Banco Central do Brasil
Revista Carta Capital/Nacional - Nosso Mundo
sexta-feira, 31 de julho de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas
competição – a utilização do mercado como
instrumento de desenvolvimento – e o máximo
de controle. Os chineses controlam as
instituições centrais da economia competitiva
moderna. Os bancos públicos e as empresas
públicas dirigem e facilitam o investimento
produtivo e em infraestrutura. Essa flexibilidade
institucional foi decisiva para o avanço da
economia chinesa. As autoridades reafirmam
frequentemente que o sistema deve continuar
“aberto” às projeções de longo prazo.
Os binários da inteligência oscilam suas
percepções para nomear a experiência
chinesa: “Capitalismo de Estado” ou
“Socialismo de Mercado”? O Estado não
intervém como um intruso indesejável, mas é
um partícipe estratégico que apoia o
investimento privado para reduzir riscos e
incerteza. Aqueles que discorrem sobre
instituições, Estado e mercado, eficiência,
indústria e competitividade a partir das
banalidades “modelísticas” não conseguem
controlar o queixo sempre caído.
O Estado planeja, financia em condições
adequadas, produz insumos básicos com
preços baixíssimos e exerce invejável poder de
compra. Na coordenação entre o Estado e o
setor privado está incluída a “destruição
criativa” da capacidade excedente e obsoleta
mediante reorganizações e consolidações
empresariais, com o propósito de incrementar a
“eficiência” microeconômica, para alentar a
eficiência “macroeconômica”.
A iniciativa privada sente-se resguardada
contra os choques de incerteza e pode se
empenhar na acumulação de capital, mediante
investimentos em ativos tecnológicos,
produtivos e comerciais. A “ampliação do papel
do mercado e o reforço às empresas estatais”
são um oximoro para inteligências binárias,
cujos neurônios batem no tiquetaque do
“Estado ou mercado”.
O projeto Made in China 2025 desobedece às
batidas binárias. Está empenhado em
assegurar políticas de apoio financeiro para
impulsionar avanços tecnológicos em áreas
estratégicas. Esse projeto estimula a
associação entre os fundos de investimento
públicos (Government Guidance Funds –
GGFs) e fundos privados de venture capital e
private equity.
A Comissão Nacional de Desenvolvimento e
Reforma (NDRC) reforçou os programas de
conversão de dívida em capital (debt-equity
swaps) com novas abordagens para aliviar os
encargos da dívida das empresas e impulsionar
a sua vitalidade. O vice-presidente da
comissão, Li Keqiang, declarou que a
conversão de dívida em capital baseada no
mercado, com apoio na lei, é medida
importante para estimular as empresas com
potencial de mercado a administrar os
encargos da dívida e promover o crescimento,
com eficiente gerenciamento do risco.
Na edição de 13 de julho, o jornal Valor
Econômico publicou um artigo do economista
de Harvard Dani Rodrik. Instigante para as
dúvidas de uns, contestador às certezas de
outros, o texto avalia o conflito comercial
Estados Unidos-China. Sabem todos e mais
alguns que o conflito foi deflagrado pelo
idiossincrático neoprotecionismo de Donald
Trump.
Escreve Rodrik: “Para começar, devemos
reconhecer que um modelo econômico misto e
orientado pelo Estado sempre esteve na raiz do
sucesso econômico chinês. Se metade do
milagre econômico da China reflete sua volta
aos mercados após o fim da década de 1970, a
outra metade é resultado de políticas
governamentais ativas que protegiam antigas