Exame - Portugal - Edição 436 (2020-07)

(Antfer) #1

Entrevista



  1. EXAME. AGOSTO 2020


ca coisa que eles querem é ser reeleitos no
final do quarto ano de mandato. São igno-
rantes. Eles basicamente vão para onde o
vento estiver a soprar.


Mas sobreviveremos, economicamente?
Enfim, sim, acho que a economia pode
tolerar este vírus. Se formos espertos. Se
os políticos não se meterem no caminho,
acho que nos podemos organizar de forma
efetiva. Na altura da peste negra, as pes-
soas abandonaram as cidades. Não sabiam
o mecanismo exato, mas perceberam que
estar juntas não era uma boa ideia. Por
exemplo, não entendo qual o problema de
Donald Trump em usar uma máscara. Até
para dar o exemplo. E não quero estar sem-
pre a falar dele, mas vou repetir: acho que
os políticos são um problema neste caso.
Na China, por ser uma ditadura, é efetiva-
mente mais fácil controlar tudo: proibiu-se
o comércio, ficou tudo em casa, e de facto
controlou-se o coronavírus. E quando hou-
ve outra vaga em Beijing, voltaram a fechar
a cidade. Portanto, há vantagens num es-
tado ditatorial, nestes casos.


É impossível não falarmos do movimento
Black Lives Matter (BLM), porque o pro-
fessor tem muita investigação feita na
área...
Eu fiz muita investigação neste campo, mas
o assunto tornou-se tão sensível que eu não
tenho publicado nada. E, para ser honesto,
quem não é afro-americano e publica so-
bre o tema já não é ouvido, aqui nos EUA.
É um assunto muito sensível, e por alguma
razão agora acha-se que só afro-america-
nos podem falar sobre ele, o que eu acho
um erro. Até a Universidade de Chicago in-
corporou essa ideia.


Ainda assim, pode comentar?
Bom, acho que o BLM se focou na ideia
da desigualdade racial. Vamos ver, é óbvio
que ninguém acha que aquilo que acon-
teceu com George Floyd é uma coisa boa.
Ninguém discute isso. Mas vamos olhar
para o assunto mais genericamente, além
da questão negros e brancos. Tomemos o
exemplo da Covid, de que temos estado a
falar: entre 70% e 80% dos casos da Co-
vid-19 que temos atualmente em Chica-
go são entre pessoas negras. Os negros re-
presentam entre 25% e 30% da população


É muito
aborrecido,
o que nos
mostram as
estatísticas,
e as pessoas
não querem
ir por aí”

da cidade. Se olharmos para as questões
sociais, o que temos são muito mais ne-
gros a viver na pobreza, a cumprir penas
de prisão... factos. Outro facto que impor-
ta realçar: se olharmos para as estatísti-
cas que estão disponíveis publicamente, a
percentagem de homicídios entre negros e
brancos é baixa. Existem, não estou a negar
que existem, mas em termos percentuais
é muito baixa. Na verdade, a taxa de ho-
micídios de homens negros é muito ele-
vada quando olhamos para crimes come-
tidos por outros negros. Há muitos crimes
de violência doméstica, também...É muito
aborrecido o que nos mostram as estatísti-
cas e as pessoas não querem ir por aí, mas
é isso que elas nos mostram.
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