Exame Informática - Portugal - Edição 303 (2020-09)

(Antfer) #1
6868

O primeiro objeto a ser
capturada será uma
parte de um foguetão
Vega , lançado em 2013

N


a Terra enfrentamos o problema
das emissões de dióxido de car-
bono e dos plásticos no oceano.
No espaço, a grande ameaça é o lixo.
Restos de lançadores, satélites obsoletos,
peças soltas que viajam à volta da Terra
a uma velocidade estonteante. Estima-
-se que haja cem milhões de detritos
largados lá em cima, rasto de 60 anos
de exploração espacial focada em fazer
lançamento bem sucedidos mas sem ter
em conta o fim de vida dos objetos.
À medida que o espaço se vai tornan-
do num lugar cada vez mais comum,
com os privados a entrarem no setor e a
ambição a crescer para outros planetas,
como Marte, tornou-se muito evidente
que o pós-missão tem de fazer parte
do projeto. Porque o espaço não é in-
finito, o perigo de colisão é real e cada
vez mais provável – apesar de haver
um esforço internacional de catalogar
e rastrear todos os destroços com mais
de dez centímetros de diâmetro numa

Missão da Agência Espacial Europeia, com lançamento previsto para
2025, irá recolher as sobras de um foguetão, girar em órbita da Terra.
Este será o primeiro passo de uma nova fase da exploração espacial
que se quer mais limpa e segura. Portugal faz parte do consórcio

ARRUMAR A CASA...


NO ESPAÇO


gente do que nunca. Hoje temos cerca
de dois mil satélites operacionais no
espaço e mais de três mil desativados.
E nos próximos anos este número vai
aumentar uma ordem de magnitude,
com múltiplas mega-constelações com-
postas por centenas ou mesmo milhares
de satélites, planeados para baixa órbita
terrestre, para grande cobertura, teleco-
municações de baixa latência e serviços
de monitorização. É clara a necessidade
de um ‘rebocador’ para remover os sa-
télites obsoletos desta região de grande
movimento”, antecipou.
É como se todos os barcos naufragados
ao longo dos tempos se mantivessem à
tona, comparou o Diretor-Geral da ESA
Jan Woerner. “É esta a situação atual em
órbita e não podemos permitir que assim
continue. Os estados-membro da ESA
deram o seu forte apoio a esta nova mis-
são, que também aponta o caminho para
novos serviços comerciais essenciais no
futuro”, acrescentou o dirigente. Mesmo

órbita terrestre baixa e de 30 centímetro
a um metro de diâmetro em altitude
geo-estacionárias – e também porque
este lixo espacial ocupa lugar na órbita,
que desta forma não poderá ser ocupado
por satélites operacionais.
A Agência Espacial Europeia (ESA) está
a levar muito a sério a sustentabilidade
no setor e tornou prioritária a missão de
remover detritos. Aprovada na última
reunião ministerial, em novembro do
ano passado, a Clear Space -1, que será
o primeiro satélite a conseguir capturar
e remover objetos da órbita, já começou
a ser construída e tem lançamento mar-
cado para 2025.
À frente deste projeto ambicioso está a
Escola Politécnica Federal de Lausanne
(EPFL), a partir da start-up ClearSpace
que lidera o consórcio europeu.
“Esta é a altura certa para uma mis-
são deste género”, afirmou ao site da
ESA o CEO da ClearSpace, Luc Piguet.
“A questão do lixo espacial é mais ur-
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