A loucura da razão econônica- David Harvey

(mariadeathaydes) #1
O capital / 53

própria perspectiva, mas a totalidade do que está acontecendo na praça pública
será mais bem capturada se assistirmos aos três vídeos juntos. Na leitura que se
faz d’ O capital há urna forte tendência a favorecer o ponto de vista da valorização,
conforme articulado no Livro I, em detrimento dos pontos de vista da realização e
da distribuição, conforme analisados e descritos nos outros dois livros. Essa ênfase
tendenciosa conduz a sérios equívocos, em minha opinião. O intuito de considerar
o capital como uma totalidade é precisamente reconhecer como as diferentes fases
pressupõem e preflguram as demais. Embora cada fase seja autônoma e indepen­
dente, todas as fases são subsumidas no movimento da totalidade. A linguagem que
emprego aqui é a mesma que Marx usa explícitamente na caracterização do capital
financeiro e do movimento de sua ramificação portadora de juros.
Os diferentes momentos do processo de circulação do capital se casam e se
correlacionam de maneira frouxa, não são perfeitamente encaixados numa união
funcional.


Como totalidade, esse próprio sistema orgânico tem seus pressupostos, e seu desenvol­
vimento na totalidade consiste precisamente em subordinar a si todos os elementos da
sociedade, ou em extrair dela os órgãos que ainda lhe faltam. É assim que devém uma
totalidade historicamente. O vir a ser tal totalidade constitui um momento de seu pro­
cesso, de seu desenvolvimento.17

Ou, como ele coloca em outro lugar:

O resultado a que chegamos não é que produção, distribuição, troca e consumo são
idênticos, mas que todos eles são membros de uma totalidade, diferenças dentro de
uma unidade. A produção tanto se estende para além de si mesma na determinação
antitética da produção como se sobrepõe sobre os outros momentos. É a partir dela que
o processo sempre recomeça. É autoevidente que a troca e o consumo não podem ser
predominantes. Da mesma forma que a distribuição como distribuição dos produtos.
No entanto, como distribuição dos agentes da produção, ela própria é um momento
da produção. Uma produção determinada, portanto, determina um consumo, uma
troca e uma distribuição determinados, bem como relações determinadas desses diferentes
momentos entre si. A produção, por sua vez, certamente é também determinada, em sua
forma unilateral, pelos outros momentos. P. ex., quando o mercado se expande, i.e.,
a esfera da troca, a produção cresce em extensão e subdivide-se mais profundamente.
Com mudança na distribuição, modifica-se a produção; p. ex., com a concentração do
capital, com diferente distribuição da população entre cidade e campo etc. Finalmente,

17 Karl Marx, Grundrisse, cit., p. 217.
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