avassaladora, é o da criação da ordem da racionalidade pragmática, enquanto a produção do espaço
banal é residual. Pode-se, todavia, imaginar outro cenário, no qual o comportamento do espaço de
fluxos seja subordinado não como agora à realização do dinheiro e encontre um freio a essa forma de
manifestação, tornando-se subordinado à realização plena da vida, de modo que os espaços banais
aumentem sua capacidade de servir à plenitude do homem.
18.A esquizofrenia do espaço
Como sabemos, o mundo, como um conjunto de essências e de possibilidades, não
existe para ele próprio, e apenas o faz para os outros. É o espaço, isto é, os lugares, que realizam e
revelam o mundo, tornando-o historicizado e geografizado, isto é, empiricizado.
Os lugares são, pois, o mundo, que eles reproduzem de modos específicos, individuais,
diversos. Eles são singulares, mas são também globais, manifestações da totalidade-mundo, da qual
são formas particulares.
Ser cidadão num lugar
Nas condições atuais, o cidadão do lugar pretende instalar-se também como cidadão do
mundo. A verdade, porém, é que o “mundo” não tem como regular os lugares. Em conseqüência, a
expressão cidadão do mundo torna-se um voto, uma promessa, uma possibilidade distante. Como os
atores globais eficazes são, em última análise, anti-homem e anticidadão, a possibilidade de
existência de um cidadão do mundo é condicionada pelas realidades nacionais. Na verdade, o
cidadão só o é (ou não o é) como cidadão de um país.
Ser “cidadão de um país”, sobretudo quando o território é extenso e a sociedade muito
desigual, pode constituir; apenas, uma perspectiva de cidadania integral, a ser alcançada nas escalas
sub-nacionais, a começar pelo nível local. Esse é o caso brasileiro, em que a realização da cidadania
reclama, nas condições atuais, uma revalorização dos lugares e uma adequação de seu estatuto
político.
A multiplicidade de situações regionais e municipais, trazida com a globalização, instala
uma enorme variedade de quadros de vida, cuja realidade preside o cotidiano das pessoas e deve ser
a base para uma vida civilizada em comum. Assim, a possibilidade de cidadania plena das pessoas
depende de soluções a serem buscadas localmente, desde que, dentro da nação, seja instituída uma
federação de lugares, uma nova estruturação político-territorial, com a indispensável redistribuição de
recursos, prerrogativas e obrigações. A partir do país como federação de lugares será possível, num
segundo momento, construir um mundo como federação de países.
Trata-se, em ambas as etapas, de uma construção de baixo para cima cujo ponto central
é a existência de individualidades fortes e das garantias jurídicas correspondentes. A base geográfica
dessa construção será o lugar, considerado como espaço de exercício da existência plena. Estamos,
porém, muito longe da realização desse ideal. Como, então, poderemos alcançá-lo?
O cotidiano e o território
O território tanto quanto o lugar são esquizofrênicos, porque de um lado acolhem os