insatisfatória, leva à sua migração.
As verticalidades são, pois, portadoras de uma ordem implacável, cuja convocação
incessante a segui-la representa um convite ao estranhamento. Assim, quanto mais “modernizados” e
penetrados por essa lógica, mais os espaços respectivos se tornam alienados. O elenco das
condições de realização das verticalidades mostra que, para sua efetivação, ter um sentido é
desnecessário, enquanto a grande força motora seria aquele instinto animal das empresas
mencionado, há decênios, por Stephan Hymer e agora multiplicado e potencializado a partir da
globalização.
As verticalidades realizam de modo indiscutível aquela idéia de Jean Gottmann (“The
evolution of the concept of territory”, Information sur les Sciences Sociales, 1975) segundo a qual o
território pode ser visto como um recurso, justamente a partir do uso pragmático que o equipamento
modernizado de pontos escolhidos assegura.
As horizontalidades
As horizontalidades são zonas da contigüidade que formam extensões contínuas.
Valemo-nos, outra vez, do vocabulário de François Perroux quando se referiu a existência de um
“espaço banal” em oposição ao espaço econômico. O espaço banal seria o espaço de todos:
empresas, instituições, pessoas; o espaço das vivências.
Esse espaço banal, essa extensão continuada, em que os atores são considerados na
sua contigüidade, são espaços que sustentam e explicam um conjunto de produções localizadas,
interdependentes, dentro de uma área cujas características constituem, também, um fator de
produção. Todos os agentes são, de uma forma ou de outra, implicados, e os respectivos tempos,
mais rápidos ou mais vagarosos, são imbricados. Em tais circunstâncias pode-se dizer que a partir do
espaço geográfico cria-se uma solidariedade orgânica, o conjunto sendo formado pela existência
comum dos agentes exercendo-se sobre um território comum. Tais atividades, não importa o nível,
devem sua criação e alimentação às ofertas do meio geográfico local. Tal conjunto indissociável
evolui e muda, mas tal movimento pode ser visto como uma continuidade, exatamente em virtude do
papel central que é jogado pelo mencionado meio geográfico local.
Nesse espaço banal, a ação atual do Estado, além de suas funções igualmente banais, é
limitada. Na verdade, mudadas as condições políticas, é nesse espaço banal que o poder público
encontraria as melhores condições para sua intervenção. O fato de que o Estado se preocupe
sobretudo com o desempenho das macroempresas, às quais oferece regras de natureza geral que
desconhecem particularidades criadas a partir do meio geográfico, leva à ampliação das
verticalidades e, paralelamente, permite o aprofundamento da personalidade das horizontalidades.
Nestas, ainda que estejam presentes empresas com diferentes níveis de técnicas, de capital e de
organização, o princípio que permite a sobrevivência de cada uma é o da busca de certa integração
no processo da ação.
Trata-se, aqui, da produção local de uma integração solidária, obtida mediante
solidariedades horizontais internas, cuja natureza é tanto econômica, social e cultural como
propriamente geográfica. A sobrevivência do conjunto, não importa que os diversos agentes tenham
interesses diferentes, depende desse exercício da solidariedade, indispensável ao trabalho e que gera
a visibilidade do interesse comum. Tal ação comum não é obrigatoriamente o resultado de pactos