A BOLA
Quarta-feira
9 de setembro de 2020
BENFICA 15
Futebol
— (...)
— Há outro aspeto importante,
que não queria deixar de fora, que
é o desporto feminino. Já há países,
como nos EUA, onde o desporto fe-
minino é uma atividade económi-
ca com peso já bastante significa-
tivo. Não posso esquecer as
modalidades: o Benfica tem de ser
o clube a fornecer mais jogadores
para as seleções nacionais e lutar
em todas as modalidades em que
está para ganhar, isso é crucial, tal
como é o projeto olímpico. E tam-
bém não posso esquecer as casas
do Benfica, um instrumento ex-
traordinário de promoção da mar-
ca que podem ser muito potencia-
das em Portugal e no estrangeiro.
«SÓ PROMETEMOS
TRABALHO»
— Quem são os elementos que
integram este movimento?
— Quem está a coordenar sou
eu e o Manuel de Brito, filho do ex-
-presidente Jorge de Brito. Depois
juntou-se o António Figueiredo,
que já esteve no Benfica; a Paula
Pinho, que foi a primeira mulher a
presidir uma AG do Benfica; o Car-
los Nogueira, antigo presidente da
CP e gestor do grupo Amorim; o
Graça Bau, que foi presidente da TV
Cabo; o Eduardo Stock da Cunha,
presidente de um grande banco no
estrangeiro; o António Viana Ba-
tista, que foi presidente da Telefó-
nica Internacional, a segunda maior
empresa a nível de telecomunica-
ções; o Armando Jorge Carneiro, o
homem que montou a estrutura de
scouting no Seixal. Temos também
o José Francisco Gandarês, dono da
SAD do União de Santarém; a Car-
la Cruz, diretora de marketing do
CTT... estes foram alguns do grupo
inicial. Nesta primeira fase temos
connosco gente mais ligada à ges-
tão, desde a gestão desportiva, à
gestão das redes sociais, gestão de
empresas. Apresentamos os nomes
de 50 pessoas, mas temos muitas
mais, e todos os dias recebemos pe-
didos de adesão. Se um dia enten-
dermos ir a eleições, iremos. Quem
aderiu fê-lo sem promessa algu-
ma, estamos divididos em 12 gru-
pos de trabalho abrangendo temas
tão diversos como o futebol, as mo-
dalidades, as claques, o complian-
ce e o governance, marketing, re-
gras e boas práticas de gestão, parte
jurídica, e cada grupo vai produzin-
do conteúdos que são depois de-
batidos e compilados e estamos
prontos para quando alguém quiser
vir ter connosco, discutimos e es-
tarão à disposição de toda a gente.
E gostávamos que a direção que sair
das próximas eleições adotasse al-
gumas destas medidas.
— Pode dizer-se que serão uma
espécie de governo sombra?
— Não iria por aí, o que digo é
que este é um grupo onde não se
promete nada às pessoas além de
trabalho. E mesmo assim não para
de crescer.
— Não indo a eleições ponde-
ram apoiar alguém?
— Em relação a isso só iremos
pronunciar-nos depois de conhe-
cermos todas as candidaturas e os
respetivos programas. Até agora só
conhecemos os programas do se-
nhor Benítez e do dr. Rui Gomes da
Silva, além de que ninguém ainda
avançou com a constituição das lis-
tas. Depois podemos tomar uma
posição... que não quer dizer que
seja de apoio, até podemos não
apoiar ninguém.
— Dizia que só circunstâncias
muito especiais é que o fariam ain-
da avançar para uma candidatura.
Que circunstâncias são essas?
— Têm surgido uma série de pro-
cessos judiciais envolvendo o nome
do Benfica e isso deixou-nos preo-
cupados. O certo é que até agora o
Benfica tem ganho os processos to-
dos, até já ganhou um na Relação.
