Exame - Portugal - Edição 436 (2020-07)

(Antfer) #1
AGOSTO 2020. EXAME. 15

de passar por aqui: por perceber quais são
os grupos de risco e proteger esses grupos.
Era uma forma de o resto da sociedade não
ter de pagar o custo de um confinamento.
Em resumo, o que acho que quero dizer é:
utilizemos as evidências médicas para to-
mar decisões. E estou a falar de termos em
conta evidências científicas e não aquilo
que alguns políticos afirmam ser evidên-
cias. Por outro lado, os médicos não são
economistas. E algumas decisões que to-
maram foram trágicas [para a economia].

Mas ninguém sabia exatamente o que fa-
zer, não é?
Eu acho bem que os médicos queiram sal-
var o máximo de vidas possível. Acho que
o Anthony Fauci [diretor do Instituto Na-
cional de Alergia e Doenças Infeciosas dos
EUA] tem razão em querer salvar as pes-
soas. Mas se formos todos encarcerados em
casa, a longo prazo morremos de qualquer
forma. Pode não ser da Covid-19, mas de
outra coisa. Sei lá, comidos por insetos? Pa-
rece-me ter sido um erro no início desta
pandemia termos deixado tudo nas mãos
dos epidemiologistas. Porque aquilo que
vimos também foi que muitos dos mode-
los de evolução da doença estavam erra-
dos. Houve modelos do Imperial College
errados. E muitos economistas estão a se-
guir o mesmo caminho. Tenho visto arti-
gos científicos tão maus, sinceramente. Eu
sou editor e revejo muitos: vi imensos que
denunciavam pressa, que não tinham ba-
ses factuais... Honestamente, não creio que
precisemos de profundas decisões econó-
micas. Acredito é que precisamos de boa
economia.

Que se oiça mais as várias áreas do saber?
Talvez fosse boa ideia adequar o sistema
político a uma forma que ele responda à
informação válida de cada campo. Era im-
portante agir de uma forma mais flexível.
Aqui, nos EUA, estamos a agir como se es-
tivéssemos a passar pela recessão de 2008,
novamente. É errado! São, literalmente, os
políticos a lutar a guerra de ontem. Não es-
tão a pensar na natureza do problema, nem
estão a considerar o que faz sentido fazer
neste caso em particular. A maior parte dos
políticos, pelo menos nos EUA, são muito
maus. A sério, podem ter cursos superiores
e tudo o mais, mas, no final do dia, a úni-

Estamos a


agir como se


estivéssemos


a passar pela


recessão de


2008! São,


literalmente, os


políticos a lutar


a guerra de


ontem”


Tais como?
Como vamos obrigar os mais velhos a fica-
rem em casa? Através de uma quarentena
obrigatória? Em instituições é mais fácil de
controlar, não é? Acho que vai haver pen-
samentos deste género e acredito que as
políticas vão evoluir. Não estou pessimis-
ta, confesso. Exceto sobre a qualidade dos
políticos em redor do mundo. Acho que são
uns incompetentes. E acho que não vão en-
frentar o problema se o puderem evitar. Há
formas concretas de resguardar os mais ve-
lhos, embora seja preciso alterar a forma
como as pessoas são tratadas, sobretudo
nas instituições coletivas onde muitas vezes
estão. Acho que essa é a solução mais visí-
vel, neste momento. Diria que tem mesmo

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