mente uma metade da superfície terrestre, juntam-se dois hemisférios
que se fundem no ponto de junção, um deles representando o mundo
oriental e o outro o mundo ocidental. A parte situada mais a oeste de
um hemisfério e a parte mais a leste do outro, que na realidade coin-
cidem, são representadas com o máximo afastamento.
Para remediar esta dificuldade, faz·se às vezes intervir um artifício
suplementar. A fim de que a continuidade entre as regiões representadas
na extremidade direita do mapa e as representadas na extremidade es-
querda fique perfeitamente clara, repete-se à direita uma parte dos ter-
ritórios representados à esquerda, e inversamente. Os países que ocupam
o meio do mapa são portanto figurados uma única vez, mas os que
ficam nos lados aparecem duas vezes, a saber, uma vez "de verdade",
e uma outra vez "para lembrar". Acreditamos que um artificio análogo
explica o excepcional desenvolvimento do sistema de parentesco Murngin.
Não queremos dizer que os indígenas tenham efetuado este desdobra-
mento de modo consciente e voluntário, pois a complicação resultante
é demasiado grande e demasiado inútil para que nos detenhamos nesta
hipótese. O desdobramento explica·se mais pela dificuldade lógica em
que os indivíduos se encontraram, depois da introdução das metades
matrilineares, de conceber o sistema simultaneamente sob a forma de
troca restrita e sob a forma de troca generalizada. Tudo se passou co-
mo se o espírito indígena tivesse procurado em vão figurar simultanea-
mente uma mesma estrutura no espaço a três dimensões e no plano, e
imaginá-la na dupla perspectiva da continuidade e da alternância. Que
se produziu então?
Representemos as secções do sistema de troca generalizada no equa-
dor de uma esfera (Figura 331.
..-: p -....
~;J
figura 33
Partindo de R é evidentemente possível voltar a S por duas dire·
ções. Mas estas duas direções não são equivalentes para o sujeito. Por-
que seguindo o itinerário S - P - Q - R, caminha, se é possivel di·
zer, no sentido da rotação do sistema. Está constantemente voltado para
a direção que deve ter adotado na procura de uma esposa. Ao con-
trário, seguindo o itinerário Q - P - S - R, o indivíduo caminha em
sentido contrário. É obrigado a voltar-se e virar·se para a direção na
qual não ele mas sua irmã se dirigiu para encontrar um cõnjuge. Ao
procurar representar no plano esta estrutura orientada no espaço, o
pensamento indígena, portanto, naturalmente desdobrou, à direita e à
esquerda. do sujeito, estes dois itinerários, que se revestem de signifi·
cações tão diferentes. Partindo da secção do sujeito, R, ele percorreu para
a direita a curva S - P - Q, obtida seguindo o sentido prescrito pelo
sistema, e à esquerda a curva Q - P - S, que corresponde ao sentido
proibido. O ciclo patrilinear do sujeito (CI-BI para o Ego da secção R)
é pois representado uma única vez, ao passo que os três outros ciclos
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