Clipping Banco Central (2020-08-01)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Revista Época/Nacional - Notícias
sexta-feira, 31 de julho de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Mansueto Almeida

ave que usa suas bicadas para furar o barco
que leva todos para a “salvação”. A primeira
desavença foi logo no início da pandemia,
durante as discussões para o lançamento do
chamado Pró-Brasil. Coordenado pela Casa
Civil, o plano prevê obras públicas para retomar
a atividade econômica no pós-pandemia. Para
evitar que seja taxado como um plano
gastador, ou um novo PAC — o Programa de
Aceleração do Crescimento do governo Dilma
Rousseff —, o governo também incluiu na
proposta uma agenda de facilitação de
investimentos privados, que é o que defende
Guedes desde o começo. Quando a
apresentação do Pró-Brasil foi feita, no Palácio
do Planalto, a principal presença no evento era
a ausência de Paulo Guedes.


As indisposições se aprofundaram com o
passar dos meses, quando foi debatida uma
consulta ao Tribunal de Contas da União
(TCU) sobre a possibilidade de driblar o teto de
gastos, que é hoje a única âncora fiscal do
país, vista como fundamental por sinalizar um
compromisso de longo prazo com o ajuste
fiscal. O objetivo era saber se é possível utilizar
créditos extraordinários para pagar obras
públicas. Esse tipo de crédito é editado por
medida provisória (MP) e, por sua natureza,
não conta para o teto de gastos. A Constituição
Federal diz que o crédito extraordinário pode
ser editado para atender a despesas
imprevisíveis e urgentes, como as decorrentes
de guerra, comoção interna ou calamidade
pública. São essas características que fazem
as despesas necessárias para combater a
pandemia serem todas realizadas por crédito
extraordinário e, portanto, fora do teto. O
movimento fez a equipe econômica estrilar.
Mas ministros do TCU avisaram informalmente
ao Palácio que seria difícil adotar uma
interpretação tão ampla para a possibilidade de
edição dessas MPs.


Mas não foi só com colegas de Esplanada que
Guedes andou se desentendendo nos últimos
tempos. Depois de rasgar elogios a Rodrigo
Maia após a aprovação da reforma da
Previdência, o ministro passou mais de dois
meses sem falar com o presidente da Câmara.
A relação, que nunca foi das melhores,
desandou durante as negociações para a
proposta de socorro a estados e municípios
durante a pandemia. Guedes não concordou
com o texto de Maia, aprovado na Câmara, e
partiu para negociar diretamente com o
presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-
AP). Dias depois de o ministro entregar
finalmente sua proposta de reforma tributária (a
primeira parte dela), Maia foi ao prédio do
ministério, levado pelo ministro das
Comunicações, Fábio Faria, numa tentativa de
retomar o diálogo.

As negociações para o Fundeb (fundo que
financia a educação básica) evidenciaram esse
distanciamento. Na última hora, o governo
enviou sua proposta para um texto que já era
discutido havia anos pela Câmara. Guedes
acabou conseguindo inserir algumas de suas
ideias, mas o resultado foi interpretado como
uma derrota. O ministro tentou implantar no
Fundeb um percentual que poderia ser
direcionado para o Renda Brasil, o que foi visto
como artimanha política, além de ter proposto
que parte dos repasses fosse feita fora do teto
de gastos. Ou seja, para além da inabilidade
política junto ao Congresso, o ministro passou
a impressão de que o próprio Ministério da
Economia estaria querendo driblar a regra que
tanto defende, tal como os “pica-paus da Arca
de Noé”. Depois do leite derramado, a equipe
econômica disse ter sido mal interpretada.

São atribuídas às intrigas palacianas os boatos
que surgem vez ou outra sobre a saída de
Guedes do governo. As dificuldades que sua
equipe encontrou de implantar a tal agenda
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