A Bola - 20200811

(PepeLegal) #1

20 A BOLA


Terça-feira
11 de agosto de 2020

Noel Gomes assume algumas dificul-
dades na relação com a autarquia, muito
devido a algumas dívidas do passado.
Perante esta situação, a SAD optou por
estabelecer a base de trabalho do Fátima
no distrito de Lisboa. «Reconhecemos
que as condições não eram as mais sau-
dáveis para trabalhar e por isso mudámos
a nossa base de trabalho para fora da ci-
dade. Estamos em contacto com alguns

Base de trabalho vai ser em Lisboa


campos, mas ainda não existe nada con-
creto. Vai ser um balão de oxigénio para
construir novas pontes para um regres-
so mais harmonizado. Além disso, mui-
tos dos jogadores são de Lisboa, o que vai
evitar alguns custos no orçamento, como
a habitação dos atletas. Tudo isto pode ser
benéfico», explica, deixando uma garan-
tia: «Não vamos deixar de jogar em Fá-
Clube não vai deixar de jogar em Fátima tima, essa é condição primordial.»

MIGUEL NUNES/ASF

FÁTIMA jENTREVISTA


Futebol


Líder da SAD do Fáti-
ma desde setembro

de 2019, Noel Gomes assume


que o início não foi fácil, mas


deixa a garantia de que as di-


ficuldades estão a ser ultra-


passadas. O empresário do


Grupo Lleon revela ainda a es-


tratégia para aquilo que diz ser


um projeto ambicioso mas hu-


milde para o emblema do


Campeonato de Portugal.


«Estamos


a lutar


para


criar


um


projeto


vencedor»


C

OMEÇANDO pelo início,
perceber de onde surgiu o
interesse do Grupo Lleon
em investir num clube do
futebol e porquê o Fátima?
— O Grupo Lleon está ligado prin-
cipalmente a outras áreas [indústria
alimentar, trading e tecnologia], mas
há três anos entrámos no mundo do
futebol através de um contacto com
um sócio chinês que pretendia inves-
tir na formação. Acabámos por aju-
dar na conexão do Benfica com a
China e a expansão da marca. Foi
então que sentimos necessidade de
nós próprios entrarmos mais a fun-
do na indústria do futebol. Estáva-
mos à procura de um clube para ter-
ceiros quando se nos deparou o
Fátima, que achámos um clube ade-
quado e com boa base de trabalho.
Tem uma marca internacional e um
turismo religioso muito forte que in-
teressa aos nossos parceiros.


— Apesar de todo esse potencial,
o início acabou por não ser fácil?
— Sabíamos que existiam difi-
culdades, caso contrário não nos
abriam a porta, mas foi um início
algo atípico. Entrámos a poucos dias
do início do campeonato sem equi-
pa e levámos com uma situação de
passivo com credores. Não era uma
coisa que se ia estalar os dedos e
acontece. As pessoas olham para os
investidores como um banco, mas
somos uma entidade privada que
entrou para fazer negócio e rentabi-
lizar. Depois, derivado à nossa falta
de experiência, acabámos por não
travar um orçamento que estava sub-
dimensionado para o clube e que era
surreal [um milhão de euros para jo-
gadores e equipa técnica]. Tínhamos
atletas a ganhar 2200 euros no Cam-
peonato de Portugal e num Fátima
em debilidades... Tivemos que sanear
essa situação e redimensionar o or-
çamento da equipa.


Entrevista de
BRUNO HENRIQUES

— É esse um dos motivos que jus-
tifica a saída de vários jogadores du-
rante o mês de janeiro?
— Tínhamos um orçamento exces-
sivo e não podíamos andar assim, ti-
vemos de o resolver, reajustar e ter
uma equipa nivelada.

— Muitos deles alegaram salários
em atraso nessa altura. É uma si-
tuação que já foi resolvida?
— Chegámos já a um acordo com
eles, com a intermediação do Sindi-
cato dos Jogadores. Os primeiros pa-

Depois de um primeiro ano complicado à frente da SAD do Fátima, Noel Gomes olha com ambição para o futuro do clube

gamentos foram feitos e repusemos na
totalidade o valor com que o Sindi-
cato ajudou o Fátima durante a épo-
ca. Eram pressupostos importantes
para a inscrição da equipa.

— E entretanto o clube acaba por
também decretar falência...
— Quando aparece a pandemia,
o nosso objetivo foi trabalhar o Pro-
cesso Especial de Revitalização (PER),
que ajudou a estancar. Entretanto
temos vários processos pendentes
com entidades, coisas do passado, e

nuns fomos tendo sucesso, noutros
não. Por isso, foi decretada a insol-
vência. Foi então que nos questioná-
mos quanto ao que queríamos fazer
com isto: deixar as coisas caírem ou
organizar o que havia para organi-
zar no passado e no futuro fazer algo
dimensionado em que já saibamos
tudo. Foi assim que surgiu projeto
de recuperação e de futuro para os
próximos 10 anos (2020-2030). Ten-
támos viabilizar financeiramente o
projeto que nós construímos e fazer
a melhor gestão dos credores.

MIGUEL NUNES/ASF

j


NOEL GOMES


— Qual é o futuro deste Fátima?
— Eu entro em projetos para ven-
cer, gosto de estar em projetos de re-
ferência, mas o sucesso não depende
só de nós. Existem vários fatores que
podem limitar o projeto. Nós esta-
mos conscientes das nossas limitações
e vamos construir a nossa equipa para
que tudo corra bem, mas também
precisamos de ajuda do outro lado,
caso contrário, se as pontes não forem
criadas, o Grupo Lleon deixa de ter in-
teresse em estar com o Fátima. Mas
enquanto aqui estivermos vamos lu-
tar por criar um projeto vencedor,
ambicioso, mas sempre muito hu-
mildes e com os pés no chão.

— Que balanço que faz neste pri-
meiro ano à frente do Fátima?
— Foi um ano de aprendizagem.
Dizemos que em negócios não pode
haver tubo de ensaio, mas este teve
de ser. Tivemos muitos imprevistos,
muitas contrariedades que não po-
díamos controlar. Aprendemos com
alguns erros e precipitações, mas
isto também nos enriqueceu. Ago-
ra temos uma visão mais clara para
um clube do Campeonato do Portu-
gal que tem aspirações de crescer.

NOEL
GOMES
Presidente
da SAD do Fátima

Não podemos forçar
o adepto a ir ao estádio. Se há
coisa que aprendi no futebol
é que a aproximação é feita
com resultados e vai acabar
por surgir se melhorarmos
a performance desportiva

Ligação à cidade


Ideias de...


Os jovens são os ativos
de uma SAD e é com eles que
se obtêm receitas. Por isso
vamos fazer uma grande
aposta na formação, tudo isto
em consonância com o plano
do nosso treinador

Aposta na formação


É uma pessoa-chave
no projeto e um argumento
que todos gostariam de ter.
Além de ser muito experiente
naquilo que faz, já deixou uma
marca na indústria do futebol
e isso é muito importante

Mozer

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