126 / A loucura da razão econômica
como a empresa de capital aberto e as inovações no mundo bancário e financeiro,
assim com o a florescente esfera de criação de antivalor no interior do sistema de
crédito). M arx não tinha m uito que dizer sobre as rápidas transformações que
ocorriam no cam po das infraestruturas físicas, embora, é claro, os canais, os barcos
a vapor, as ferrovias, os telégrafos e a iluminação a gás, assim como o abasteci
mento de água, tenham sido dignos de nota em seus escritos. M as são mencio
nadas as tecnologias de administração estatal, saúde pública, educação e inovação
militar. Esta última é há tempos um centro importante de inovação no que diz
respeito à concepção de novos produtos e novos m odos de organização, softwares e
hardwares. Formas militarizadas de vigilância e controle, de policiamento e re
gulação tornaram-se amplamente disseminadas. A tecnologia como negócio não
demonstrou absolutamente nenhuma inibição a se aventurar onde M arx não se
arriscou. Ela colonizou com gostq todas essas áreas.
A impressão que nos fica, ao ler Marx, é a do capital circulando com as com bi
nações tecnológicas em constante transformação, muitas vezes de maneira disrup-
tiva, no momento da produção, enquanto o restante do processo de circulação -
realização, distribuição e reinvestimento - permanece intocado. A verdade, é claro,
é que as tecnologias de circulação também sofreram mudanças dramáticas. A ques
tão é saber até que ponto os insights e os comentários prescientes de M arx resistem
ao escrutínio contemporâneo, considerados seus evidentes pontos cegos.
Penso que ninguém diría que mudanças tecnológicas na esfera da valorização
são irrelevantes. N a medida em que M arx demonstra, em seu esmdo, que o capital
tem de ser tecnológicamente dinâmico a todo custo, isso configura uma afirmação
universal a respeito da natureza do capital que vale tanto para a época de Marx
quanto para a nossa. A transformação tecnológica e organizacional é endógena e
inerente ao capital, e não exógena e acidental (como muitos estudos frequentemen
te a apresentam).
M arx identifica uma série de fatos relacionados que merecem nossa atenção.
Em primeiro lugar, as inovações em um a esfera provocam efeitos de externalidade
que proliferam de tal forma que há um a consequente difusão de impulsos tecnoló
gicos e organizacionais ao longo da totalidade de qualquer sistema capitalista. Em
segundo lugar, quando a tecnologia se torna um negócio autônomo, ela deixa de
responder primariamente a determinadas necessidades e passa a criar inovações que
precisam encontrar e definir novos mercados. A partir desse momento, ela precisa
criar ativamente novas vontades, necessidades e desejos não apenas nos produ
tores (pelo consum o produtivo), mas também, como todos nós testemunhamos
cotidianamente à nossa volta, nos consumidores. O negócio prospera e promove
ativamente a crença fetichista na existência de soluções tecnológicas para todos
os problemas. E m terceiro lugar, a maneira pela qual M arx situa essas mudanças