Ou seja, nada justifica para já que se
tomem medidas tendentes a avan-
çar, até porque, entretanto, têm
aparecido diversas candidaturas,
todas de bons benfiquistas, e para
nós isso no curto prazo está resol-
vido. Mas acredito que em próximas
eleições saia deste grupo uma lista
eleitoral.
— Esses processos judiciais, ain-
da assim, têm levado ao desgaste
da atual direção junto dos sócios. Vê
Luís Filipe Vieira em condições de
ser reeleito?
— Vamos ver... Num estado de
direito até a pessoa ser condenada
é inocente. A presunção de inocên-
cia é um dos pilares do estado de di-
reito, quem sou eu para julgar isso.
Posso é julgá-las no plano ético.
Mas é verdade que estamos muito
preocupados com estas questões e
queremos que o Benfica seja geri-
do com a máxima transparência e
que adote em tudo o que faz as me-
lhores práticas de gestão. Temos
connosco o presidente do Institu-
to Português de Corporate Gover-
nance, o Prof. Gomes Mota, e pro-
pomos a criação de uma direção de
compliance que reporte não ao pre-
sidente da Direção mas ao Conse-
lho Fiscal. É um órgão que obrigue
o Benfica a evitar conflitos, não tan-
to legais, mas sobretudo conflitos
éticos. Não é admissível ter nas di-
reções pessoas com conflitos de in-
teresses, um membro da Direção
que preste serviços para outro, algo
do género não deve acontecer nos
clubes... mas sabemos que aconte-
ce: Conhecemos bem o caso do fi-
lho de um presidente que vende jo-
gadores ao próprio clube [nd.r.
Alexandre Pinto da Costa]. É pre-
ciso haver decoro. Normalmente
confia-se no bom senso das pessoas,
mas se não há bom senso tem de ha-
ver estatutos que impeçam que isso
aconteça.
BOAS PRÁTICAS
DE GESTÃO
-(...)
— Ainda sobre a questão dos
processos, é evidente que todos
eles causam imensa mossa à mar-
ca Benfica. Mas há que saber dis-
tinguir entre o que são processos
mesmo e os que são porque surgi-
ram de queixas anónimas da fon-
te que toda a gente sabe e que de-
pois em nada resultam. Mas tudo
isso constrange a Direção e os só-
cios estão cansados de ver isso nos
media porque facilmente se con-
funde suspeita com culpa. É por
isso que propomos a implemen-
tação da regra anti conflitos de in-
teresses optando-se por um ca-
minho claro de transparência
porque estamos cansados dos jul-
gamentos populares nos media. A
culpa não é dos media, apenas no-
ticiam, quem lê é que formaliza
uma sentença. Mas há que acredi-
tar primeiro na justiça. Não estou,
com isto, a atacar ninguém: man-
tenho uma boa relação com o se-
nhor Luís Filipe Vieira, tenho uma
relação de amizade pessoal com o
Rui Gomes da Silva e eles agora
não se dão. E também tenho ami-
zades de dezenas de anos de pes-
soas que estão como apoiantes do
Dr. Noronha e até na lista do senhor
Benítez tenho uma pessoa amiga.
— Têm existido conversas com a
atual direção sobre estas ideias?
— A atual direção vai receber, tal
como as outras candidaturas, o
nosso manifesto. E depois espe-
ramos que alguém analise e diga al-
guma coisa. O que nos interessa é
que entendam que alguém que não
está preocupado em ir a eleições se
interessa com o futuro do clube e
em organizar o Benfica de forma
mais profissional, mais transpa-
rente, em reforçar o controlo dos
sócios sobre o imobiliário do clu-
be, em dar maior transparência
aos atos eleitorais... embora nesse
aspeto, do nosso ponto de vista
isso esteja já assegurado... Propo-
mos uma série de alterações esta-
tutárias e reforço da fiscalização,
auditoria externa permanente... A
ideia é reforçar o controlo e exigir
comportamentos transparentes. E
isto não implica qualquer crítica a
quem está ou esteve no passado
ou quem vai entrar. Mas essa tem
de ser a regra porque o mundo à
volta mudou e é importante que o
Benfica se integre nesse mundo e
seja um exemplo de boas práticas
desportivas e de gestão. Algo que
é válido para todo o futebol portu-
guês sob pena de, a não acontecer,
definhar cada vez mais.
