vimos, dos Murimbata. Por outro lado, a distribuição periférica de to-
dos os regimes harmônicos que possuem, ou provavelmente possuíram.
fórmulas de troca generalizada' '", sugere fortemente que os sistemas uni-
laterais são mais arcaicos que os sistemas bilaterais. Seria possível, por~
tanto, supor, contrariamente ao que Elkin" acredita, que os próprios
sistemas bilaterais são produtos de uma evolução que se origina de sis-
temas unilaterais.
São os especialistas na Austrália que deverão elucidar este problema.
A primeira etapa parece ser localizar exatamente todos os sistemas atual
ou primitivamente unilaterais. Tem havido até agora a tendência a in-
terpretar preferencialmente os sistemas duvidosos como bilaterais, e isto
por várias razões. Primeiramente, a constituição da tipologia australia-
na com base nos tipos I e Ir de Radcliffe-Brown, que são bilaterais. Em
seguida, porque toda nomenclatura com gerações alternadas foi consi-
derada em conjunto como prova de bilateralidade. Esperamos ter esta-
belecido que a alternância das gerações resulta tanto de um sistema de
casamento patrilateral quanto da dupla dicotomia patrilinear e matri-
linear, e não duvidamos que a revisão atenta dos fenômenos de alter-
nância das gerações conduzirá a reconhecer J em grande número delas,
funções imediatas do casamento patrilinear. Como, por outro lado, os sis-
temas matrilaterais e patrilaterais opõem-se, pelo uso de uma nomencla-
tura. em um caso alternativo e em outro consecutivo, vemos aí um pre-
cioso meio de pesquisa para chegar a uma classificação preliminar. A
existência da nomenclatura consecutiva entre os Yaralde e os Ungarinyin n
e seus vestígios entre os Dieri, e da nomenclatura alternativa entre os
Macumba e os Aluridja pode ser a este respeito rica de ensinamentos.
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É provável que os regimes harmônicos com sistema unilateral venham
a ter na tipologia australiana um lugar crescente_ A autonomia do sis-
tema Kariera não poderia ser posta em dúvida, mas é licito perguntar,
tendo por base a freqüente observação de Radcliffe-Brown de que este
sistema manifesta marcada preferência pelo casamento matrilateral, se
não houve certa precipitação em incluir na mesma rubrica formas uni-
laterais adjacentes. "Minha descoberta do sistema Kariera em 1911, de-
clara Radcliffe-Brown, resultou de uma pesquisa empreendida com base
numa suposição feita antes de visitar a Austrália - mas depois de mi-
nucioso estudo dos fatos australianos em 1909 - segundo a qual este
sistema poderia realmente existir, sendo a Austrália Ocidental o lugar
conveniente onde ir procurá-lo"." O fato do êxito ter coroado a ousaãa
hipótese do grande sociólogo inglês pode legitimamente encorajar todos
quantos acreditam que uma lógica interna dirige o trabalho inconsciente
do espírito humano, mesmo nas criações por muito tempo consideradas
- Os tipos periféricos sem metades nem secções são: os narrinyeris. os kurnais.
os yuins, os insulares de Melville, os bardes da Terra de Dampier, os mandas da
Costa ocidental (D. S. Davidson. The Chronologial Aspect oI Certain Australian Social
Institutions as Interred trom Geographical Distribution; The Geographical Distribution
Theory and Australian Social Culture. American Antropologist, vol. 39, 1937). - A. P. Elkin, Kinship in South Australia, Oceania, vol. 10, p. 379-383, e parti-
cularmente a nota 129, p. 382. - [Contestado por Needham (op. cit., p. 285, n. 33); mas não faço mais do
que parafrasear Elkin, "Kinship in South Australia", p. 384: "The kinship system has
in terminology a vertical form such as is fuIly developed in the Ungarinyin tribe.
North-west Australia"]. - A. R. Radcliffe Brown, The Social Organi;mtion ... , p. 46, n. 4.
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