urbanas, isso é, urbano-residentes. Às atividades e profissões tradicionais juntam-se novas
ocupações e às burguesias e classes médias tradicionais juntam-se as modernas, formando uma
mescla de formas de vida, atitudes e valores. Tal cidade, cujo papel de comando técnico da produção
é bastante amplo, tem também um papel político frente a essa mesma produção. Mas, na medida em
que a produção agrícola tem uma vocação global, esse papel político é limitado, incompleto e indireto.
O mundo, confusamente enxergado a partir desses lugares, é visto como um parceiro inconstante.
Sem dúvida, os diversos atores têm interesses diferentes, às vezes convergentes, certamente
complementares. Trata-se de uma produção local mista, matizada, contraditória de idéias. São visões
do mundo, do país e do lugar elaboradas na cooperação e no conflito. Tal processo é criador de
ambigüidades e de perplexidades, mas também de uma certeza dada pela emergência da cidade
como um lugar político, cujo papel é duplo: ela é um regulador do trabalho agrícola, sequioso de uma
interpretação do movimento do mundo, e é a sede de uma sociedade local compósita e complexa,
cuja diversidade constitui um permanente convite ao debate.
15.Compartimentação e fragmentação do espaço: o caso do Brasil
O exame do caso brasileiro quanto à modernização agrícola revela a grande
vulnerabilidade das regiões agrícolas modernas face à “modernização globalizadora”. Examinando o
que significa na maior parte dos estados do Sul e do Sudeste e nos estados de Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul, bem como em manchas isoladas de outros estados, verifica-se que o campo
modernizado se tornou praticamente mais aberto à expansão das formas atuais do capitalismo que as
cidades. Desse modo, enquanto o urbano surge, sob muitos aspectos e com diferentes matizes, como
o lugar da resistência, as áreas agrícolas se transformam agora no lugar da vulnerabilidade.
O papel das lógicas exógenas
De tais áreas pode-se dizer que atualmente funcionam sob um regime obediente a
preocupações subordinadas a lógicas distantes, externas em relação à área da ação; mas essas
lógicas são internas aos setores e às empresas globais que as mobilizam. Daí se criarem situações
de alienação que escapam a regulações locais ou nacionais, embora arrastando comportamentos
locais, regionais, nacionais em todos os domínios da vida, influenciando o comportamento da moeda,
do crédito, do gasto público e do emprego, incidindo sobre o funcionamento da economia regional e
urbana, por intermédio de suas relações determinantes sobre o comércio, a indústria, os transportes e
os serviços. Paralelamente, alteram-se os comportamentos políticos e administrativos e o conteúdo
da informação.
Esse processo de adaptação das regiões agrícolas modernas se dá com grande rapidez,
impondo-lhes, num pequeno espaço de tempo, sistemas de vida cuja relação com o meio é reflexa,
enquanto as determinações fundamentais vêm de fora.
Num mundo globalizado, idêntico movimento pode ser também rapidamente implantado
em outras áreas, num mesmo país ou em outro continente. Assim, a noção de competitividade
mostra-se aqui com toda força, politicamente ajudada pelas manipulações do comércio exterior ou