A loucura da razão econônica- David Harvey

(mariadeathaydes) #1

46 / A loucura da razão econômica


nando, é claro, na construção de cidades). Igualmente importantes são as revolu­
ções nas relações espaciais (por meio de investimentos) e as inovações nas áreas de
transporte e comunicações. Vantagens de localização são relativas, não absolutas.
Terrenos em regiões remotas, que comercialmente não valiam nada, tornam-se va­
liosos de repente em razão da construção de um sistema ferroviário ou rodoviário.
Proprietários fundiários ou imobiliários que extraem renda dessas vantagens di­
ferenciais prestam um grande serviço ao capital em geral: eles equalizam as condi­
ções para a concorrência perfeita entre capitalistas industriais (nesse caso, agrícolas)
que trabalham com ou na terra. Se o produtor industrial X obtivesse permanente­
mente uma taxa de lucro muito mais alta que a do produtor Y em virtude de ocu­
par uma localização superior ou de possuir um terreno mais fértil, a força motriz
da concorrência intercapitalista estaria permanentemente embotada e as leis de
movimento do capital estariam permanentemente prejudicadas. De fato, o capital
faz um pagamento paralelo aos proprietários, impedindo o acesso do trabalho à
terra e aplanando o caminho para a concorrência perfeita entre os espaços desiguais
de um mercado nacional ou mesmo mundial.
Marx está interessado sobretudo na forma distintamente capitalista de proprie­
dade e renda fundiária. Em seus escritos históricos, no entanto, ele reconhece que
a posse da terra e a renda são formas sociais que representam relações sociais de
tipos muitos diferentes numa variedade de situações pré-capitalistas. A erradicação
dos resíduos feudais, por exemplo, até hoje não foi totalmente concluída, mesmo
após anos de esforço capitalista. Na Grã-Bretanha, a Igreja, a Coroa e um pequeno
número de famílias aristocratas ainda detêm grandes extensões de terra. O que
Marx demonstrou, no entanto, foi que o capitalismo não pode funcionar sem uma
forma distinta de renda fundiária. O que ele não previu foi que novas formas de
renda capitalista pudessem desenvolver-se no interior das estruturas evolutivas do
capitalismo e que a prática do rent-seeking pudesse ir muito além do que ele consi­
derava necessário e funcional, bem como politicamente tolerável para uma forma
madura de desenvolvimento capitalista. O rent-seeking pela especulação no merca­
do imobiliário e de recursos naturais (como poços de petróleo) já é suficientemente
deplorável. Mas o que dizer do rent-seeking sobre a propriedade intelectual? Isso é
um exemplo de um desdobramento que Marx não previu, mas que nós, analis­
tas contemporâneos, temos de enfrentar. Da mesma forma que os comerciantes,
como bloco faccional de poder, vão com frequência muito além da competência
que Marx originalmente atribuiu a eles como atores necessários do funcionamento
adequado do capital, os rentistas tendem a fazer o mesmo nos mercados fundiário,
imobiliário e de ativos de todos os tipos.

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