Esses desenvolvimentos são muito importantes. As potências da OCDE e seus públicos
internos evidentemente não irão aceitar a derrota. Tomarão iniciativas mais eficazes na área das
relações públicas para explicar às hordas que o melhor que elas têm a fazer é cuidar de seus
próprios afazeres e deixar que os negócios do mundo sejam conduzidos em segredo, e buscarão
também outras formas de implementar o AMI, na OCDE ou em outro quadro qualquer.^100 Já há
esforços no sentido de mudar a carta do FMI para se aplicarem medidas do gênero AMI como
condição para a concessão de empréstimos, impondo dessa forma suas regras aos fracos, aos
outros, em última instância. Os realmente poderosos seguirão as suas próprias regras, como
quando o governo Clinton interrompeu seus emocionados apelos em favor do livre comércio para
aplicar tarifas proibitivas aos supercomputadores japoneses, que estavam prejudicando os
fabricantes norte-americanos (ditos “privados” apesar de sua maciça dependência de subsídios e
proteção pública).^101
Mesmo sabendo que o poder e o privilégio com certeza não vão descansar, as vitórias
populares devem ser inspiradoras. Elas ensinam lições sobre o que se pode conquistar mesmo
quando a desigualdade das forças em luta é tão bizarra quanto à do confronto em torno do AMI. É
verdade que são vitórias defensivas. Mas elas impedem, ou pelo menos adiam, o enfraquecimento
ainda maior da democracia e a transferência de mais poderes para as mãos das tiranias privadas
em rápido processo de concentração, que querem administrar os mercados e se constituir num
“Senado virtual” que dispõe de diversos meios de frustrar o desejo popular de usar as formas
democráticas em benefício do interesse do público: a ameaça da fuga de capitais, a transferência
das unidades de produção, o controle da mídia e outras formas de coação. Devemos prestar muita
atenção ao medo e ao desespero dos poderosos. Eles compreendem muito bem o alcance da “arma
definitiva” e só esperam que aqueles que buscam um mundo mais livre e justo não adquiram essa
mesma compreensão e a coloquem efetivamente em uso.
Artigo publicado originalmente em Z, em julho/agosto de 199 8.