Clipping Banco Central (2020-08-01)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Revista Exame/Nacional - Opinião
quinta-feira, 30 de julho de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

de nossos principais desafios, atingir o
equilíbrio fiscal, tornou-se ainda mais urgente.
A dívida bruta poderá chegar a 98% em 2020.
Austeridade rigorosa depois disso está fora de
questão: as demandas sociais são muitas.
Nossa melhor perspectiva, portanto, é a de
uma lenta transição para o equilíbrio fiscal. E
isso é especialmente grave porque limita o uso
de armas fiscais para nossa recuperação
econômica: investimento público e corte de
impostos estão fora do arsenal. Restam a
política monetária e a esperança de que a
agenda de reformas e privatizações traga o
otimismo e o crescimento que não trouxe nos
últimos três anos. Não há motivos para crer
que o consumo privado por si só dará conta do
recado: a pandemia torna as famílias mais
cautelosas, menos propensas a gastar.


Desdobramentos globais
A pandemia revelou a importância da
cooperação internacional. No entanto, tornou-a
mais difícil. No plano global, as tensões tendem
a subir. Embora tenha sido a primeira nação
afetada pela pandemia, a China (assim como
outros asiáticos) está tendo uma recuperação
econômica rápida, ao contrário do que parece
ser o caso dos Estados Unidos. A China
aproveitou o momento para se tornar muito
mais assertiva em sua diplomacia, auxiliando
outras nações no combate à pandemia e dando
a seus diplomatas carta-branca para rebater
críticos — como tem feito Yang Wanming,
embaixador no Brasil. Ao mesmo tempo, outras
nações gostariam de ter suas cadeias de
produção menos dependentes da China.


Muito do desenrolar das tensões depende do
resultado das eleições americanas em outubro.
A vitória de Joe Biden parece mais provável,
mas já vimos esse filme antes, então é melhor
não contar com isso. A tensão entre a China e
os Estados Unidos é inevitável, mas com
Trump ela se dará de forma mais errática e


com o enfraquecimento das redes de
cooperação globais. Para um país
independente e que busca agora se encaixar
na globalização — caso do Brasil —, o
momento será ainda mais desafiador. Como
não fechar portas a nenhum dos lados se o
mundo caminha para uma nova guerra fria?

Aprendemos alguma coisa?
No Brasil, em vez de usar a pandemia para unir
o país e curar fraturas políticas, o governo
escolheu — pelo menos inicialmente —
polarizar o debate ainda mais. Sairemos desta
mais desunidos e mais ressentidos uns com os
outros. A tensão foi elevada ao limiar da
ruptura até junho. De algumas semanas para
cá, Bolsonaro parece ter finalmente
abandonado a estratégia — desastrosa para
ele próprio — de criar conflitos constantes. Mas
não há volta para a confiança que ele queimou
até agora e para o rastro de ressentimentos
criados. Fake news, milícias digitais e
cancelamentos continuam na ordem do dia.

A pandemia nos mostrou a importância da
cooperação. A precariedade dos órgãos de
cooperação internacional — como a OMS — e
a negação peremptória do governo federal de
exercer seu papel aqui no Brasil tornaram a
crise de saúde pública muito pior do que ela
precisaria ser. Ao mesmo tempo, essa mesma
crise tornou a cooperação mais difícil no futuro.
As distâncias aumentaram, assim como os
ressentimentos políticos. O coronavírus vai
passar. Novas e maiores ameaças — como o
aquecimento global — virão. Não será só uma
gripezinha...

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas, Banco Central - Perfil
1 - Paulo Guedes
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