National Geographic - Portugal - Edição 233 (2020-08)

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Essa passou a ser a sua fi losofi a orientado-
ra. Colaborando num programa dirigido pelo
Departamento de Estado dos EUA, ajudou
antigos médicos e cientistas dos programas
soviéticos de armamento químico e biológi-
co a transformarem-se em investigadores de
doenças infecciosas em tempos de paz. Isso
levou-o a trabalhar durante uma década na
DARPA (Agência para os Projectos de Inves-
tigação Avançada em Defesa do Pentágono),
onde desenvolveu um programa denominado
Prophecy, destinado a prever e travar doenças
emergentes.
Os antecedentes de Michael Callahan dota-
ram-no de uma visão
invulgar para a melhor
maneira de nos adap-
tarmos à COVID-19 e a
outras doenças emer-
gentes que surgirão no
futuro. A protecção da
nossa saúde, segundo
ele, poderá depender
de descobrirmos ma-
neiras de ajudar outros
países a satisfazerem
as suas próprias neces-
sidades, mesmo que os
respectivos governos
nacionais sejam aberta-
mente hostis e que es-
sas necessidades nem
sempre pareçam servir
os próprios interesses nacionais de curto prazo.
Precisamos de uma visão de longo prazo.
Na Indonésia, por exemplo, a sobrepesca
dizimou as populações costeiras de produtos
do mar e o direito islâmico proíbe a ingestão
de carne de porco. Isso obriga a garantir um
abastecimento seguro de proteína, sobretu-
do depois de um surto de gripe das aves ter
causado enormes prejuízos à avicultura. Por
isso, no início, o programa Prophecy concen-
trou-se discretamente na protecção dos stocks
de galinhas. Entre outras medidas, forneceu
à Indonésia competências de sequencia-
ção genética a nível local, que lhe permi-
tiram identifi car os agentes patogénicos,
reduzindo a sua dependência face às potências
ocidentais.


Na Indonésia “o nosso capital aumentou e
conseguimos aceder aos domínios importan-
tes”, ou seja, à vigilância dos agentes patogéni-
cos humanos. “A DARPA, normalmente consi-
derada uma agência militar secretista, foi um
parceiro bem-vindo.”
Outra estratégia importante do Prophecy
consistiu em identifi car, nos países menos
desenvolvidos, médicos jovens e inteligentes
especializados em doenças infecciosas e criar
vínculos de longa duração. Isso poderá impli-
car fornecer-lhes novas tecnologias, trazê-los
para faculdades de medicina dos EUA para
lhes dar formação complementar ou conce-
der-lhes bolsas para
novas investigações.
“Ao promoverem o
seu parceiro estrangei-
ro, promovem-se tam-
bém a si próprios, tor-
nando-se líderes no
seu domínio, e isso tem
duas vantagens: obtêm
fi nanciamento susten-
tável no seu próprio
país e nós asseguramos
um emissário muito
grato que se encontra
agora no topo dos...
serviços secretos de in-
formação sobre agen-
tes patogénicos”, diz
Michael Callahan.
Um desses parceiros estrangeiros foi um
investigador na Rússia que Callahan ajudou
a fazer a transição das armas biológicas para
a detecção de doenças epidémicas. Em 2005,
o laboratório desse investigador localizou um
surto de H5N1, uma gripe aviária capaz de de-
vastar as aves de criação e as aves selvagens.
Também consegue dar o salto para os huma-
nos e matar os jovens, destruindo-lhes os
pulmões. A doença estava a deslocar-se para
nordeste, para a região onde as rotas aéreas
asiáticas e americanas se sobrepõem, na zona
do estreito de Bering. O alerta precoce permi-
tiu que os cientistas dos EUA iniciassem um
importante programa de testes a aves migrató-
rias no Alasca, impedindo a entrada da doença
no continente.

CAPÍ TULO QUATRO

Entrámosnum
assustadormundo
novo.Outalvez
estejamosa
regressaraovelho
mundodosnossos
antepassados
assoladospela
peste.Sejacomo
for,a liçãoé nãonos
esquecermosde
queistoaconteceu.
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