A Bola - 20200811

A BOLA

Terça-feira
11 de agosto de 2020

TURQUIA jENTREVISTA 25

Futebol internacional

Terminou contrato

com o Goztepe e pode

assinar a custo zero pelo pró-

ximo clube. O guarda-redes,

38 anos, não esconde o de-

sejo de voltar ao Sporting. O

futuro é, para já, incerto, mas

há vontade de regressar a Por-

tugal. Pelo futebol e pela famí-

lia. E ainda a Seleção e a pan-

demia na Turquia, que se

atrasou a tomar medidas.

«Sporting é o clube que amo»

C

OMO lidou a Turquia com
a pandemia da Covid-19?
Tanto no dia a dia do país
como no que diz respei-
to ao futebol.
— Em relação ao que aconteceu
no campeonato turco, houve um
atraso, quase de duas semanas,
em relação aos outros campeo-
natos, nas decisões. Os capitães
das equipas fizeram uma exposi-
ção à Federação Turca de Fute-
bol, a pedir que se interrompes-
se o campeonato. O risco que nós
estávamos a correr era muito
grande, com as viagens, os aero-
portos e os hotéis... Acabámos por
fazer uma exposição à Federação,
que foi aceite, e o campeonato
parou. Quanto ao confinamento
no país, foi um pouco intermi-
tente. Ora fechavam tudo, super-
mercados, farmácias e restauran-
tes inclusive, como depois
voltavam a abrir três ou quatro
dias depois. Obviamente que não
foi fácil, principalmente para os
estrangeiros, que ficaram retidos
no país, devido ao encerramento
dos aeroportos.

— Não teve, por isso, oportuni-
dade de passar o confinamento em
Portugal, ao contrário de alguns
colegas seus de outros países...
— Precisamente, acabei por fi-
car retido na Turquia, com a mi-
nha mulher e a minha filha. Não
tive oportunidade de regressar a
Portugal e de estar perto da minha
mãe e do meu outro filho. As con-
dições assim o exigiram com mui-
ta pena minha.

Entrevista de

FRANCISCO COELHO RODRIGUES

— Como classifica a experiên-

cia de três anos na Turquia?

— Individualmente, foi muito

boa para mim, mais uma experiên-

cia. Era um projeto muito interes-

sante, quando cheguei ao Goztepe.

Uma equipa com um novo estádio

e a querer lutar por objetivos euro-

peus. A nível pessoal, foram três

épocas fantásticas. Coletivamente,

as coisas não correram bem. Que-

ríamos lutar pela Europa e acabá-

mos quase a lutar para não descer,

foi mais complicado do que aqui-

lo que tínhamos previsto. Mas re-

tiro coisas muito positivas desta

experiência na Turquia. Foi um de-

safio superado.

— Defendeu sete penáltis em 16

na Liga, o que é o melhor registo

dos últimos três anos. Já se consi-

dera um especialista?

— Não sei se sou especialista...

Gosto mais de me autocriticar do

Beto com a camisola do Goztepe, que vai deixar de vestir após três temporadas — e se o futuro passar por Alvalade, tanto melhor...

que de me autoelogiar. Mas a verda-

de é que tenho uma estatística mui-

to alta de penáltis defendidos du-

rante toda a minha carreira. Mas isso

deve-se ao trabalho, ao estudo que

faço dos adversários. E, claro, aca-

bo por ser abençoado naquele últi-

mo instante.

— Terminou contrato com o

Goztepe. O futuro passa por Portu-

gal ou por nova aventura no estran-

geiro?

— O futuro, neste momento, ain-

da é incerto. Obviamente que tenho

ofertas, muitas da Turquia. Pensei

também em voltar ao meu país, por

questões familiares. Já não caminho

para novo... Tenho que pensar mui-

to bem na decisão que vou tomar

este ano. Mas tenho dois ouvidos

para ouvir e uma boca para falar. É

nessa fase que estou, de pensar e

analisar as propostas. Quero que

seja um passo importante na minha

carreira e, ao mesmo tempo, bom

para a minha família.

