segundo o qual a linhagem continua sendo a unidade social fundamen·
tal, que atua através do lugarejo, da aldeia, da tribo homogênea ou da
tribo dividida em metades."
Conforme diz com razão o autor destas observações, as metades cali·
fornianas não são pois instituições cristalizadas correspondentes a noções
rigorosamente definidas, mas traduzem antes um principio de grupamen·
to reciproco, segundo dois pólos associados ou opostos, dos mesmos ele-
mentos encontrados nas populações sem metades da mesma região, in·
dlviduo, família, linhagem ou tribo. A preponderãncia da linhagem pa·
trllinear é geral. Quando existem metades, estas apenas intensificam e
estendem os mecanismos de reciprocidade igualmente caracteristicos da
região inteira, sem prejuízo das formas de organização que lhes cor·
respondem por toda parte."
Estes fatos, e ainda outros que teria sido possível acrescentar a eles,
concordam em apresentar a organização dualista menos como uma ins·
tltuição identificável por traços definidos do que como um método apli·
cável à solução de múltiplos problemas. Desta multiplicidade de conteúdo
é que as organizações dualistas tiram sua aparente heterogeneidade. Mas
seria um engano confundir a diversidade do fundo com a forma, sim·
pies e constante, que lhe é imposta. Pode-se, ao contrário, reconhecer
a extrema generalidade desta última, sem cair nestas duas armadilhas
das concepções puramente históricas, a história geral e o estudo mo-
nográfico.
Mesmo em sociedades nas quais o clã (no sentido definido acima)
representa a forma de organização predominante, vemos aparecerem es·
boços de classes quando o sistema normal não fornece uma solução já
pronta para prOblemas imprevistos. Poucas populações parecem tão afas·
tadas da organização dualista quando os Ifugao das ilhas Filipinas, que
proíbem o casamento entre primos coirmãos e não o autorizam senão
excepcionalmente entre primos de segundo e terceiro grau. Mesmo assim,
neste último caso, é preciso celebrar o rito espeCial que começa por
um combate simulado. A família do noivo ia armada à aldeia da noiva,
ou esperava, igualmente armada, a família desta última. Os dois grupos
entabulavam então uma desavença, mais ou menos nos termos que Bar·
ton pôde reconstituir:
Grupo do noivo. - Viemos buscar aquilo que vocês nos devem.
Grupo da noiva. - Que divida? Não lhe devemos nada. Só tomamos
de empréstimo a nossos par.entes!
Grupo do noivo. - Vocês o perderam? Vocês o esqueceram?
Grupo da noiva. - Certamente, está perdido porque nada tomamos
emprestado. Acabem com suas insolências, vão embora e voltem para
suas casas!
Grupo do noivo. - O quê? Querem uma briga? Pois bem, combatamos!
Começava então um combate simulado, mas com armas verdadeiras,
e embora não fossem nunca dirigidas contra tal ou qual individuo era
- Ibid., p. 420-424.
- Ibld., p. 425.
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