiàclasse,“es-
tão desesperadaspor mostrar ao
mundoque são ‘maisbrancas que
o branco’”. Houve suspiros. Um
par de estudantes trocou olhares.
Afraseantiquada,quepareciainó-
cua quando se formou em minha
cabeça, ficou horrível eequivoca-
da no momento em quesaiu da
minha boca e chegou à sala. No se-
gundo seguinte, precisei calcular.
Devointerromperaliçãoemedes-
culpar? Ou será que isso abriria
umacaixadePandoradequeixase
ressentimento? Decidi seguir
adiante.Comoaescolaébemrigo-
rosa,ninguém me contestoudire-
tamente, masfiqueiabalada.É
umafrasequenuncamaisusarei.

“Comonuncaestive na
pontaqueé vítimado
racismo,minha tendência
é minimizara importância
dosrelatos dosoutros”

Não sei qual deve ser aresposta
em termos de medidaspolíticas.
Não sei nemoquefazer, se éque
existealgo,em minha sala de aula,
alémdetentarnãosoltarmaisbes-
teiras ultrapassadas. Na ausência
de ideias melhores, achoque tudo
oquepossofazeréouvirmeusalu-
nos falarem sobreseu mundo,en-
quanto continuofalando sobre o
meu para eles. Estou educando-os.
Eelesestãomeeducando.

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Tecnologia


e IA na


retomada


póscovid


AméricaLatina


Barbara Bigarelli
De São Paulo

Inteligência artificial,tecnolo-
gias de gestãoe ferramentasde
gerenciamento de risco serão
consideradasmaisimportantes
na fase de recuperação dos negó-
cios e das companhias da Améri-
caLatinanopóspandemia.
Essa percepçãoaparece na se-
gundaedição do GlobalBusiness
Barometer, pesquisa da The Eco-
nomist Intelligence Unit (The
EIU) com apoiodo SAS. O levan-
tamento, que demonstraoalto
pessimismo dos executivoslati-
no-americanosem relaçãoaeco-
nomia regional nos próximos
meses,foi realizadocom2,758
executivos de 118 países, sendo
50delesdaAméricaLatina.
No recortelatino-americano,
todosdiscordamque suas com-
panhiasestejampreparadaspara
a reaberturatotaldas operações,
aomenosdaformacomofuncio-
navamnoprécovid-19.Masacre-
ditamque as tecnologiasajuda-
rãonaretomada.
Maisde 60% citaramque inte-
ligênciaartificialemachinelear-
ningserãomaisimportantesna
fase de recuperaçãodos seus ne-
gócios,76% falaramem tecnolo-
giasparaogerenciamentoderis-
co, 74% tecnologiasde computa-
ção em nuveme internetdas coi-
sas e70% ferramentasde gestãoe
governançadedados.
CassioPantaleoni,presidente
do SAS Brasil, avalia que a covid-
19acelerouaadoçãoeabuscade
tecnologiasem váriasfrentes das
organizações.“A primeirarazãoé
que, com apandemia,as organi-
zaçõesestãovivendoem uma es-
péciede grandelaboratóriocom
relaçãoao formato de trabalhoe
ferramentas remotas. Antes,
muitasviamcom certoreceiode
adotá-laspor uma questãode se-
gurança e produtividade.O se-
gundo fatoré amaior preocupa-
ção comferramentas paramiti-
garoriscooperacional,queficou
maispulverizado,eparadetectar
fraudesdecibersegurança”, diz.
A pesquisa tambémmostrou
que há umapreocupaçãopara
68% dos executivos da América
Latina em melhorara experiên-
cia digitalde seus consumidores,
indo alémdo que está sendoofe-
recido. Atotalidade dos latino-
americanos ouvidostambémin-
dica que irão limitaras viagens
de negóciosde seus colaborado-
resapósovírussercontido.
“Recentemente,um executivo
de um grandebancobrasileiro
me disseque apandemiaajudou
a quebraro paradigmade que é
imprescindível estarpresentefi-
sicamenteo tempotodo”, afirma
Pantaleoni.
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