cujas relações são por ele definidas, classes, linhagens, graus. No outro
caso, é preciso abstrair o modelo partindo de fatores significativos, dis-
simulados por trás das distribuições na aparência regidas pelo jogo das
probabilidades.
Esta procura de uma estrutura significativa das trocas matrimoniais
sobre as quais a sociedade considerada nada diz, quer diretamente por
intermédio de regras, quer indiretamente graças às inferências que é pos-
slvel tirar da terminologia do parentesco ou por qualquer outro meio, é
posslvel quando se trata de um grupo pouco numeroso e relativamente
fechado. Faz-se então as genealogias falarem. Mas, quando crescem a di-
mensão e a fluidez do grupo e até seus limites se tomam imprecisos,
o problema complica-se singularmente. O grupo continua a dizer o que
não faz, ao menos em nome somente da proibição do incesto. Mas como
saber se, sem perceber, faz alguma coisa a mais (ou a menos) do que
seria o caso se seus membros escolhessem o cõnjuge em função de
sua história pessoal, ambições e gostos? É nestes termos, segundo me
parece, que se levanta o problema da passagem das estruturas elemen-
tares às estruturas complexas, ou, se preferirmos, da extensão da teoria
etnológica do parentesco às sociedades contemporâneas.
Na ocasião em que escrevia meu livro o método a seguir parecia-
me simples. Dever-se-ia decidir primeiramente reduzir as sociedades con·
temporâneas aos casos privilegiados do ponto de vista da pesquisa, que
constituem os isolados demográficos com forte coeficiente de endogamia,
nos quais é possível esperar obter cadeias genealógicas e redes de aliança
que se entrecruzam várias vezes. Na medida em que uma determinável
proporção de casamentos se produziria entre parentes, seria possível sa·
ber se estes ciclos são orientados ao acaso ou se uma proporção signifi·
cativa depende mais de uma forma que da outra. Por exemplO, os côn-
juges aparentados (freqüentemente sem saberem) são tais em linha pa-
terna ou em linha materna, e, em cada caso, descendem de uma relação
entre primos cruzada ou paralela? Supondo-se que apareça uma orien-
tação, seria possível então classificá-la em um tipo ao lado das estrutu-
ras análogas, porém melhor definidas, que os etnólogos já estudaram nas
pequenas sociedades.
Entretanto, a distância entre sistemas indeterministas, que julgam
ou desejam ser tais, e os sistemas bem determinados que designei com
o nome de estruturas elementares, é demasiado grande para que a apro-
ximação seja decisiva. Felizmente (pelo menos acreditava poder dizê-lo), a
etnografia fornece um tipo intermédio, com sistemas que apenas procla-
mam impedimentos ao casamento, mas estendendo-os tão longe por efeito
das coações inerentes à sua nomenclatura de parentesco, que por motivo
do número relativamente fraco da população, não excedendo em geral
alguns milhares de indivíduos, é possível esperar obter o inverso, a sa-
ber, um sistema de prescrições inconscientes que reprOduziria exatamen-
te, mas em cheio, os contornos do molde oco formado pelo sistema das
proibições conscientes. Se esta operação fosse possível, teríamos à nossa
disposição um método aplicável a casos nos quais a margem de liberda-
de torna-se maior entre o que é proibido fazer e o que se faz, tomando
aleatória a obtenção do positivo de acordo com o negativo, que é o único
a ser dado.
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