A loucura da razão econônica- David Harvey

(mariadeathaydes) #1
166 / A loucura da razão econômica

valor do capital fixo ou o fundo de consumo é resgatado. O s investimentos que os
Estados Unidos fizeram no ensino superior permitiram contra-atacar os efeitos da
desindustrializaçáo que afligiu o setor manufatureiro nos anos 1970. Empresas de
alta tecnologia com o Google, M icrosoft, Amazon e afins se consolidaram rapida­
mente com o monopolistas globais, embora, como sempre, os benefícios escoem
para o capital, e não para os trabalhadores.
M esmo na época de Marx, as relações entre diferentes regimes de valor eram
propensas a crises.


Pode ocorrer que a crise estoure primeiro na Inglaterra, no país que concede o maior
crédito e toma o mínimo, porque a balança de pagamentos, [...] que têm de ser
¡mediatamente liquidados, é desfavorível a ela, embora a balança comercial geral lhe
seja favorivel. [...] O crash produzido na Inglaterra, iniciado e acompanhado pela
drenagem de ouro, salda a balança de pagamentos desse país [...]. Logo chega a vez
de outro país.24

O s custos da desvalorização são forçados de volta à região que iniciou o processo:

Primeiro, a evasão de metais preciosos; em seguida, a liquidação das mercadorias rece­
bidas em consignação, a exportação de mercadorias para liquidá-las ou para conseguir
dentro do país adiantamentos em dinheiro sobre elas; a alta da taxa de juros, o cance­
lamento dos créditos, a queda dos papéis de crédito, a venda de títulos estrangeiros, a
atração de capital estrangeiro para ser investido nesses títulos desvalorizados e, final­
mente, a falência, que compensa toda uma massa de créditos.25

A Inglaterra, ao se deparar com o problema da superacumulação no século XIX,
resolveu o problema emprestando dinheiro à Argentina para a construção de ferro­
vias que usaram o equipamento excedente fabricado pelos ingleses. H á m uita coisa
familiar nesse tipo de sequência. M as o pressuposto tácito de M arx é que o mundo
precisa ser estudado e compreendido a partir das relações flutuantes de poder entre
os diferentes regimes de valor da economia global.
A grande diferença entre a época de Marx e a nossa é que, hoje, o surgimento de
tais crises não é marcado por um a drenagem de ouro (embora isso ocorra) nem po­
de ser resolvido com exportação de metais preciosos, ainda que a balança comercial
entre os países seja uma fonte crucial de instabilidades globais. As crises são con­
tidas em geral por meio de empréstimos do FM I — à custa de severas medidas de


24 Karl Marx, O capital, Livro III, cit., p. 548.
25 Ibidem, p. 575.
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