National Geographic - Portugal - Edição 233 (2020-08)

(Antfer) #1

PANDEMIASDOPASSADO 35


Umcaixãocontendoo cadáverdeumestrangeiroquemorreudurantea pandemiadaCOVID -encontra-senuma
morguedeMilãoatépoderserenviadoparao seupaís.AsmorguesnaLombardiaficaramdetalmaneirasobrelota-
dasqueoscorpostiveramdeserenviadosparaoutrasregiões,ondeforamcremados.Asautoridadesitalianas
proibiramosfuneraisemtodoo país,obrigandoasfamíliasa fazeremo lutopelosseusentesqueridosemcasa.
GABRIELEGALIMBERTI

O programa Prophecy chegou ao fi m alguns
anos depois de Callahan concluir o seu traba-
lho na DARPA. A principal tendência entre os
governos de todo o mundo tem sido desvalo-
rizar o risco das pandemias e subfi nanciar os
programas concebidos para preveni-las. As-
sim, no passado mês de Outubro, a adminis-
tração federal dos EUA permitiu que o Predict,
outro programa focado em doenças emergen-
tes, fosse terminado. Menos de um mês mais
tarde, registou-se o primeiro caso conhecido
da COVID-19 na China. E pouco depois as víti-
mas norte-americanas começaram a engrossar
as fi leiras dos mortos a nível mundial.
A actual pandemia irá aumentar os esforços
para prever e controlar as doenças pandémi-
cas, pelo menos durante algum tempo. Mas
ninguém sabe ainda que forma deverá assu-
mir a prevenção, quanto custará, nem como as
economias destruídas irão pagá-la.
Irão os países participar no longo jogo da
cooperação internacional? Ou irá acentuar-se
a tendência para a defesa dos interesses nacio-

nais de curto prazo? Será que uma sociedade
que pouco discutiu o dispêndio de 11,5 mil mi-
lhões de euros num porta-aviões, maioritaria-
mente ao serviço da prevenção de confl itos ar-
mados, estará também disposta a incorrer em
despesas ainda maiores para prevenir as doen-
ças epidémicas? Este tipo de prevenção não
assegura nenhum rendimento tangível, não
resulta em qualquer objecto heróico palpável,
proporcionando apenas o conhecimento in-
satisfatório de que a catástrofe que temíamos
não chegou a acontecer.
Entrámos num assustador mundo novo. Ou
talvez estejamos a regressar ao velho mundo
dos nossos antepassados assolados pela peste.
A grande lição que devemos retirar da história
é a seguinte: quando a actual pandemia acabar
por se dissipar, não podemos dar-nos ao luxo
de nos esquecermos de que ela aconteceu.
Não podemos limitar-nos a seguir em frente.
Algures no planeta, a próxima grande pande-
mia, o próximo anjo destruidor, já está a ga-
nhar asas para voar. j
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