filhas de seus filhos não-casadas Suas mulheres e as mulheres de seus
filhos, embora participando da existência da horda, provêm, na realidade,
de uma horda vizinha, por motivo da lei de exogamia, e continuam a
pertencer ao grupo de seu pai e seus irmãos A horda pode assim ser
definida como um grupo patrilinear, explorando um certo território sobre
o qual possui direitos exclusivos Não existe nenhuma unidade política
que se superponha à horda. A tribo é definida de maneira puramente
lingüística e inclui todas as hordas que falam aproximadamente o mes-
mo dialeto, mas sua realidade não vai além da consciência de uma co-
munidade de linguagem. Não possui organização política nem direitos
territoriais. Se é possível falar realmente de um território tribal, é so-
mente na medida em que "o território tribal é o total dos territórios
das hordas constituintes".'
Assim, a base da sociedade australiana seria territorial e patrilinear
Neste sentido, a srta. Pink pôde falar dos Aranda do norte como sendo
"proprietários de terras, entre os quais o "patrimônio totêmico ances-
tral" e a linhagem patrilinear pela qual se transmite ao mesmo tempo
que o ritual; desempenham um papel capital na vida coletiva e na vida
individual: l/Não une somente as famílias, dando a esta palavra o sen-
tido mais limitado, mas também o clã inteiro".' É para~a análise das
relações de reciprocidade entre diferentes clãs totêmicos que devemos
nos voltar, para responder às objeções formuladas por Tbomson, que
afirmava a prioridade do clã sobre a horda. Esta, disse ele, compõe-se
de todos os membros masculinos do clã. É preciSO acrescentar suas
mulheres, que são membros da horda mas não do clã, e subtrair as fi-
lhas e irmãs casadas, que são membros do clã mas abandonaram a
horda. "É claro, por conseguinte, que embora a horda seja o grupo que
faz a guerra, é o clã, e não a horda, o grupo proprietário. Um clã é
uma unidade estrutural estável e permanente, mas a horda é instável,
sendo uma entidade sociológica cuja composição varia sem cessar". 8
Opõe-se assim a solidariedade do clã, fundada sobre a filiação, o culto
totêmico e o território, à solidariedade da horda, fundada sobre o ca-
samento, a família, a divisão sexual do trabalho e a guerra. Realmente,
a importância da relação chamada kutunula entre os Aranda do norte,
entre um homem e o filho da irmã de seu pai, mostra bem que não
há antagonismo entre os dois tipos de organização.
A questão não consiste tanto em saber se são membros da horda
ou do clã que devem ser considerados como o verdadeiro grupo proprie-
tário, mas antes em saber se é o grupo patrilinear - horda ou clã -
que forma a base da organização social. Todos os observadores con-
temporâneos estão de acordo em comprovar a presença e a ação de duas
dicotomias. a patrilinear e a matrilinear. nas sociedades australianas.
Radcliffe-Brown exprime-se a este respeito de maneira igual à de Law-
rence, mas divergem de opinião sobre a questão da prioridade. Lawrence
propôs uma seqüência hipotética: clãs totêmicos matrilineares sem me-
- A. R. Radcliffe Brown, op. cit., p. 36.
- O. Pink, The Landowners in the Northern Dlvision of the Aranda tribe, Central
Australia. Oceania, vaI. 6, 1935·1936, p. 303. - D. F. Thomson. The Joking Relationship and Organized Obscenity in North
Queensland, American Anthropologist, vol. 37, 1935, p. 462·463, n. 4.
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