de entidades empresariais cada vez mais interconectadas, cada vez mais dependentes de estados
poderosos e menos controláveis pelo público. O imenso poder dessas entidades vem crescendo como
resultado de uma política social que está globalizando o modelo estrutural do Terceiro Mundo, com
setores incrivelmente ricos e privilegiados lado a lado com o aumento “da parcela dos que irão
labutar sob as agruras da vida e alimentar secretas aspirações de uma distribuição mais igualitária
de suas bênçãos”, como previu James Madison, o principal estruturador da democracia norte-
americana, há dois séculos^32 , Essas opções políticas são absolutamente evidentes nas sociedades
anglo-americanas, mas se estendem por todo o mundo. Elas não podem ser atribuídas àquilo que o
“livre mercado decidiu em sua infinita e misteriosa sabedoria”^33 , ao “ímpeto implacável da
‘revolução do mercado”‘, ao “inflexível individualismo da era Reagan”, nem à “nova ortodoxia” que
“dá rédea solta ao mercado”. Ao contrário, a intervenção estatal, desempenha um papel decisivo,
como no passado, e os contornos básicos dessas políticas dificilmente podem ser vistos como
novidade. As versões atuais refletem a “clara subjugação do trabalho pelo capital” durante mais de
quinze anos, segundo a imprensa de negócios^34 , que relata freqüentemente, com precisão, as
concepções de uma comunidade de negócios altamente consciente de sua condição e dedicada à
guerra de classes.
Se essas idéias são válidas, então o caminho para um mundo mais justo e mais livre está
muito afastado do campo delimitado pelo privilégio e pelo poder. Não pretendo aqui provar essa
conclusão, mas apenas sugerir que ela é verossímil o bastante para ser analisada com atenção. E
pretendo sugerir ainda que as doutrinas predominantes dificilmente sobreviveriam se não fosse por
sua contribuição para a “arregimentação da opinião pública, da mesma forma como um exército
arregimenta seus soldados”, para citar novamente Edward Bernays, quando expôs ao mundo dos
negócios as lições que haviam sido aprendidas com a propaganda do tempo de guerra.
De maneira surpreendente, nas duas democracias mais importantes do mundo havia uma
crescente consciência da necessidade de se “aplicarem as lições” dos sistemas de propaganda
altamente bem-sucedidos da 1ª Grande Guerra “à organização da guerra política”, como colocou a
questão o líder do Partido Conservador britânico há setenta anos. Nos Estados Unidos, os liberais
wilsonianos, dentre eles conhecidos intelectuais e notáveis figuras da ciência política então em
desenvolvimento, chegaram às mesmas conclusões, na mesma época. No outro extremo da
civilização ocidental, Adolf Hitler jurou que da próxima vez a Alemanha não seria derrotada na
guerra de propaganda, e também concebeu seus próprios métodos para aplicar as lições da
propaganda anglo-americana à guerra política interna.^35
Enquanto isso, o mundo dos negócios alertava para o “risco com que se defrontavam os
industriais” no “recém-percebido poder político das massas” e para a necessidade de livrar e vencer
“a perpétua batalha pelas mentes dos homens” e “doutrinar os cidadãos com a crônica do
capitalismo” até que “eles sejam capazes de repeti-la com absoluta fidelidade”; e assim por diante,
numa torrente impressionante, acompanhada por esforços ainda mais impressionantes.^36
Para descobrir o verdadeiro sentido dos “princípios políticos e econômicos” ditos “a onda do
futuro”, é evidentemente necessário ir além dos floreios retóricos e pronunciamentos públicos e
investigar a prática efetiva e os documentos internos. O exame cuidadoso de casos particulares é o
caminho mais frutífero, mas eles devem ser escolhidos com muito cuidado, para que apresentem
um quadro justo. Há algumas diretrizes naturais. Um método razoável é tomar os exemplos
escolhidos pelos próprios proponentes das doutrinas, os seus casos mais fortes. Outro é investigar
mariadeathaydes
(mariadeathaydes)
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