Clipping Banco Central (2020-08-01)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Revista Época/Nacional - Notícias
sexta-feira, 31 de julho de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Mansueto Almeida

emergencial ultrapassou os 45%. É com esses
dados em mãos que a equipe econômica
conduz os estudos sobre o novo programa. Um
auxiliar de Guedes que participa diretamente
das discussões, ao tentar justificar a eficácia
política da medida, disse que, entre os
beneficiários de hoje, poucos se lembram de
que o Bolsa Família foi uma junção de
programas sociais criados pelo PSDB, como o
Bolsa Escola e o Vale Gás. A esperança de
Guedes é que a memória curta do eleitor
também tire do PT os louros do programa,
relegando-os a Bolsonaro.


Apesar da nova faceta expansionista ter mais a
ver com o economista John Maynard Keynes
do que com o mentor dos Chicago Boys, Milton
Friedman, Guedes tem reforçado a seus
assessores que não vai abandonar por
completo a defesa das reformas estruturais e
privatizações, que caminham a passos lentos
pelas mãos de seu secretário, Salim Mattar.
Para ele, é possível conciliar as duas
estratégias: a elaboração de um programa
social potente e a manutenção de uma agenda
de reformas. O caminho das pedras, contudo,
ainda é desconhecido. O custo do Renda
Brasil, como ele caberá no teto de gastos e
como será financiado são questões que ainda
carecem de explicações, já que o programa
ainda não está concluído dentro do ministério
— o que deverá ocorrer até setembro, que é o
último mês de pagamento do auxílio.


Guedes tem comparado a atual situação ao
tanque de combustível de um carro. Uma
reforma estrutural seria capaz de enchê-lo. Mas
esse combustível corre o risco de ser usado
somente pelo próximo governante,
naturalmente opositor a Bolsonaro. Por isso,
ainda segundo a analogia do ministro, o ideal
seria “encher o tanque e gastar o combustível
durante o mandato”. Tal comparação já havia
sido usada por Guedes quando ele criou a


proposta de ajuste fiscal para estados, no ano
passado, o chamado Plano Mansueto, em
referência ao ex-secretário do Tesouro
Nacional Mansueto Almeida, que deixou o
governo em julho.

A saída de Mansueto, já cantada havia meses
pelo próprio Guedes, não tem necessariamente
a ver com o fracasso de seu plano para os
estados, que foi desfigurado dentro do
Congresso no início do ano. Mas, associada à
debandada de outros três aliados de primeira
ordem do ministro, dá o tom de que a equipe
não vive seus melhores dias. Marcos Troyjo,
secretário especial de Comércio Exterior, saiu
para presidir o banco dos Brics. Caio Megale,
diretor de programas da Secretaria Especial de
Fazenda da pasta, disse que iria para o setor
privado. Por último, o presidente do Banco do
Brasil e ex-Chicago Boy Rubem Novaes
também disse adeus, insinuando a
interlocutores frustração com os rumos do
governo. Em entrevista à CNN Brasil, afirmou
não ter se adaptado “à cultura de privilégios,
compadrio e corrupção de Brasília”. Guedes
veio a público negar que houvesse uma saída
em massa. Mas, fora do governo, há quem
ligue as baixas na equipe a um sentimento de
frustração com a agenda liberal aliado ao
fortalecimento de um grupo antagônico ao de
Guedes, liderado pelo ministro da Casa Civil, o
general Walter Braga Netto, e que defende
deliberadamente o uso do investimento público
para fazer a economia acordar — pensamento
desenvolvimentista que prevalece entre os
membros da caserna desde a Primeira
República.

Guedes tem tido atritos com o general e
também com seu ex-secretário de Previdência,
hoje ministro do Desenvolvimento Social,
Rogério Marinho, outro entusiasta da agenda
de investimentos. O ministro tem comparado
esse grupo ao “pica-pau da Arca de Noé”, a
Free download pdf