— Como viu o regresso de Jorge
Jesus e o investimento no plantel?
— Sei que a vinda do Jorge Jesus
dividiu os sócios do Benfica, e até
escrevi que achava que o Jorge Je-
sus devia dar uma palavra de repa-
ração – não de desculpa – aos só-
cios do Benfica, mais pela forma
como ele disse, quando estava no
Sporting, que sabia como se ga-
nhava no Benfica. Quando saiu fi-
cou magoado com o Benfica; o clu-
be ficou magoado com ele por ter
ido para Sporting e quando assim
é dizem-se coisas que não devem
dizer-se. Mas sou daqueles que fi-
quei satisfeito com o regresso do
Jorge Jesus. No nosso grupo temos
de tudo, pessoas não queriam que
voltasse e outras que sim. Falo por
mim, as últimas vezes que vi o Ben-
fica jogar de forma mais consis-
tente foi com o Jorge Jesus. Em seis
anos perdeu três campeonatos, mas
dois deles foram perdidos devido a
algumas experiências que não de-
ram resultado, mas o Benfica joga-
va melhor que os outros. Tenho es-
perança que seja feliz onde já o foi.
— (...)
— Já agora deixe-me fazer refe-
rência a algo que para nós é funda-
mental que é o scouting. Em todas
as modalidades, não apenas no fu-
tebol. O recrutamento de jovens
tem de ser feito não apenas a nível
nacional. O mundo é muito gran-
de e o Benfica tem de ter capacida-
de no scouting para ir aos países
onde é possível recrutar jogadores
para desenvolver talento cá. A nos-
sa fábrica de talento é boa, mas te-
mos de ser dos melhores a detetar
talento também no estrangeiro e
isso só com uma rede de scouting
fortemente profissionalizada. Aqui-
lo que temos penso que é bom, mas
creio que é pouco. O futebol vai
continuar a sua integração na in-
dústria do entretenimento e cada
vez será mais importante o papel
dos artistas. E o Benfica tem de ter
bons artistas. Veja-se o romance
Cavani: do ponto de vista do
marketing seria excelente contra-
tação, do ponto de vista desporti-
vo talvez no curto prazo também o
fosse, mas não daria retorno finan-
ceiro ao nível do investimento. Os
bons artistas custam fortunas, a
única maneira é encontrar os bons
antes dos outros.
LISTA DE SÓCIOS
SUBSCRITORES
NOME SÓCIO
O Benfica tem de olhar
para a hipótese de
adquirir clubes no
estrangeiro
PONTOS ESTRATÉGICOS
1 — Internacionalização
- Principal vetor de crescimento todas as áreas
2 — Crescimento no Digital - Novos Operadores
(Amazon, Netflix, Facebook, Google) - Adepto/Sócio Digital
- Gaming
- Crescimento no segmento jovem
(Plataformas: Facebook, Instagram, Twitter,
Youtube, Weibo e Tik Tok) - Novos modelos de monetização e pricing/Novo
paradigma para rentabilização da marca e negócio
3 — Futebol: Novos formatos das competições UEFA - Maior peso das provas internacionais
- Equipa competitiva internacionalmente
Contratação/Retenção de ‘estrelas’ internacionais
4 — Não haverá futebol sem indústria
(Futebol/Entretenimento) - Modelo parcialmente assente na venda
de talento terá peso relevante a médio prazo - Scouting e Academia de grande importância quer
na fase de mudança de paradigma quer no futuro
5 — Aposta forte no desporto feminino - Futebol e modalidades