governantes que fossem mais benevolentes. Ao contrário, negavam-lhes o direito de governar. “Os
que trabalham nas fábricas devem ser os seus donos”, exigia a imprensa operária, sustentando os
ideais da revolução americana da forma como os entendia a turba perigosa.
As eleições de 1994 para o Congresso Federal constituem um exemplo revelador do hiato
entre retórica e fato. Elas foram rotuladas de “terremoto político”, uma “vitória esmagadora”, um
“triunfo do conservadorismo” que reflete a contínua “guinada à direita”, dado que os eleitores deram
um “mandato popular avassalador” ao exército ultradireitista de Newt Gingrich, que prometeu “tirar
o governo das nossas costas” e trazer de volta os dias felizes em que reinava o livre mercado.
Vol!ando aos fatos, essa “vitória esmagadora” foi obtida com pouco mais da metade dos votos
validos, cerca de 20 por cento do eleitorado, números que praticamente não diferem daqueles de
dois anos antes, quando os democratas venceram. Um de cada seis eleitores descreveu o resultado
como “uma aprovação da plataforma republicana”. Um em cada quatro ouvira falar do Contrato
com a América, que apresentou essa plataforma. E, quando informada, a população praticamente o
recusou na íntegra, por larga maioria. Cerca de 60 por cento do público queria o aumento dos
gastos sociais. Um ano mais tarde, 80 por cento dos eleitores defenderam que “o governo federal
deve proteger os membros mais vulneráveis da sociedade, especialmente os pobres e os idosos,
garantindo-lhes um nível de vida mínimo e provendo-lhes benefícios sociais”. Entre 80 e 90 por
cento dos americanos apóiam as garantias federais de assistência pública para os que não podem
trabalhar, o seguro-desemprego, o subsídio para a compra de remédios com receita, os serviços de
enfermagem para idosos, um nível mínimo de assistência à saúde e seguridade social. Três quartos
dos eleitores defendem a assistência federal aos filhos de mães trabalhadoras de baixa renda. A
pertinácia de tais atitudes é particularmente notável à vista do incessante assalto da propaganda
para persuadir as pessoas de que elas acreditam em coisas radicalmente diferentes.
Estudos de opinião pública mostram que quanto mais os eleitores aprendiam sobre o
programa republicano no Congresso, mais se opunham ao partido e ao seu programa parlamentar.
O guia da revolução, Newt Gingrich, já era impopular no momento de seu “triunfo” e continuou
caindo consistentemente até se tornar, talvez, a figura política mais impopular do país. Um dos
aspectos mais cômicos das eleições de 1996 foi à cena em que os aliados mais próximos de Gingrich
se debatiam para negar qualquer conexão com seu líder e suas idéias. Nas eleições primárias, o
primeiro candidato a desaparecer, quase que imediatamente, foi Phil Gramm, o único representante
dos republicanos, muito bem apoiado financeiramentre e dizendo todas as frases que se crê que os
eleitores gostam de ouvir, a julgar pelas manchetes. Na verdade, a quase totalidade das questões
políticas desapareceu instantaneamente tão logo os candidatos tiveram de enfrentar os eleitores em
janeiro de 1996. O exemplo mais espetacular foi o do equilíbrio orçamentário. Durante todo o ano
de 1995, a questão mais importante do país era o prazo em que ele deveria ser alcançado, se em
sete anos ou um pouco mais. O governo foi paralisado várias vezes enquanto a controvérsia seguia
acirrada. Assim que começaram as primárias, não se falou mais em orçamento. O Wall Street
Journal disse, surpreendido, que os eleitores “abandonaram a sua obsessão com o equilíbrio
orçamentário”. A verdadeira “obsessão” dos eleitores era exatamente o oposto, como haviam
mostrado regularmente as pesquisas de opinião: eles se opunham a qualquer hipótese
minimamente realista de equilíbrio orçamentário.
Para ser preciso, uma parte do público compartilhava a “obsessão” de ambos os partidos com
o equilíbrio orçamentário. Em agosto de 1995, o déficit foi indicado como o problema mais
mariadeathaydes
(mariadeathaydes)
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