A loucura da razão econônica- David Harvey

(mariadeathaydes) #1
122 / A loucura da razão econômica

múltiplas aplicações no campo dos transportes, da mineração, da lavoura e da moa-
gem, sem falar das fábricas e seus teares mecânicos. E precisa aqui a analogia com
os computadores nos dias de hoje e suas inúmeras aplicações. Uma vez que se torna
um negócio, a tecnologia produz uma mercadoria - novas tecnologias ou formas
organizacionais — que precisa encontrar ou até mesmo criar um novo mercado.
Não estamos mais diante do empreendedor individual que tenta encontrar ma­
neiras de aprimorar a produtividade por meio de invenções e inovações em seu
próprio estabelecimento de produção, e sim de um vasto setor da indústria especia­
lizado em inovação e dedicado a vender inovações para os demais (tanto produtores
quanto consumidores). A mercearia ou a loja de ferragens da esquina é instigada,
persuadida e eventualmente forçada (pelas autoridades tributárias) a adotar uma
sofisticada máquina de negócios para gerir seu estoque e controlar vendas, compras
e impostos. O custo dessa tecnologia pode excluir do setor os pequenos negócios
em benefício de grande lojas e centros atacadistas, favorecendo, portanto, a cres­
cente centralização de capital. A adoção de muitas dessas inovações depende de sua
capacidade de disciplinar e desempoderar os trabalhadores, elevar a produtividade
da mão de obra e aumentar a eficiência e a velocidade da rotação do capital tanto
na produção quanto na circulação. Com isso, o capitalismo como um todo cai de
amores pela transformação tecnológica e pela certeza do progresso econômico. A
crença fetichista nas soluções e inovações tecnológicas como resposta a todos os
problemas enraíza-se ainda mais, bem como como a falsa idéia de que deve haver
um primeiro motor. Essa crença fetichista é alimentada por aquele segmento do
capital que transforma inovação e tecnologia em um grande negócio, com consul­
tores especializados em formas organizacionais vendendo receitas para melhorar a
gestão, empresas farmacêuticas criando remédios para doenças que não existem e
peritos em informática insistindo em sistemas de automação que ninguém, além
de uns poucos iniciados, consegue compreender. Empreendedores e corporações
capitalistas não adotam inovações porque querem, mas porque são persuadidos a
fazê-lo ou porque precisam fazê-lo a fim de obter ou manter sua fatia de mercado
e assim garantir sua reprodução enquanto capitalistas.
Não é preciso aceitar o aparato conceituai de Marx para ver a coerência de seus
argumentos a respeito das origens do fetichismo tecnológico. O fetichismo não é
puramente imaginário, ele possui uma base muito real. A produtividade aparece
como a grande chave para a estabilidade e o crescimento capitalista, e a taxa de
lucro é crucialmente determinada por ela. Quando Alan Greenspan mostra que
a questão dos ganhos de produtividade é colocada como o centro da dinâmica
do capitalismo estadunidense, ele não está embarcando em divagações fictícias.
O perigo, como vimos na recente conturbação dos mercados de capital, é atribuir
aos ganhos de produtividade um papel que simplesmente não podem cumprir. Os

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