A questão da tecnologia / 125
compreensão e seu dom ínio da natureza por sua existência como corpo social - em
sum a, o desenvolvimento do indivíduo social. O roubo de tem po de trabalho alheio, sobre
o qual a riqueza atual se baseia, aparece como fundam ento miserável em comparação
com esse novo fundam ento desenvolvido, criado por meio da própria grande indústria.
Tao logo o trabalho na sua forma im ediata deixa de ser a grande fonte da riqueza, o
tempo de trabalho deixa, e tem de deixar, de ser a sua m edida e, em consequência, o va
lor de troca deixa de ser [a medida] do valor de uso. O trabalho excedente da massa deixa
de ser condição para o desenvolvimento da riqueza geral, assim como o não trabalho dos
poucos deixa de ser condição do desenvolvimento das forças gerais do cérebro hum ano.
Com isso, desmorona a produção baseada no valor de troca [...]. O próprio capital é a
contradição em processo, [pelo fato] de que procura reduzir o tempo de trabalho a um
m ínim o, ao mesmo tempo que, por outro lado, póe o tempo de trabalho como única
m edida e fonte da riqueza. [...] Por um lado, portanto, ele traz à vida todas as forças da
ciência e da natureza, bem como da combinação social e do intercâm bio social, para
tornar a criação da riqueza (relativamente) independente do tempo de trabalho nela
empregado. Por outro lado, ele quer m edir essas gigantescas forças sociais assim criadas
pelo tempo de trabalho e encerrá-las nos lim ites requeridos para conservar o valor já
criado como valor.21
Isso tem sido destacado como a contradição central da evolução do capital, uma
contradição com consequências de amplo alcance.
Uma vez que se tornou um negócio, a tecnologia fez o que todo negócio pro
cura fazer: estender seu alcance, construir novos mercados e atrair investimentos
de capital portador de juros para sustentar e ampliar sua posição como próspera
esfera de criação de valor e mais-valor no interior da divisão geral de trabalho. Na
época em que Marx escrevia, esse negócio estava ainda em suas etapas incipientes,
formativas. No entanto, ele reconheceu claramente que as indústrias de máquinas-
-ferramenta e de engenharia mecânica (com o motor a vapor à frente) estavam
destinadas a desempenhar um papel poderoso no setor da tecnologia por meio
da criação de tecnologias genéricas. Mas, na medida em que estava concentrado
sobretudo no processo de valorização no Livro I de O capital, Marx não chegou
a investigar a fundo as novas tecnologias e formas organizacionais que estavam
se desenvolvendo na realização, no consumo e na reprodução social (incluindo a
reprodução da força de trabalho). Hoje, as tecnologias utilizadas num domicílio
médio dos Estados Unidos estão muito além de qualquer coisa que Marx pudesse
imaginar. Ele também não examinou em detalhes a complexa arena da distribuição
(embora tenha reconhecido a importância das formas de organização industrial,
(^21) Karl Marx, Grundrisse, cit., p. 588-9.