A vontade de homogeneização do dinheiro global é contrariada pelas resistências locais
à sua expansão. Desse modo, seu processo tende a ser diferente, segundo os espaços
socioeconômicos e políticos.
Há, também, uma vontade de adaptação às novas condições do dinheiro, já que a fluidez
financeira é considerada uma necessidade para ser competitivo e, conseqüentemente, exitoso no
mundo globalizado.
A constituição do Mercado Comum Europeu, isto é, da Comunidade Econômica
Européia, a instituição da ASEAN e o pretendido estabelecimento da ALCA obedecem a esse mesmo
princípio, de modo a permitir às respectivas economias, mas sobretudo aos Estados líderes e às
empresas neles situadas, que possam participar de modo mais agressivo do comércio mundial,
buscando – o que lhes parece necessário – a cobiçada hegemonia.
A Europa é o subcontinente mais avançado no que toca a essa questão. É verdade que o
processo de unificação européia se inicia após a Segunda Guerra Mundial e vem realizando etapas
sucessivas, sendo a última, em data, a constituição do mercado comum financeiro, do qual a moeda
única, o euro, constitui o símbolo. As etapas precedentes constituíram uma espécie de preparação
para unificação financeira e incluíram medidas objetivando a fluidez das mercadorias, dos homens, da
mão-de-obra e do próprio território, inclusive nos países menos desenvolvidos, de modo a que a
Europa como um todo se pudesse tornar um continente igualmente fluido. Sem isso e sem o reforço
da idéia de cidadania – uma cidadania agora multinacional para os signatários do Tratado de
Schengen -, seria impossível pensar numa moeda única sem aumentar as diferenças e desequilíbrios
já existentes.
Completando esse pano de fundo, a unificação monetária é considerada um fator
indispensável ao estabelecimento de uma economia européia competitiva ao nível global, mediante
uma divisão de trabalho renovada, segundo a qual alguns países vêem reforçadas algumas de suas
atividades e devem renunciar a outras, após uma concertação, às vezes longa e penosa, em
Bruxelas. Na verdade, porém, essa unificação e equalização intra-européia acaba por ser mais um
episódio de uma guerra, porque destinadas a fortalecer a Europa para competir com os outros
membros da Tríade e tirar proveito de suas relações assimétricas com o resto do mundo.
O caso latino-americano e brasileiro é diferente. O próprio Mercosul mantém, por
enquanto, uma prática limitada ao comércio, e seu próprio projeto é menos abrangente quanto às
relações sociais, culturais e políticas. Não há uma clara preocupação de buscar um desenvolvimento
homogêneo e as iniciativas de investimento têm muito mais a ver com o crescimento do produto, isto
é, com o florescimento de certo número de empresas voltadas para o comércio regional, das quais,
aliás, algumas são igualmente inseridas no comércio mundial. Por outro lado, diferentemente do caso
europeu, as moedas nacionais não são propriamente conversíveis, nem comunicáveis diretamente
entre elas. Sua relação com o mundo é pobre, tanto quantitativa como qualitativamente, já que são
moedas dependentes, cujo desvalimento aumenta face à globalização, constituindo um elemento a
mais de agravamento de sua própria dependência.
Efeitos do dinheiro global
Esta é uma das razões pelas quais a decisão de participar passivamente da globalização