— Vê com bons olhos regressar ao

Sporting? Há notícias segundo as

quais os leões estão à procura de um

guarda-redes...

— Não escondo a paixão e a von-

tade que tenho de representar o meu

clube. Obviamente que sou um pro-

fissional de futebol, estou aberto

para ouvir o que aparecer e decidir

o que for melhor para mim. O Spor-

ting é um clube que eu amo e que

gostaria imenso de voltar a represen-

tar. Mas, primeiro, tem que haver in-

teresse do clube e só depois a deci-

são do jogador.

— O Luís Maximiano é jovem (21

anos), mas já é titular. A experiên-

cia do Beto seria um bom comple-

mento para o plantel? Fariam uma

boa dupla de guarda-redes?

— Vendo as coisas por esse pris-

ma... Para qualquer clube e para qual-

quer jovem guarda-redes, ter por

perto alguém com a experiência e a

bagagem que eu tenho, é positivo. A

maneira como lido com a concorrên-

cia, porque, além de eu ser mais ex-

periente, seria também um concor-

rente, valoriza o clube e torna o

plantel mais forte. E posso também

ajudar, aconselhar e orientar. Che-

guei a uma altura na minha carrei-

GOZTEPE

j

BETO

ra em que devo transmitir todo o

meu conhecimento aos guarda-re-

des mais novos.

— Como vê os novos jovens va-

lores das balizas, Luís Maximiano e

Diogo Costa do FC Porto? São bons

valores para o futebol nacional?

— Não só esses dois. Neste mo-

mento, Portugal terá cinco ou seis

guarda-redes jovens com excelen-

tes perspetivas futuras. Acho que

a Seleção Nacional é quem mais

agradece por ter esta geração de

excelentes guardiões. São guarda-

-redes que têm que jogar, ter exi-

gência e competitividade. Só assim

podem crescer e estar preparados

para o futebol ao mais alto nível.

Relativamente ao Max e ao Diogo

Costa, são excelentes guarda-re-

des, são o futuro, não só dos clu-

bes, mas também da Seleção. Têm

talento e qualidade, muita mar-

gem de progressão.

— Portugal saiu prejudicado com

o adiamento do Europeu? A Sele-

ção Nacional estava em bom plano?

— Portugal está sempre prepa-

rado para encarar qualquer compe-

tição, seja em que ano for. A Fede-

ração Portuguesa de Futebol e a

equipa técnica, comandada por Fer-

nando Santos, têm um vasto leque

de opções e soluções. Quer seja um

ano mais cedo, ou um ano mais tar-

de. Temos uma Seleção que prima

pela irreverência dos jogadores mais

jovens e pela experiência dos mais

velhos. É uma equipa com capaci-

dade para discutir um Campeonato

da Europa, seja em 2020, seja em

2021. Temos uma das melhores Se-
      leções que existem, é um orgulho.

— Somos favoritos a conquistar o

Europeu? Ou, como diria Fernando

Santos, somos candidatos?

— Portugal é, e será sempre, um

candidato. Vamos deixar o favoritis-

mo de lado, vamos assumir a posi-

ção de candidatos à conquista do

Europeu. Esse é o nosso lema.

— Desde 2009 que só falhou cha-

madas à Seleção devido a lesões. Va-

mos ver o Beto no Europeu?

— Vou fazer tudo o que estiver ao

meu alcance para isso. Quero estar

bem, fisicamente e psicologicamen-

te, estar a jogar e a ter rendimento.

Quero ser uma opção válida para o

mister Fernando Santos. A decisão,

depois, será do selecionador.

— Se falarmos novamente daqui

a um ano, ainda seremos campeões

europeus?

— Oxalá que sim! Deus queira!

Cheguei a uma altura

em que devo transmitir

o meu conhecimento

aos mais novos

Tenho estatística alta

de penáltis defendidos.

Deve-se ao trabalho e

estudo dos adversários